segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Falanãodiz

Esta é uma foto de meu antigo posto de trabalho. Abaixo, o tipo de texto que eu produzia. Criei este agora há pouco, em menos de 10 minutos. Ainda não enferrujei. Será que o mundo ainda precisa dos meus serviços?

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A Belle Zebou's é uma empresa de serviços diversos que atende orgulhosamente a comunidade há bem-vividos 25 anos, levando sempre o que existe de melhor neste mercado a seus clientes, respeitando sua inteligência e zelando sempre pelo conforto e satisfação máximos dos mesmos.

Sediada na cidade de São Paulo, terceira maior do mundo e o maior pólo econômico da América Latina, a Belle Zebou's estende por todo o Brasil sua prestigiada rede de escritórios comerciais, oferecendo, do Opiapoque ao Chuí, o mesmo alto padrão de qualidade em todos os seus ramos de atuação.

A recente inauguração de filiais em Buenos Aires, na Argentina, e em Santiago, no Chile, marcam o início de uma nova era de expansão e prosperidade da Belle Zebou's, e indica um prognóstico em que o céu é o limite: os próximos passos são Miami e Vancouver, nos EUA e Canadá, respectivamente.

Com uma preponderante visão de todo holística, valor inegável para uma instituição idônea, que tem na realização lúdico-empreendedora uma garantia de criatividade e qualidade agregadas a seus produtos, sempre com respeito máximo pelo gosto do cliente, a Belle Zebou's lança agora o projeto:

RELIFE

o maior investimento em Responsabilidade Socioambiental já realizado na história.

Com mais de 150 colaboradores trabalhando integralmente para sua existência, o Relife promove o bem-estar e a renovação da vida por meio de alternativas sustentáveis de reaproveitamento e reintegração de recursos/pessoas para a reabilitação de um estilo de vida mais digno, responsável e ecologicamente correto.

Além de preocupar-se constantemente com o planeta, a Belle Zebou's busca utilizar sempre tecnologia de ponta, o que transforma as dependências de todas as filiais da empresa em ambientes micro-customizados, e faz seus frequentadores respirarem inovação e segurança infra-estrutural.

É com grande felicidade que a Belle Zebou's espera recebê-lo (a) brevemente em um de nossos escritórios, que carinhosamente chamamos de casa, na esperança de fazer grandes negócios para gerar e gerir sorrisos em uma constante corrente de prosperidade para nossa sociedade, para esta e, com certeza, as gerações vindouras. Seja bem-vindo (a)!

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Karmacoma - Massive Attack

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Da beleza de desistir

Faça, apareça, queira, possa, aconteça, tenha, seja, vá mais longe, garanta, chegue mais perto, prepare, suba, corra, conquiste, arrisque, vença, supere, atire-se, alcance, ultrapasse, saia, entre, não deixe, ME DEIXE EM PAZ! Sei da falta de originalidade nessa enumeração, e não só não sou o primeiro a usá-la como é a segunda vez que o faço. Me desculpem, caros desleitores, mas eu desisti de criar um primeiro parágrafo ('lead', ou lide, como grunhem chatamente os jornalistas, algo que desisti de ser, também, há algum tempo) que fosse minimamente inovador. Talvez eu pudesse, sim, se eu quisesse alcançar tal objetivo. Mas eu desisti.

Em uma sociedade violentamente positiva, beirando a histeria, com sua auto-extra-over-ajuda mequetrefe, desistir pode significar, talvez, iniciar outro empreendimento (só para ser um pouquinho positivo, vai), mas não necessariamente uma humilhante derrota. É uma honesta alternativa à impositiva tarefa de suceder sempre e em tudo! Quem aguenta ouvir a lista do parágrafo anterior todos os dias? Só ficamos cada vez mais deprimidos por não conseguir agir assim perante a vida, sempre.

Esse bombardeiro de otimismo tem a ver, na minha despretensiosa e parcial análise, com a lógica consumista. Nada genial, eu admito, talvez você já tenha pensado nisso, ou muitos outros... Mas então por que você e eu insistimos em adotar essa "filosofia" horrenda em nosso dia-a-dia? É possível que a lavagem cerebral esteja dando certo. Querer - Poder - Comprar - Esvaziar-se - Desejar - Não Poder - Endividar-se - Desesperar-se - Cobiçar - Forçar-se - Vender-se. Todas as etapas desse ciclo nefasto são entremeadas por mensagens "positivas", disparadas sem pudor em propagandas na televisão, no cinema, no jornal, no metrô, no ônibus, no outdoor (desse estamos, aqui em São Paulo, temporariamente livres, perdão, mas achei ótimo), na internet e sei lá onde mais, visto que, uma vez absorvidos, esses incentivos acabam sendo transmitidos de uma pessoa a outra, muitas vezes de maneira automática, impensada: "Ah, compra sim, amiga, dá pra pagar em 10 vezes no cartão...".

Ora, me deixe desistir, uma vez ou outra, se essa persistência constante e massacrante tanto sofrer me traz! Largue do meu pé! Alguém por acaso já se lembra de, um belo dia, com ou sem a vigilância dos pais, desistir de ir à escola após o toque inoportuno do despertador? Quer coisa melhor que ligar para o trabalho e, naquela falsidade que a gente se acostuma deliciosamente a desenvolver, falar que está doente e não ir? Não ir! Meu deus, como é simples! O poder terapêutico do ato de desistir, aliás, é tremendamente subestimado. Se vocês se lembram de momentos semelhantes aos que acabo de citar, imagine então desistir de encontrar aqueles amigos de namorada de amigos de terceiros que você não quer ver? Muito superficial? Então pense em se "esquecer" de ir... votar..! Sei, ainda está pouco pessoal... Veja, se já te passou pela cabeça que a idéia de escrever um livro é de jerico, NÃO ESCREVA! De que vai te servir prestar o vestibular mais concorrido do hemisfério, você não tem dinheiro para pagar cursinho e mesmo se conseguir passar, por milagre, ainda terá que terminar o curso, e quando o fizer, essa merda de diploma vai enfeitar, amarelembolorado, a parede de uma casa cujo aluguel, bom, você não desistiu de pagar, mas está realmente difícil. NÃO PRESTE! NÃO SE PRESTE!

Desistir é reconfortante. Uma decepção só acontece após uma tentativa, a frustração, a frustração latente de nossos tempos "otimistas". O que nos frustra é esse positivismo FALSO, pois se não estivesse tão encrustado na cuca que vencer é a única alternativa, não sentir-nos-íamos tão mal com uma simples derrota. E é aí que está a beleza de desistir. Mesmo que eu vá me contradizer no próximo parágrafo, a desistência é a vitória da derrota, é a antecipação de um futuro que não é nem será... Que ato reúne em si tamanha beleza paradoxal que não o de desistir? Porém, infelizmente, menosprezamos esses sentimentos que de tão pequenos passam despercebidos, mas quando se desiste de um esforço, útil ou inútil, relaxa-se os músculos, descansa-se os neurônios, respira-se fundo, antes de outra investida, nesse planeta de homens que investem, investem a favor de e contra si mesmos, sem nunca desistir de destruir e matar. Desistir da guerra talvez fosse o exemplo que faltava e, pensando bem, não é nada mal. Alguém lembra por aí de algum país que pode e DEVE desistir de meter seu exército onde nunca é chamado? Desistir de testar bombas nucleares em gente e inventar conflitos medonhos em lugarejos miseráveis? É, não sei...

Vejam bem, se não tentássemos nada seria mais fácil termos sido natimortos e não é por aí que caminha o meu idiótico divagar. Todos fazemos, todos tentamos, todos caímos e em raríssimas oportunidades sucedemos, ainda que grande parte de nossos sucessos sejam ilusórios ou até mesmo um pouco esquizofrênicos. Mas se esse diacho de livre-arbítrio é para valer, deixar uma empreitada de lado é parte de nossa toda-poderosa humanidade, é uma ação-não-ação, não é vitória nem derrota (desisti de não me contradizer), é um bem inerente, talvez até instinto de sobrevivência, e é justamente esse ato reflexivo (ou reflexão) que o "mercado", máquina monstruosa de opressão, nos quer arrancar do organismo, pois desistência é negação, negação é oposição, e oposição é sempre ruim para os negócios. Desistir é pensar de fato no que estamos a fazer, pois fazer não requer pensar, e isso nós sabemos e repetimos muito bem todos os dias, em nossa automação feliz. Aliás, se você pensasse no que faz, talvez já tivesse desistido de ler esse texto, na minha visão pessimista, ou pode ser que quem já desistiu de ler anteriormente e agora se dedica a outros afazeres esteja patologicamente acostumado a desistir e nunca desista de desistir, e isso é realmente uma desgraça desnecessária.

Sim, SIM, dizem sempre os otimizadores do mundo, naquele sorriso calculado que está no verso do livro mais vendido da prateleira mais visível da livraria mais popular do shopping mais freqüentado do bairro mais rico da cidade mais importante do país mais SUJO do mundo. Auto-ajudam-se escrevendo tamanhos excrementos, mas recebendo o peso desta nojeira em dinheiro gringo. Eu digo NÃO, e acho que escrever sobre o poder de desistir não exclui a possibilidade de tergiversar sobre a delícia de pronunciar esse nasal NÃO, mas eu já desisto de antemão de tal idéia. Auto-ajudem-se, se quiserem, e DESISTAM da obviedade cotidiana de persistir em erros seculares. Eu não quero aqui soar como os mesmos que ataco, preconizando o "faça, diga, pense..", portanto eu desisto de fazê-los desistir. Mas tenho certeza que há nessa maluquice toda aqui escrita uma vontade oculta de levar a psicoterapia à extinção. Se as pessoas desistissem mais, não precisariam se consultar com um profissional sobre suas insistências esquisitas, que as faz sentir perdidas no mundo. Não desista, caro Freud, de entender nossa mente já doente desde o Éden... mas, desde o incidente com a maçã, deus já desistiu de Adão.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

O Dez Perfeito - Oráculo da Morte

Pintura de Hyeronimous Bosch (1450-1516). No site, o título atribuído é Green Hell, mas eu realmente não sei. http://www.artchive.com/artchive/b/bosch/tempt_c.jpg

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Nota-pretexto pré-textualmente concebida (sempre desnecessária): fui acordado pelo texto que segue às 7h da manhã do dia 19 de novembro de 2007, debaixo de uma das tempestades mais assustadoras dos últimos anos. Em meu devaneio, 19/09/2007 (é assim mesmo que está no manuscrito, apesar de ser o mês 11) somava 10, de alguma forma numerológica bizarra, o que explica o título não menos. Aprecie, se puder.

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Nações valerão em ações o seu peso geográfico. De repente, tive a impressão ou mesmo visão de uma grande recontagem. O mundo não mais pode ser calculado como antes, sob a mesma matemática, as mesmas variantes, nada é como dantes. Uma diabólica (jagablântica, como na 'visão') bolha de dinheiro de metal sobre a qual flutuamos, de certa forma, ou até uma ou algumas imensas ampulhetas representando ou sendo o escoamento de toda nossa riqueza, tudo dividido agora em massas maiores, pedaços maiores, cifras maiores, em importâncias diferentes [relendo e relembrando a sensação, entendi o que eu queria dizer: é como se o molde, a idéia da quantia de 20.000.000, por exemplo, mudasse. Vinte milhões não cabem mais na lacuna a que essa importância pertence e se transfere a um bolo muito maior. Recontagem total]. Ou quem sabe uma hierarquia: 1 - América 2 - Europa 3 - Ásia ou Asiáfrica ou 4 - África 5 - Oceania ou 3 - Asiafricaustrália. Devidamente divididos pela grana incalculável que extrapola o tamanho físico das cidades, estados, países e continentes, vivemos sob novas regras em que velhas contas já não se aplicam a nada. Como se passássemos de uma lógica decimal a uma centesimal, como bem poderia ser uma milesimal ou assim por diante. Um salto nefasto na realidade gritante de um planeta-homem que finalmente mostra sua verdadeira e grotesca face, onde a sensação é não mais que a única de ser arrastado na pressão da enxurrada de valor digital, virtual, simbólico, mas nunca tão real, palpável, físico, uma torrente originada na mesma tempestade, a tempestade que inaugurou o dia de hoje, com relâmpagos e trovões horripilantes.

Que resta após esta delirante revelação? Que incentivo há em lutar contra a força descendente de milhões de milhões de grãos a passar pelo opressor gargalo da ampulheta do fim de tudo como conhecemos, o fim como desejamos, queremos e fizemos por merecer? Como resistir a desistir e chorar ajoelhado perante tal força? Como dormir após ser acordado com tamanha violência, após ir dormir sob tamanha violência das pálpebras a se fechar em rendição absoluta ao jugo do peso da obrigação de obrigar-se a viver? E viver seria tão somente existir, não tivéssemos a isso atribuído a maldição de fazer segundo a lógica do todo. Viver é fazer, trabalhar para merecer, competir para sobressair, escalar para atingir, subir para respirar, engalfinhar-se para existir, matar para resistir, ficar para testemunhar, escrever para documentar, dizer para ninguém ouvir, andar para ultrapassar, saber para dividir, olhar para segregar, comer para sentir, correr para se garantir, e bater, e bater, se debater no que o diabo chamaria de lar.

Sem olhar para, mirar para, sem saber para trás o já escrito, a visão aos poucos se dissipa. Mas nunca esqueceremos, eu e você, o terror dessa manhã. O terror repentino de ser esse nojo de ser... humano.

Senti-me na correnteza de grãos
e isso nunca vou esquecer

Todos se esquecem do conforto
e da beleza de desistir
[essa idéia renderá outro texto]

Tente e desista de algo hoje
abandone essa luta vã

E aprecie o espetáculo do fim
seja bem-vindo ao fim

Nos livros, nos filmes e novelas
a visão sempre faz sentido

Essa não

Tem gente que tem um olho que vê
E o meu hoje viu
Veja.

Terror feliz. Temor feliz. A existência de deus ou seu contrário? A existência de um ser em mim. A seqüência de mim, que ainda assim ainda me sou e saio. O fim.

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Música que estou ouvindo inexplicavelmente repetidamente: Blur - Coffee and TV.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Afroveitem! (colhido fresco)

Chamem como quiserem
mas não se esqueçam
não se esqueçam

Amem quanto puderem
mas não se percam
não se percam

Riam quando brincarem
mas não ofendam
nem se ofendam

Peçam se carecerem
mas endureçam
endureçam

Façam como fizerem
mas não se esqueçam
não se esqueçam

[imagem: www.ism-sweden.org/page.php?category=6&id=140]

gueto

n substantivo masculino
1 na maioria das cidades européias, bairro onde todo judeu era obrigado a residir
2 Derivação: por extensão de sentido.
bairro de uma cidade onde vivem os membros de uma etnia ou outro grupo minoritário, freq. devido a injunções, pressões ou circunstâncias econômicas ou sociais
3 Derivação: por extensão de sentido.
todo estilo de vida ou tipo de existência resultante de tratamento discriminativo
Ex.:

etimologia: it. ghetto (1516) 'região onde, em algumas cidades, os judeus eram obrigados a morar', fig. 'ambiente fechado, não acessível'

Agora que já comecei com essa péssima, mas sempre útil idéia de utilizar o pai-dos-burros para explicar alguma coisa, gostaria de propor um pensamento, aliás um pensamento colhido fresco, pois o tive em um momento da manhã de hoje, acordei e escrevi.

A ocasião não poderia ser mais propícia: estamos em um dos feriados mais prolongados da história do Brasil, que culmina no Dia da Consciência Negra, em 20 de novembro. Ouvi gente criticar a nomeação da data, dizendo que ela é mais discriminatória que lisonjeira e mais separa do que une. Mas, poucos dos que agora estão em mini-férias em uma dessas praias lotadas da vida estão reclamando, convenhamos, né?

Apesar do sentido dicionarial mostrado acima, entendemos gueto mais por seu uso estadunidense, em referência a bairros e regiões de tal país em que vivem, em maioria, pessoas de pele escura. Sim, escura, mas sei que até um espectro de cores pode ofender, em tempos de palavras comedidas quando referentes a minorias... Tentarei ser o mais respeitosamente falso possível.

Mas, no Brasil, o gueto é o negro ou o pobre? Se considerarmos que o pobre pode se considerar rico (espiritualmente? culturalmente?), é incorreto chamá-lo de pobre, politicamente incorreto. Mais adequado seria "financeiramente desprovido"... Esses desprovidos apenas financeiramente, mas cheios de riqueza popular, são um gueto de milhões. Aliás, são um gueto que é maioria em um país que tende a fechar os olhos para desigualdades.

Segundo este site (sei lá quais as outras milhares de fontes):

São 56,9 milhões de pobres no Brasil, sendo 24,7 milhões de pessoas na extrema pobreza. Quem são essas pessoas?

a) Crianças (mais de 50% das crianças com até 2 anos de idade são pobres);
b) Afrodescendentes (representam 45% da população total, mas 63% dos pobres e 70% dos indigentes);
c) Nordestinos ou moradores das regiões metropolitanas do Sudeste;
d) Membros de famílias chefiadas por adultos de baixa escolaridade; e
e) Membros de famílias chefiadas por trabalhadores autônomos ou por empregados sem carteira assinada.

• Aqueles que compõem o 1% mais rico da população brasileira controlam aproximadamente 10% do PIB nacional, a mesma proporção que é controlada pelos 50% mais pobres da população.

Acho que é o suficiente... Para mostrar, talvez, que, já que queremos tratar com palavras "adequadas" os nossos maiores e mais gritantes problemas, então eu proponho que se PARE de hiposcrisia ao chamar de gueto algo que de tão enorme só não vê quem é cego, deficiente visual ou visualmente desfavorecido...

Agora que nos EUA a cultura do gueto negro é dominante (no Brasil, alguém já ouviu falar de baile funk?), como chamar a cultura atribuída aos novos financeiramente ligeiramente menos abastados? Pois se uma cultura é retirada de seu lugar de origem e comercializada, um produto mesmo (fonográfico ruim, no caso), o que acontece no lugar de origem? Ou a pobreza é, neste momento, uma exclusividade dos culturalmente involuntariamente "não-obtenedores"? Sim, mesmo os não-pobres que não têm cultura agora são os realmente pobres... Será?

Ainda que essa música negra (calma) ou afrodescendente (!!!) seja adaptada aos ouvidos brancos... ops!.. euro-puro-similares, não se pode ignorar que hoje o gueto seja chique, mas no plano das idéias. O gueto é cada vez mais gueto na realidade prática, e o abismo não pára de crescer. Mas é fácil fingir-se interessado pelas condições sociais horríveis em que se encontra a maioria da população apenas pegando um traço cultural legitimamente popular e usando o PIOR dele, como a música fúnqui ou o hiphop americano que preconiza usar dinheiro para se limpar e tratar mulheres como objetos.

Faz sentido, já que antigamente ser preto, negro, ou afrofodido era ser escravo, por mais politicamente correto que seja esquecer tal fato, e ser pobre também o é... Mas como somos todos escravos voluntários de uma mesma máquina-maravilha-mercado (um dia inventam uma sigla-beleza como 'MMM'), então ser alegremente comandado é politicamente correto nessa lógica divertidamente ilusória, na qual basta inventar nomes eufemísticos para segregar respeitosamente.

Mas quem sou eu para falar? Apenas um afro-russo-pardameríndio-marrombranco-euro-brazuco-esportuga... Ai, ai... Vai ser foda quando quando a classe média brasileira se encher, ou melhor, se ofender por ser média, mediana, medíocre, pois além disso já é medrosa e maldita. Esses sobre-povo ou nata não-ralé, eu, tu, eles. Na minha opinião, somos apenas possuidores das maiores inutilidades domésticas já inventadas, felizes portadores de nada. Mas, daqui a um ou dois parágrafos eu volto a falar disso.

Então temos os brancos ex-colonizadores, burrodescendentes ou plutodependentes, os negros ex-escravos, afrofodidos ou de invisibilidade escura, os amerindiotas, esses não só invisíveis como inexistentes, os nordestinos (oh, meu deus, acabaram meus eufemismos e tucanismos estúpidos), esses que descendem dos branco-puros holandeses, que no entanto são tratados como bichos no sudeste no Brasil.

Opa, alguém falou em bichos? Não, espere. Eles são "seres-senscientes-não-humanos". Ah, faça-me o favor! Chega! Os animais não se importariam em ser chamados simplesmente de animais se apenas os tratássemos melhor... Mas... Não é esse então o problema?! A maneira como tratamos um ao outro? Terei eu descoberto a pólvora? Serei eu um ser superior (desculpem, não quero segregar ninguém) ao me preocupar em tratar bem as pessoas, animais e coisas, em vez de criar termos infelizes para dissimular uma preocupação?

Então, o preconceito só depende da terminologia adotada, mas é sempre correto acobertar nossa indecência ou politicar nossa correteza. É melhor apagar da memória o que é inoce-inofe-incapa-indesejável, não se misturar, não mencionar, não falar sobre e principalmente não ter nenhum contato físico com essa pobreza da qual temos nojo, mas que adoramos ver em filmes-polêmica, polefilmes, polelículas...

Me admira que as mulheres ainda sejam chamadas assim, ou os judeus, enfim, já que hoje toda minoria é protegida gramaticalmente sem querer ser, uma proteção-violência ignorante, em nome da propaganda, das vendas, das marcas. Eu posso ajudar as empresas inventando o "ser humano não-animal do sexo forte feminino votante e assalariado independente", vulgarmente mulher, ou o "grupo minoritário-majoritário mundial étnico-religioso-cultural israelo-referente", popularmente judeu. Ora, e quem não quer vender (enfiar, atochar) seus produtos para mulheres e judeus? E para as mulheres de judeus?! (Controle-se!)

Somos todos E SÓ fatias gordas, gostosas, deliciosas, prontas para consumir. É a mercadelícia da pluralidade desigual. Afroveitem!!!

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http://rapidshare.com/files/69929490/AllanZi_-_Normal.mp3

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

AdlibildA

Uma tentativa livre
outra versificação de trovas
ou de truques criativos
que seja, que venha
ou se afaste

Sem participação da massa
ou espelho meu transverso
que ensejo, desgraça
essa criação divina
é terrena

E o pensamento preso
ou prensado contra cada estrofe
um espasmo voluntário
anti-gozo, sim
anti-heróico

Que decepção seria
se a mim só e só isso coubesse
se regozijando o ego
feiura, orgulho
o umbigo

E ao som me solto em metro
nesta semprisão bem construída
de escrever e sim
se entender-se é só o fim
começou

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O novo cd do Radiohead foi lançado para venda pela internet, encomenda ou download, e o consumidor determina o preço que quer pagar. Se não acredita, visite o site. Eu comprei. A jogada é esperta, na minha opinião, pois desafia tanto a troca livre e gratuita de músicas quanto a megalomaníaca indústria fonográfica, e eles não deixam de ganhar o deles. Aqui tem uma das minhas preferidas. Pense o que quiser, faça o que quiser, hoje eu não quero mesmo me preocupar com você. E você?

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Sem eutanásia para o Papa

Texto de 5/4/2005 escrito por mim para o blog jornalismado.blogspot.com.

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Se fôssemos católicos mexicanos (por que não?), estaríamos comemorando a morte do Papa. Explico: nesta cultura, a morte é tratada com festa, como uma celebração à vida do ente que acaba de deixá-la. Deixá-la, diga-se, nos corações e nas mentes de quem o conheceu, para deixar também seu legado, sua sabedoria, sua velhice.

Essa relação é resultado de uma tradição herdada dos povos nativos que viviam no país antes da chegada dos europeus. Os nahua, os otomi, os purepecha e os totonac, povos pertencentes às civilizações maia e asteca, acreditavam que uma vez por ano, no Dia de Finados, os mortos vinham visitar os vivos. Isso provaria, na concepção deles, que os mortos viviam em um mundo paralelo bastante semelhante ao dos vivos e que era perfeitamente possível o contato entre os dois. Na cultura desses antepassados, a crença era motivo de festa. E essa tradição permanece até hoje entre os mexicanos. Música, decoração especial e o melhor da culinária local fazem parte da comemoração. Nas casas, costuma-se armar um altar em homenagem aos falecidos. Mas a tristeza passa longe.

Um povo que lida bem com a morte, vive melhor. No entanto, aqui por estas bandas, aqui no quintalzinho dos States, medo. Cá como lá e na velha "mãe" Europa. Um luto medroso pela morte da americana Terri Schiavo, porém tímido e fugaz, e um luto apavorado e grandioso diante da figura esbranquiçada daquele que tão bem lutou contra a pecaminosa liberdade.

No caso de Schiavo, o que sentimos foi a dor de um rosto inexpressivo, que nos é indolor, ao mesmo tempo. É uma dor que não pode mais distribuir sorrisos falsos, sinais de positivo para as câmeras, posar com o presidente intrometido para fotos de agências de notícias pasteurizadas. É a dor da morte sem máscara, sem o filtro da ciência que tudo pode, tudo conserta, tudo limpa. Morte da qual não se pode fugir, o que é tão natural. Morte, e nada mais.

Crescente medo da morte, um irracional pavor do fim das coisas, como se acordássemos todos do torpor tecnológico que nos faz (nós, seres virtuais internéticos) parecer eternos. Estranhamos a velhice como uma doença incurável. Doença não é. E a cura, não há Bill Gates que encontre. Como os republicanos dos EUA no caso Terri, queremos fazer da morte um pecado. Como os democratas dos EUA, deixamos a morte morrer de fome, como se não fizesse parte de nós, e achamos assim que ela irá embora, sem peso na consciência por tamanha crueldade.

Uma semana curta para tanta choradeira. E continuamos a ignorar o fundamentalismo explícito em ambas as situações: a morte lenta de Schiavo, o triunfo do moralismo com que os EUA governam a si próprios e estendem para o resto do mundo com seus dedos elásticos. A morte do Papa, o triunfo de uma das maiores e mais bem sucedidas jogadas de marketing (todo seu papado) já feitas pela Igreja desde sua fundação, uma insituição que consegue se manter como a mais antiga nesta aura mística e dourada e abrir caminho pelos anos 2000 com sua cúpula pontiaguda.

O que não se percebe é que a lenta morte do Papa (desde que ele começou a morrer por aí na televisão e nos jornais), que durou anos, foi o rápido renascimento do fundamentalismo religioso romano. Vejam que não há Cristo na Igreja Católica Apostólica Romana. E nossa Roma tecno-bélica agradece: impede a morte natural para impor a morte matemática e numérica no Iraque, como se ao presidente do mundo coubesse decidir os destinos de todos, como se fosse... Quem? E a eutanásia quem quer é o povo, mas nem isso pode.

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Baixem música de graça: Sonolento, do AllanZi que vos des-fala. Canção (mp3) e letra (txt).

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Sombras: uma análise física que vai à meta

Amigos, irmãos, parceiros de mais esta jornada, vida, existência!

Hoje, sob a luz da física e da metafísica, falarei um pouco sobre sombras. Sim, sob um foco de luz, afinal, sem luz não há sombras, apesar das sombras serem, de certa forma, a ausência de luz. Vamos iluminar esse pensamento.

Começarei por onde nossa razão foi levada escolarmente a equacionar, pela Física Clássica. Na definição da física, sombra seria a região de um espaço em que nenhum raio luminoso proveniente de uma fonte chega, devido à presença de determinado obstáculo. Quem nunca ficou olhando a própria sombra projetada pelo Sol no chão, na parede, ou em qualquer ser próximo a nós? Quem já olhou, deve então ter percebido que a nossa sombra nada mais é do que uma projeção sem luz de nós mesmos.

Tomando a fonte de luz como aquilo que ilumina o nosso próprio ser, o obstáculo como o nosso próprio ser, e a sombra como a projeção sem luz de nosso próprio ser, pergunto: O que seria a fonte que nos ilumina? Tudo aquilo que realmente nos motiva, nos dá ânimo pra prosseguir, dia após dia, nosso ideal de felicidade, que pode ser um outro ser e/ou um objetivo. Somos nós um obstáculo? Oferecemos resistência à luz de outros seres e/ou de nossos objetivos? Respondam vocês mesmos. A presença das sombras em nossas vidas e cotidianos é inevitável? Equacionarei essa questão com base na Física de Aristóteles, a física do imaterial, voltando ao tempo para ir além, usando a Metafísica (em grego, metha = depois, além).

Se na presença da fonte luminosa somos um obstáculo à luz emanada, realmente as sombras são inevitáveis. Porém, existe um fato que devo lembrar a todos: só é possível observar a presença da própria sombra se desviamos o nosso objetivo da fonte luminosa! Só vemos a nossa própria sombra com a nossa fonte de luz à frente, e nosso olhar para trás! Ou seja, ao observarmos a nossa própria sombra, estamos fora de nossos focos, caminhos e direções, que rumam em busca da nossa realização.

Examinemos, com base no que foi concluído, as sombras que estão ao redor, as diversas projeções sem luz que nos cercam. Quais delas são nossas e quais delas não são? Todo o sombrio externo observado vem de seres fora de seus próprios caminhos, ou estão simplesmente englobados em nossas próprias escuras projeções?

Para terminar com esse papo obscuro, quero dizer que não somos eternos obstáculos à luz. Nem que o somos a todo instante. Em minha caminhada pela (meta)física, constatei que o objeto que é um obstáculo parcial à luz, ou seja, uma espécie de segundo estágio em relação ao anterior, é o objeto denominado translúcido. Então, queridos semelhantes, se sombras lhe atrapalham o caminho, não percam seus focos e busquem a translucidez.... trans-lucidez!!!

L.H.M.
Namastê

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Como já é de praxe, o intrometido do descriador do blog vai dar o seu pitaco no texto do amigo autor não-tão-anônimo. Mas, como também é costumeiro, a idéia é somar, pois suponho que adquirir conhecimento faça parte da meta de nossos caros não-leitores... Portanto, sugiro complementar essa leitura com esta referência wiki (isso é clicável) sobre o Mito da Caverna, de Platão. Apreciador de e desentendedor que sou em filosofia, creio que isso possa lançar uma luz sobre a questão da projeção de sombras, e não só no universo espiritual, físico e metafísico, como também no político. É só refletir, luzir, reluzir e transluzir. A imagem que usei para ilustrar o texto é uma das milhares de alegorias feitas do tal Mito. Deixo aqui também um link (linklique) para uma música de minha autoria chamada "Da Música", que, vai saber, pode amarrar bem tudo isso auditivamente.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Vagabalho Trabalhundo - Gênese

Mais um entre tantos. Um blog substantivado do inglês eletrônico. Postem, meus amigos, postem esses verbos esquisitos, brancos ou cor creme-pc, ou deleitar-me-ei no delete com requintes sádicos de dedos-falos, poder de teclas. Teclo. E só não troco tudo por isso, só não cobro de vocês a minha conta, porque é virtual. E só não é virtuoso porque vício inverso é em versos luxo. Palavra versus número e eis que o Algarismo palavrou: "Faça-se o verbo!" - e o blog se fez, como zero entre uns.

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Texto escrito por mim em 24.03.05, tirado de um antigo blog mantido por colegas de faculdade: jornalismado.blogspot.com. Postarei mais um texto oriundo deste.

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Música do dia: AllanZi - Late Worker. Clique no link, depois no botão "FREE". Complete a verificação pedida e dáumlôudi! Essa é a última vez que vou explicar, sei lá porquê. E também será a primeira e última vez que digo que se ninguém baixar o arquivo se esvai, como vapor... puf... portanto baixem!

domingo, 30 de setembro de 2007

Morte em vida merecida

As contribuições de amigos começam a acontecer. Agora, além de não-leitores, tenho outros não-autores para blogar comigo. O título e imagem são de minha humilde escolha para o texto de meu amigo L.H.M. Esta última, uma pintura de Hieronymus Bosch (1450-1516) - A Morte e o Avarento (c. 1490).

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Amigos, irmãos, parceiros de mais esta jornada, vida, existência!

Venho por meio desta lhes apresentar uma grande amiga minha, a Morte! Sim, a nefasta, a imperdoável, a maldita que tanto nos faz ou fez sofrer. Eu sei que vocês também a conhecem, mas apresentarei quem ela tem se mostrado ser, realmente, a mim.

Nascemos com a única certeza de que, no fim, é ela que vamos encontrar. Visto isso, nos higienizamos, nos alimentamos, cuidamos da nossa saúde, nos poupamos de situações perigosas e escutamos conselhos dos mais experientes. Pois é, apenas pela sua futura presença, tentamos postergar ao máximo este encontro, nos forçando a fazer coisas às quais, com uma eventual certeza da eternidade, não daríamos a mínima importância.

Porém, a sua função não reside apenas nesse “aviso” da brevidade da nossa passagem. Se perdemos este medo, e solicitamos sua ação durante a vida, veremos que não pode haver melhor companhia. Cotidiano tedioso, metas inalcançáveis, amores platônicos, desejos, desejos e mais desejos. Por aquilo que vemos como desagradável, ou como algo essencial que ainda não temos, tornamos nossas vidas um mar de frustrações, culminando em vícios, hostilidades, tristezas, doenças, enfim, uma verdadeira propagação da nossa insatisfação interna. É aí a hora de recorrer à nossa amiga Morte... Suicídio??? Longe disso!!!

Não morremos apenas fisicamente junto dessa nossa máquina biológica de anos-luz à frente, mas morremos ao matar conceitos, teorias, pensamentos, desejos, vícios, necessidades, todas elas arquitetadas por nosso Ego, agindo em busca daquele bendito sentimento de felicidade/satisfação. Sim, matemos os meios pelo qual nosso Ego escolheu trilhar a busca do que realmente é essencial. Somos os únicos algozes dessa vitimada vida que levamos.

Por isso, digo a vocês que não tenham medo da Morte! Morram! Morram a cada instante! Não há tristeza, tédio, ou qualquer tipo de dependência que suporte isso! Morram! Morram a cada instante, a cada minuto, a cada segundo! Morram! Morram, que a Vida sorrirá cada vez mais perante nossa existência! Morram! Morram, que a sublime sensação eterna se fará cada vez mais presente dentro de vocês!

L.H.M.
Namastê

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Comecébrio (Semimbriaguismo)

Ninguém admite estar bêbado num copo
de cerveja, pode ser, mas alguém mente
se se diz não sentir leves as idéias
ou dançar com olhos-vídros pela luz

Poucos lembram que este sinto em tudo está
nas menores e piores circunstâncias
este semimbriaguismo nos dá lentes
para examinar melhor o que é só

Não é ode ao alcoolismo, que se pense,
odiálcool, nem pensar, bem ao contrário;
é um brinde às ebriedades da vida
que_em verdade as fazem digna do nome

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Amoribundo (Menino-Mor)

É a primeira vez que vou colocar aqui texto de outrem, mas com uma série de justificativas que com certeza não são necessárias. Se quiserem, caros não-leitores, refletirem sobre o texto sem as minhas ponderações, talvez seja até mais apropriado, por isso haverá um espaço entre este parágrafo e os três que seguem antes do texto em questão.

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Eu gostei de lê-lo com rapidez, com a velocidade provável em que foi escrito. Não é questão de ser negligente em relação aos detalhes, mas uma forma de me aproximar da freqüência de raciocínio do autor, o que é em parte o motivo porque alguns, como eu, gostam de ler Saramago. Sim, é claro que são pensamentos despretensiosos, deprovidos de apuro em sua oralidade informal e ansiosa, mas não tira a tristeza e a beleza do desespero de um jovem amor.

Em segundo lugar, alguém ainda precisa me explicar o que é a verdadeira motivação artística. Sem dizer se o texto que segue é arte ou não, já desembucho que ele não é, com certeza, uma pretensão artística. É, ao contrário, uma modéstia não-artística com forma de carta de amor e disfarçada de pretensão artística, o que pode ser uma motivação artística, claro, na minha humilde opinião.

Por último, mas não menos importante, é sempre bom ver uma foto, um instantâneo da juventude, ainda que local. Pois não só são sentimentos complexos e confusos, sem dúvida verdadeiros, que todos nós temos inegavelmente, mas desenham a geografia do arquipélago que a humanidade está se tornando, um arquipélago no entanto incomum: somos, por nossa própria vontade reforçada por séculos, ilhas flutuantes. Sabemos que não é mais possível integrarmo-nos ao continente, mas ainda temos a habilidade, ou mesmo sorte, de nos chocar contra outras ilhas, sem poder evitar, é claro, o efeito do impacto, separação. Chamo esses choques de amor.

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Um pensamento, um acontecimento, uma realidade, uma vida, uma reação, uma filosofia,

O amor!
Amar é um sentimento que vai além da nossa imaginação saber que você ama uma pessoa e não ter ela do seu lado é como sua vida não tivesse sentido simplesmente não ter forças para conseguir lutar por você.
Amar? Nunca imaginei que seria uma coisa tão boa mais ao mesmo tempo tão ruim, acredito que tudo vem para nosso aprendizado, mais porque tudo tem que ser como de todo mundo, porque não fazer a diferença, acreditar naquilo, lutar para acontecer, suponho que quem ama luta por aquilo que quer, mais há várias circunstancias, não podemos fazer a pessoa te amar, simplesmente a deixamos ir e ser feliz, mais a dor é muito grande de vez em quando não há forças, tento mais não tenho, creio que vai passar, mais quando penso, pronto já voltou tudo de novo, tenho medo que isso não acabe, vou lutar para sobreviver, aliás, é só amor, o que tem de tão complicado nisso.
Eu posso dizer e passar para frente, que as pessoas acreditem no amor, pois ele existe e como existe, não espere, não se torture, ele vem, mais tem que ter a cabeça no lugar para que possamos lidar com ele, não digo que é complicado.
Não ter a pessoa que você ama do seu lado e não se ver longe dela, mais acredito que ela estará feliz isso já me deixa bem, passarei por novos amores, mais concerteza nunca vou esquecer meu primeiro amor, um amor verdadeiro, um amor que não tem como explicar, só sentindo na alma, no coração, no pensamento.
O amor é simples coisa que qualquer pessoa senti.
O amor é você olhar para outro olho no olho e dizer eu te amo, olhar no fundo dos olhos e dizer eu te amo, abraçar e dizer eu te amo, sentir o calor dos corpos e dizer eu te amor, sentir a sintonia dos espíritos, a energia, dormir, tomar banho, acordar do lado, comer juntos, conversar, beijar, amar, coisas tão pequenas que muitas pessoas não observam, são dessas coisas pequenas que cria uma coisa muito grande.
Quando você ama você acredita naquilo, você quer aquilo e simplesmente não acontece, o que fazer?, O que falar? Que atitude tomar. Só uma pessoa para dizer isso, você mesmo, seu coração ele vai falar o que fazer, como agir.
Não se arrependa de nada e lute para isso acontecer que é a coisa mais linda do mundo e como é linda, seria como as horas não passasse o tempo parasse, como se estivesse na lua, em outro mundo, é uma coisa absurda de tão bom que é, coração mais leve, tudo fluindo, você só quer amar, amar, amar, amar e amar.
Eu acredito nisso, vou lutar para isso, vai acontecer, vai ser tornar realidade, vou me sentir amado,vou fazer a diferença, vou amar, vou sonhar, vou te amar...............sempre..............

Luigi Campigotto 22/09/2007

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Descasa do misantropado

Comentário prepoema/estudo:

Já não tenho mais a insônia do poeta. Quando muito um notivagaroso e voluntário. É mais fácil escrever quando é mais difícil. Quando é mais fácil, não quero ou nada me vem.

Às vezes precisamos cortar alguma artéria para sangrar bonito, mas tenho apenas me espetado umas agulhas. Haja faca.

Descasa do misantropado

Essa necessidade urgente de casa
por não ter lar fora, nem vestígio
lá fora, acasa, afora, aflora, à míngua

Sem o com fica essa troça deslocada
precedendo dentro, mais margem
redor, re-dor, de rente, em volta, entorno

Escondendo o que condena fico em coma
medolento em vida, comovo
mediço, mavento, me evado, vomito, me vou

Essa inteligência ausente de sangue
gente descentro, parasita
pessoa, des-sente, peçonha, passiva, prescindo

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Desinexistência da realirrealizacão: só a língua não trava

Foto: Cubiculum ed Revisorum Toscus - by AllanZi

- Tsê vai?
- N'spermercado.
- Traispão?
- Ahã.
- Caboabanana t'mém.
- Tá.
- Sidé trais'ma coisinha gostosa.
- Ah, screviaí na lista, vai.
- Tá... Tó.
- Tá fui. Qué cois'liga n'celular.

Trabalhando hoje na revisão de um artigo sobre linguagem falada versus escrita, comecei a pensar sobre os mundos que habitamos criados por essas linguagens, e pela nossa própria língua, claro. Nosso universo é u jeit'c'magente fala. A depreciação desse oralismo em algumas línguas levou ao seu fim. Talvez não necessariamente por culpa do engesso formal da escrita, mas a possibilidade disso acontecer sempre existe. Poderíamos pensar que é essa nossa fala que acaba com uma língua, mas, longe disso, é ela que faz a língua mudar gradualmente, desenvolver-se, aprimorar-se, garantindo sua sobrevivência a cada volta que mundo dá. Dependesse da linguagem escrita, quem sabe ainda estivéssemos falando latim ou línguas ainda mais antigas.

Com freqüências variáveis e complexidades diferentes, também, inventamos muitas palavras durante a vida. Ainda que sejam onomatopáicas, limitem-se a arremedar sons, a gente precisa criar extensões desse mundo comunicativo, ramos que às vezes nos faltam. Isso mostra o quanto o desenvolvimento da língua está conectado ao da própria humanidade, com todas as suas necessidades criativas e produtivas (mais a última). Tal como no artigo, que não posso citar com precisão agora pois está amontoado lá sobre minha pseudo-mesa de frila-da-puta em Pinheiros, penso que a língua é uma parte intrínseca do mundo particular que cada um habita.

Quando ouvimos línguas africanas, asiáticas, de tribos específicas quase mortas ou mesmo as européias às quais não estamos habituados, sentimos estranheza e às vezes até desprezo, pois não as compreendemos. O mesmo acontece com regionalismos aqui no próprio Brasilzão. Grande parte dos concidadãos paulistanos que conheço tem reservas em relação a sotaques provindos do Nordeste e outros cantos, e antes o preconceito fosse apenas contra a variação lingüística usada. Em outras palavras, a maioria das pessoas tem medo do que não conhece, e em vez de tentar compreender o desconhecido, o diminui, o espezinha, tira sarro, para manter um afastamento seguro daquilo que não é próprio de seu mundinho. Mas é presumível que quem conhece mais variações do idioma possui, de fato, mais cultura, e conhecer todos os "portugueses" do Brasil não é tão "baiano" quanto alguns intolerantes (não vou usar outro nome feio em nome da ética temporária dessa blogação) gostariam que fosse, apesar de certas pessoas acharem que ter cultura é saber o que rola em Paris ou Nova Iorque.

Mesmo todos nós tendo preconceitos, temos preconceitos diferentes, que estão ligados a experiências pessoais, traumas, lembranças, conversas e pensamentos isolados, que vão construindo nossa personalidade. Assim, vivemos em dimensões absolutamente particulares, o que me leva a pensar que aquilo que tentamos entender por "realidade" não existe. Isso também chupinhei do artigo, mas tento ir um pouco além em exemplos toscos. Se o que é real é o objetivo, o que é visto ou palpável, se o azul é azul, que será o azul para um daltônico? O que será uma rua pavimentada para quem nunca a viu? A rua, que eu saiba, só tem esse nome em português... e mesmo que street seja o correspondente em inglês, essa palavra foi criada a partir de outros parâmetros. No mundo ocidental é comum que se ache bizarro colocar à prova o que já está gravado na parte feita de pedra em nossos cérebros. Não estaríamos, a todo momento, tentando impor diferentes realidades a todos, ou aceitando realidades pré-fabricadas com toda a passividade do mundo apenas para não termos de pensar sobre a nossa própria?

Isso é provavelmente a fórmula para guerras e qualquer vileza que se possa imaginar. Some à questão de realidades particulares alguns determinados líderes que pela força, pela "política" ou pela religião conseguem convencer milhões a seguirem sua própria visão de mundo, mais o desconhecimento e a não aceitação da realidade de outro país, sistema político ou crença, mais ainda certos interesses em riqueza financeira e poder em geral, pronto, temos qualquer conflito já ocorrido na breve história do ser humano sobre a Terra. Poder-se-ía dizer que animais também conflitam, mas não podemos nos esquecer que por razões infinitamente mais "objetivas" do que a utópica objetividade que pretendemos alcançar para viver em um mundo civilizado, prático, bonito, limpo, "em paz". Os territórios que o homem quer conquistar não existem, pois são realidades e pertencem ao próximo, ao próximo, ao próximo.

Se queremos ser gente, é bom que comecemos a entender que todo mundo quer, mas ninguém do mesmo jeito. Há solução para esse quase paradoxo inútil sobre o qual um blogueiro solitário se propôs a punhetar? É possível, mas antes precisa-se entender que a comunicação é mais do que a língua que falamos. Existe uma língua oculta que não precisa articular palavras nem expressar pensamentos, mas que permite à alma não se amargar perante outra e não se incomodar tanto com as diferenças. A única palavra que me vem à mente para expressá-la é "consciência". Mazagent'temq falá'amema língua, né?

Testando um novo birinaite, mp3. O tempo que fica disponível é curto, então baixem, caros não-leitores não-ouvintes. Em breve colocarei músicas minhas, cds inteiros, para todas essas milhões de pessoas que consultam o blog poderem fazer a festa. É uma múisca do Weather Report, chama Directions, do álbum Forecast e na verdade é uma tomada que nem foi para o disco originalmente. Quem quiser saber mais 'dáum gúgou', ou 'vêna uiquipédia'! (clica na imagem e depois, no rapidshare, clica em 'free')

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Se eu vivesse para sempre

The Edge of Eternity - fractal de David Makin: website.lineone.net/~dave_makin

Se eu vivesse para sempre, seria o senhor do tempo. Não dominado por ele, passaria pelo menos 10 anos de cada século a coçar o saco, ou quem sabe 100 anos por milênio. Nos demais, entreter-me-ía com os vais e vens de homens-formiga: nossos sistemas sócio-político-econômicos ascendendo e caindo, edifícios erguendo-se e desmoronando, marés inundando continentes e depois retraindo, a poeira das guerras a se espalhar e dissipar, como os fluxos intermitentes das chaminés das fábricas.

Se eu vivesse para sempre, é certo que veria inúmeras revoluções. Após os brancos, estariam no poder os negros africanos, logo após os árabes, os coreanos, os indígenas, testemunharia o governo gelado dos esquimós, dos tchúkhtil, criadores russos de renas, dos chineses, dos japoneses, que logo formariam uma aliança poderosa e governariam por período um pouco maior que os outros, depois o governo dos mestiços, dos pardos, dos pardos, dos pardos...

Presenciaria tórridos romances e violentas separações, um após o outro, em diferentes níveis e intensidades, numa valsa interminável que daria à luz outras valsas, outras danças e ritmos igualmente intermináveis. Dessa mistura romântico-sexo-musical formar-se-ía um único som, que soaria para o resto da eternidade.

Eu me tornaria o maior amante de todos os tempos, ou de um tempo só. Figuraria nas narrativas dos livros mais femininos, seria o homem da vida de milhares ou milhões de mulheres, que morreriam fiéis a mim e eu a elas. Poderia ser fiel infinitas vezes se eu vivesse para sempre, bem como ser o patriarca de inúmeras gerações.

Veria campos virarem pedra, virarem terra, virarem campo, meu cinema abstrato natural. Além da música e o cinema, entregar-me-ía à literatura. Leria e esqueceria toda a produção intelectual humana. Escreveria best-sellers, aclamadas peças de teatro, gravaria os mais bem-sucedidos discos, calcaria em pedra a minha arte, grudaria minha tinta em tela, para depois apreciar a verdadeira arte, vendo o quadro, o livro, o disco ser comido pelo tempo, seu senhor.

Registraria num blog a história de cada ser humano que cruzasse o meu caminho. Quando a internet como a conhecemos deixasse de existir, inventaria outra coisa similar, promovendo inúmeras revoluções tecnológicas, criando a globalização e a desglobalização, fazendo o mundo pulsar junto com suas cabeças e corações.

Seria empresário, sindicalista, taxista, gari, vagabundo, seria comunista, reacionário, anarquista, situacionista. Tudo isso professando o cristianismo, o budismo, o islamismo, o espiritismo e novos ismos que eu mesmo inventaria. E me tornaria por fim o historiador, o político, o professor, o terrorista, o religioso mais controverso da história, sendo todos estes ao mesmo tempo, dando nós nas cucas de gerações a fio.

Seria testemunha do nascimento e morte de todos os animais e plantas, sua extinção e a formação de novas espécies e mutações, entenderia a maneira com que a evolução evoliu e retrocede em movimentos díspares, porém constantes.

Quando chegasse a ser o último homem sobre a Terra, sem nada a me surpreender, nada pelo que ou contra o que lutar, quando ouvisse, visse, sentisse e pensasse uma só coisa em uma única ação, eu seria deus... e teria um só desejo: morrer.

Inspirado em trecho do conto "O Imortal", do livro "O Aleph", de Jorge Luis Borges, que segue: "Doutrinada num exército de séculos, a república de homens imortais atingira a perfeição da tolerância e quase do desdém. Sabia que em um prazo infinito ocorrem a todo homem todas as coisas. Por suas passadas ou futuras virtudes, todo homem é credor de toda bondade, mas também de toda traição, por suas infâmias do passado ou do futuro. (...) Encarados assim, todos os nossos atos são justos, mas também são indiferentes. Não há méritos morais ou intelectuais. (...) Ninguém é alguém, um só homem imortal é todos os homens. Como Cornélio Agripa, sou deus, sou herói, sou filósofo, sou demônio e sou mundo, o que é uma fatigante maneira de dizer que não sou".

terça-feira, 17 de julho de 2007

O Antibundismo

“Não pise na grama”, lia eu aos 7 anos de idade, acreditando ter encontrado pela primeira vez uma norma que fazia sentido. Sim, pois até ali meu pequeno cérebro havia registrado apenas proibições de estacionamento ou relacionadas a falar palavrões e comer doces antes das refeições oficiais. Digo registrado, porque a assimilação tomou-me mais tempo, e assimilar o que a civilização nos sinaliza provavelmente toma muito tempo de todos nós.

Não pisar na grama era-me lógico por questões meramente estéticas. O gramado estava bonito, bem cuidado, os arbustos verdejavam e suas folhas guardavam ainda pingentes de orvalho que brilhavam à luz matutina. Já naquela época eu sabia que a minha presença em determinados lugares causava danos, mesmo que não me fosse chamada a atenção muitas vezes para não sujar isso ou não correr sobre aquilo – fui uma criança comportada.

Passados alguns anos, não foi muito difícil compreender que, acima de tudo, inclusive da segurança, sinalizações servem para manter a “ordem” e proteger a propriedade de alguém. Hoje, para mim, a grama do vizinho é sempre um tanto mais amarelada, por verdes que sejam os pensamentos e intenções do sujeito, pois descobri que só protegemos o que nos custa dinheiro, não o que nos pode custar a vida quando perdemos, como a flora.

Já me afastando de questões ambientais, pois não teria argumentos ecologicamente corretos o suficiente, volto-me a uma observação do tempo presente, eu já com um cérebro um tanto maior (mesmo que este não seja capaz de produzir raciocínios mais interessantes que os de uma criança), no meu ofício fixamente temporário de revisor, parado no andar térreo do prédio, esperando sei lá o quê, sempre tenho que esperar alguém para conseguir trabalhar.

Resolvi fumar um cigarro (já falei que minha ecologia e minha naturebisse não serviriam de nada?), como ali já havia feito tantas vezes, e qual não foi minha surpresa ao ver que as muretas ao redor dos jardinetes da entrada do edifício estavam agora equipadas com lanças de aço por toda sua extensão? Vejam bem, a boa e velha placa que diz “Pedimos o favor não sentar ao redor da grama. Obrigado.” ainda estava lá! Esta, eu nunca contestei.

Ainda que o novo aparato não evite que dezenas de bitucas sejam arremessadas sobre os belos pequenos jardins (a vontade de fazer o mesmo era imensa, mas algo de ambientalista em mim não permitiu), ele garante, sem sombra de dúvida, que nenhuma pessoa em sã consciência se sente sobre a mureta! Fiquei abismado. E olha que não costumo falar do quão abismado fico a respeito de coisa alguma, em meus textos.

Sim, a presença das pessoas faz estrago, mas não como a minha faria àqueles gramados verdejantes de outrora, e sim de uma maneira geral e irrestrita. E não satisfeitas com agredir o ambiente, fazem-no também com nossa inteligência. Recuso-me terminantemente a discutir a utilidade do dispositivo ou o nível de prejuízo que um traseiro humano seria capaz causar a um jardim ou a seus muros, tamanho que justificasse o uso de armas.

Até quando vamos gastar quantidades absurdas de energia com a proteção de pequenezas? Parece-me que quanto menos alienado um homem é da produção capitalista, ou, trocando em miúdos, quanto mais poderoso e rico ele é, mais alienado se torna da realidade. Gostaria que isso fizesse sentido, mas o problema é que apenas a guarda da propriedade não é e não pode mais ser desculpa para nossas paranóias. Qual será, então, a nova desculpa?

Antecipando-me à imaginação fértil do possível leitor, meu sempre caro apreciador virtual ou inexistente... Será a violência? Mas a causa desta, ao menos na sociedade moderna, não seria justamente a propriedade privada? Pode ser, mas, estou ficando confuso... Uma Cerca Antibunda?! É essa a resposta para nossas neuroses anti-terro-vio-ultra-letas-lentas-bestas?
Não teríamos mais nada com que nos preocupar?!

Pode me xingar do que for, mas o desrespeito à inteligência é o maior crime dos últimos séculos. Pode me chamar de igualmente paranóico, neurótico, apenas porque vi uma bobagem na rua, mas se o jornal das 8 me diz que o Brasil está prosperando, e que basta continuarmos trabalhando cabisbaixos, subservientes, comprando inutilidades, indo ao shopping para celebrar o natal, que o empresário Fulano de Orleans Bragança está ajudando os pobres, que o Bush venceu o terrorismo... se o jornalista me fala tudo isso, todos os dias, com a cara mais lavada do mundo, já me deu motivo para quebrar o antigo acordo de paz com a burrice, a ignorância, a cegueira consentida.

Quando os homens realmente poderosos do mundo começaram a falar sobre democracia, direitos humanos, guerra ao terror, prevalência da paz, do bem, bem-estar geral, comida, bens, dinheiro para todos, escalada social, mais-valia, trabalho honesto, justiça, ciência, “ciclo virtuoso” (???)... quando começaram a falar disso, tudo bem. Quando disseram que era para a gente acreditar, não fazem idéia do verdadeiro estrago que causaram, e que já podemos sentir, todos os dias, sentir nosso maldito medo. Estrago muito pior do que causariam ao jardim com suas bundas, mesmo porque agora ele pode se defender sozinho... Mas, claro, com a ajuda da nova placa sinalizadora auto-explicativa: “Cuidado! Gramado bravo!”.

Ok, eu sei que foi um dos meus piores posts, mas alivie-se procurando a música de uma banda que meu amigo e leitor inexistente indicou há pouco tempo e foi uma grata supresa. Broken Social Scene. Aí embaixo vai um youtube, mas estou pensando seriamente em disponibilizar mp3 aqui. Se vai atrair mais não-leitores, não sei, mas que vai entrar gente, vai.

sábado, 7 de julho de 2007

Borges

Sonhei que sonhava comigo
e acordei terceiro
fazendo o que faço primeiro
sem nem um segundo sonhar

Que alívio saber que me invento
mas triste é pensar que repito
o nada que nada me é

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Vida Corrigida - Reflexões mudas no caderno de um revisor

Provo meu valor
pingando nos is meu suor

Atento a detalhes alheios
e tolas convenções

Ninguém percebe, ninguém percebe
mas se o faz eu sustento
e alimento o problema

Trabalho o problema, problema é trabalho

Ninguém se queixa, ninguém se queixa
me queixo por eles da imperfeição

Ninguém é perfeito, ninguém é perfeito
só eu devo ser?

domingo, 29 de abril de 2007

Inutitulidade ou O Homem de Negócios de Negócios de Negócios...

Você está desempregado? Eu também. É difícil, não é? Qualificações, habilidades, escolaridade, experiência... "facilidade em intercomunicabilidade em inúmeros níveis"! Aposto que alguém já deve ter colocado isso no currículo. Você não? Talvez algo parecido. Entrevistas, dinâmicas (argh!) de grupo, olhares escrutinadores de "RHs" despreparados, pseudo-psicólogos que analisam até a maneira como você respira e pisca, tudo espreitando e conspirando contra a sua, ora, sacrossanta boa vontade em querer fazer alguma coisa, QUALQUER coisa, em troca de trocados, com o perdão do trocadilho. E não é que até realizar esta simples prostituição tem sido complicado, ultimamente?

Pois é. Acontece que existe uma nova forma de trabalho: o trabalho sobre o trabalho. Isso pode não ser tão novo quanto parece, mas do jeito visto hoje não tem precedentes. Bom, talvez desde o início da agricultura, nossa maior e imbatível revolução rumo ao progresso econômico, existissem trabalhadores cujo trabalho era pensar no trabalho de outros que faziam o trabalho. Detalhadamente, pessoas que não só estruturavam os procedimentos, mas que também pensavam o trabalho como fruto, produto, bem, matéria. Será? Vou admitir que não fiz pesquisa alguma para escrever estas bobagens, mas é muito provável.

Acontece que, hoje, tivemos a pachorra de ir além. A criação de novas áreas ou sub-áreas do conhecimento acorrentou os trabalhadores intelectuais ao mundo corporativo. Talvez isso não seja para sempre, mas, por enquanto, vemo-nos obrigados a estudar, trabalhar em e GOSTAR de assuntos como "comunicação corporativa", "gestão de pessoas", "relação com investidores", "sustentabilidade" (seja lá o que isso signifique), "responsabilidades" diversas, "hospitalidade" (receber gente rica, possíveis investidores), "análise de risco", "consultoria" disso e daquilo, "assessoria" para mais outro tanto de coisas, "saúde laboral" (!), psicologia do trabalho (!!!), etc, etc, etc.

Usei "trabalhadores intelectuais" não sem motivo. É claro que ainda existem aos milhões os braçais, peões, chão-de-fábrica ou como queiram chamar estes semi-escravos, que estão cada vez mais fora do que dentro das empresas, pois, com a globalização, tornou-se mais fácil explorar o labor de gente desesperada, mas lá do outro lado do mundo (ou aqui no Haiti), onde ninguém vai ver, nem reclamar, nem se compadecer dessas almas. Os robôs já fizeram sua parte ao remover uma quantidade monstruosa de pessoas dos processos de fabricação, das linhas de montagem. Mas, enfim, estes peões são cartas fora do baralho, ou pelo menos estão dentro das mangas dos ternos alinhadíssimos dos novos senhores de engenho.

Quero me ater a uma nova hierarquia no trabalho intelecutal, este considerado importante, e o surgimento de uma casta altíssima na escada para o sucesso. O dinheiro está em áreas que exigem níveis técnicos absurdos, mas com pagamentos igualmente absurdos. Quem hoje domina a tecnologia, domina a informação e domina o mundo. A Era da Informação já era. Foi um período criado pelos meios de comunicação para alimentar em nós a fantasia de que temos acesso a tudo, liberdade de pensamento, absorção de culturas até então remotas e produtos ainda mais fabulosos provindos dessas culturas. E o que fazemos com essa informação? No modo de pensar do capitalismo, rigorosamente nada. Podemos enfiar em algum lugar, fica a critério.

Esse conhecimento é mero troco, umas migalhas jogadas a todos (ainda não todos, mas quem sabe em breve) em reconhecimento à nossa obediência servil por um par de séculos. Se na Idade Média a arte e a técnica eram guardados a sete chaves pela igreja, hoje, fique tranqüilo: está tudo aí para quem quiser catar do chão. Esbalde-se com livros "subversivos", descubra na internet como construir uma bomba caseira, assista a filmes iranianos, decifre o código morse e até o DaVinci! Pouco importa. Sabe por quê? Nada disso vai te dar acesso ao dinheiro. Hoje, meu amigo, a informação que interessa é outra. Táticas militares são utilizadas em multinacionais, a chamada "inteligência", já ouviu falar? Pois bem, de nada vale a sua. Essa é para ganhar muito, mas MUITO dinheiro, com zeros que não cabem em banco nenhum.

Quanto à nossa mera inteligência, onde se encaixa nessa hierarquia? Para proteger inteligentemente todo esse esquema inteligente de inteligência, existem hoje trabalhos que se relacionam diretamente ao trabalho, é o chão-de-fábrica do novo poder. De um lado, mentirosos profissionais que servem para comunicar as benfeitorias de seus clientes e varrer o resto para baixo do tapete, entenda-se assessoria de imprensa (assim mesmo, com letras minúsculas, como todo título deveria ser). Outros mentirosos seriam os que estão preocupados com a saúde física e mental de seus funcionários, os que se preocupam com o impacto ambiental que a produção maçiça de seus clientes/empresas produz, e alguns similares. O resultado de seu trabalho é composto, na maioria das vezes, por números que devem deixar todo mundo contente. Quando se pode descontextualizar ou mascarar esses números, melhor ainda!

Dá para perceber? Todos esses títulos e novas áreas "importantes para os negócios" servem para que o trabalho seja justificado. E se o trabalho é justificado, o dinheiro e o poder de uns pouquíssimos, também. Trabalhamos no que vai interferir no trabalho e distanciamo-nos da produção em si. Não sei dizer, a essa altura do texto, se isso é bom ou ruim, mas soa estranho que falemos e pensemos mais em maneiras de viabilizar, assessorar, sustentar, analisar e permitir o trabalho do que fazê-lo. Se temos cada vez mais urgência em provar o valor de nosso trabalho, só pode significar que ele o está perdendo. Temos títulos e mais títulos para trabalhos esdrúxulos, mas o próprio trabalho fica dando voltas em torno de si mesmo, aproximando as pontas de uma linha de progresso que em breve será um círculo, uma loucura feita só por ser feita, para que uns teham o poder, só pelo poder.

Com mais gente, vêm mais responsabilidades, mais nomes, mais assessorias, análises, auditorias (auditores são os dedos-duros dos negócios, para garantir que a grana está no lugar certo) e fiscalizações, evidenciando uma desconfiança que já nasceu com a concorrência capitalista ou que, aliás, já nasceu conosco, sendo o motor da busca nervosa por poder sobre nossos semelhantes, da nossa evolução, do nosso progresso. O mais interessante é que toda essa atenção sobre os procedimentos acaba apenas criando mais brechas para que negócios sujos sejam feitos. Como? Corrupção. Não é mais fácil apenas corromper quem fiscaliza do que quem faz? Aí temos o tráfico comendo solto, o contrabando de armas, de INFORMAÇÃO... Tem quem venda a alma por uma cifra escrita em guardanapo. Isso alimenta ainda mais essa concorrência de guerra mundial, mas o jogo é esse, não é?

Algum engravatado rico (pois nem todo engravatado é rico e vice-versa) poderia dizer:

- Mas você está simplificando demais! Nesse contexto, é claro que tudo isso parece ridículo, mas nós estamos ditando os rumos da humanidade, seu sustento diário, a perpetuação da espécie!

E tem como complicar mais do que já o fazem? Perpetuando a espécie com certeza estão, só não sei que espécie é essa. Talvez a E$PÉCIE. Um dia precisaremos, se já não precisamos, de auditores que façam auditoria nos auditores dos auditores, dos auditores... Mas, claro, não é assim que vai se chamar. Será a Audi3pG Carlson-Kramer 9005, ou coisa que o valha. E talvez até o Carlson ou o Kramer ganhem um prêmio Nobel por isso, simplificar o mundo dos negócios e, conseqüentemente, a nossa vida. Bom, eu não estou vendo a vida se simplificar em nenhum aspecto. É fácil confundir simples por cômodo, habitual. Estamos nos acostumando a pensar em todas as coisas de maneira mais complicada, a ponto de se tornarem simples, ou, quando somos apenas mão-de-obra barata, limitamo-nos a relegar essa rotina complicada aos nossos superiores, o que complica ainda mais a nossa simplificação da vida. Pode parecer complicado, mas é simples: ficamos escravos de tudo o que construímos.

Assistir: Syriana. Fabuloso filme que fala muito mais sobre isso do que a bobajada acima. Mas é bom assistir com atenção, talvez duas ou três vezes. É, é complicado.

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Não dá

Agora eu queria começar a escrever. Ia comentar o último livro que li, quantas idéias interessantes... não posso mais escrever. Tocou o telefone, era um vendedor que sabia o meu nome, ele me disse que a oportunidade que ele tinha reservada especialmente para mim era única, imperdível, é uma coleção dos maiores best-sellers de todos os tempos, eu pagaria por eles em prestações levíssimas no cartão de crédito, falei que pensaria a respeito, afinal todo mundo já leu, não sei se quero ficar de fora. Eu ia até tentar escrever. Estava com um pensamento bastante fértil na cabeça, sobre originalidade e o contrário dela, como tudo hoje em dia é reproduzido em massa... não posso mais escrever. Deixei a televisão ligada, está passando uma matéria que me chamou tanto a atenção, sobre um artista famoso da antiguidade que vai ter suas obras estampadas em camisetas e bonés, tudo em prol das crianças do Camboja que passam fome, parece que foi idéia de um estilista bastante conceituado na sociedade, que já pintou quadros nas ruas da Europa, passou dificuldades financeiras em sua juventude, fico pensando se não seria essa uma nova forma para a arte, que funciona, uma coisa tão acessível e ainda por cima com um propósito tão bonito, será que eu quero ser mesmo artista, pois não me vêm essas idéias inovadoras à cabeça, devia expandir os meus horizontes, como a própria personalidade que fala na televisão diz que todos têm de fazer. Será que vou ter tempo de escrever, ainda? Tantas vozes gritando dentro de mim desde o sonho que tive na noite passada, alguém me dizia para ficar de olhos abertos para a manipulação, outra voz falou em escravidão, isso seria material interessante para um texto... não posso mais escrever. Lembro-me, agora, tenho que procurar emprego, pois o dinheiro que ando ganhando não é digno, nem suficiente, nem o jeito como eu o gasto é bom, eu não trabalho o montante de horas necessárias e nem tenho um emprego direito e justo para poder comprar as coisas que o vendedor do telefonema me disse que preciso ter, fora que o trabalho enobrece o homem e ando me sentindo tão longe da nobreza, estaria mais perto dela com um terno e uma gravata, há empresas com propostas tão claras para melhorar a vida das pessoas, eu devia trabalhar numa delas ao invés de ficar me masturbando com esse suposto trabalho, afinal, não pode ser considerado trabalho algo que me deixa aí solto para fazer meus próprios horários e as coisas que eu gosto, poder falar das que eu não gosto, isso seria muito egoísmo, ninguém tem o direito de ficar fazendo seus próprios horários enquanto os outros ralam o dia inteiro, não têm tempo nem para pensar, comer, ver os amigos e a família, os filhos, respirar, se comunicar, amar, ler, ir ao cinema, ao teatro, estudar, e desmaiam em suas camas, à noite, pois ir dormir simplesmente quando se está com sono é realmente coisa de vagabundo. Mas será possível? Tenho tanta coisa importante para me preocupar que não estou conseguindo escrever! Queria falar do amor, das mulheres, hoje conversei com uma garota linda no ponto de ônibus, ela veio me pedir uma informação sobre o itinerário e acabamos trocando umas palavrinhas, ela é muito inteligente, gosta de poesia, estava indo para a faculdade (ela faz o curso de letras) fiquei extasiado, e que graça ela tem, que olhar interessante, pena que não pude conversar mais com ela, foi tão rápido, o ônibus dela passou e... não posso mais escrever. Não posso, imagine, daqui a pouco estou com 30 anos, preciso me casar, dividir meus bens com uma mulher, não precisa ser uma mulher incrível, só alguma que satisfaça por um tempo as minhas necessidades fisiológicas, lave minhas roupas com amaciante, faça uma comidinha gostosa, seja simpática, hora ou outra ela me dá um ou mais herdeiros, como na vida normal, assim, como deve ser, a gente vai poder exibi-los nas festinhas dos nossos queridos amigos, vou adorar elogiar os filhos deles, apesar de eu achar aquele ali um pouco mimado, mas, bom, ele tem o direito de ter tudo aquilo que os pais ralaram a vida inteira para dar a ele, tantos brinquedos caros, escola particular, isso é que é uma criança de sorte, não precisa ter contato com aquelas pobres e desgraçadas crianças do Camboja, ou mesmo as daqui, elas vão crescer seguras num condomínio fechado, ah, como é bom poder ter um pouco de paz, apesar de que vai haver muitas brigas no meu casamento, provavelmente, dependendo da mulher e do meu estado de espírito (ela pode ter olhado diferente para aquele meu amigo cafajeste, será que ela está me traindo?) podem até ser aquelas de quebrar coisas, quando os vizinhos chamam a polícia, mas taí uma coisa perfeitamente normal numa relação homem/mulher, é melhor do que ficar por aí solteirão, não pega bem. Juro que estou tentando escrever. Imaginei uma tirada cômica qualquer, alguma paródia da vida cotidiana, algo que fizesse o mais duro dos homens rir, mas ao mesmo tempo estou checando meu correio eletrônico, um amigo enviou-me uma montagem hilária de fotos, estão tirando sarro de uma mulher gorda que tenta entrar num carro pequeno, há, há, há, mal consigo me conter, que pretensão a minha querer escrever algo cômico, já tem tanta gente criativa por aí, olha só, tem outro, meio pornográfico, um rapaz tentando convencer uma garota a praticar sexo oral com uma sacada tão perspicaz, há, há, há, estou até chorando de rir, isso é que é humor, eu devia mesmo era criar uma página na internet para mostrar esse tipo de coisa, todas as minhas besteiras, talvez eu fique até famoso por isso, quem sabe, essa era da informação dá tanta liberdade para as pessoas se expressarem, como nesses blogs, é isso, um diário público “virtual”, seria tão prático, eu não ia precisar me preocupar tanto em escrever, seria só colocar o que aconteceu no meu dia, praticamente uma crônica cotidiana pessoal, isso sim é democracia, todo mundo tem seu espaço na grande teia mundial. Até comecei a esboçar umas linhas, mas, ah, tanta coisa para pensar, tantos projetos de vida. Nem sei se quero mais escrever, acho que quero, mas está ficando tarde, afinal de contas, escrever não vai me levar a lugar algum, ninguém vai ler, mesmo, o que vale é meu sucesso individual, o progresso de cada um, preciso comprar um lugar só meu, preciso chamar tantas coisas de “só minhas”, isso é que é importante, progredir na vida, vencer, tem gente que não vê isso, era sobre elas que eu queria escrever, na verdade, sobre essas pessoas medíocres que não aprendem nada, não sabem aproveitar o dia, a vida! Eu bem sei, mas estou vendo que hoje não vou poder escrever.

AllanZi - 17/09/2003

sábado, 31 de março de 2007

O sistema em bloco do delicioso dinheiro violento

Eu adoro o Bloco de notas. É verdade! Se tem uma coisa que o Bill Gates fez bem feito nesse mundo foi o Bloco de notas. Um programinha safado de simples, mas que não consigo deixar de manter ali, no cantinho da tela, sempre, em um atalho rápido para dar vazão igualmente veloz a qualquer pensamento que passear pela mente durante o grande tempo que passo por dia na frente desta coisa que insistem em chamar de "micro" computador. E com pouquíssimas opções de estilo, esses acessórios que só nos fazem perder mais tempo do que já perdemos brigando com o Word.

Mas o Bill Gates fez muito mais do que o Bloco de notas. Devemos supor, é claro, que para entrar no seleto grupo das pessoas mais ricas (materialmente falando) do mundo, é preciso realizar algo mais... hum... grandioso? Pois ele criou um império. Aqui nesta atrasada (deve fazer um mês que não escrevo nada) e insólita blogagem, tentarei estabelecer uma conexão ainda mais insólita e criada totalmente a partir de meus pífios conhecimentos entre algumas das coisas que nos parecem mais reais: negócios, riqueza e violência.

Pois bem, Bill e Steve, dois universitários nerds, nos esquisitos anos 70, ignorando essas bobagens de Vietnã e Guerra Fria, começaram a brincar sério na garagem de um dos dois em maravilhas de brincadeira que viriam a revolucionar vários desses mundos que dizem ser os nossos: o dos negócios, o da tecnologia, o das relações humanas, do entretenimento, da comunicação... uma porrada de mundos! Cortando a parte em que Steve (Jobs) foi para um lado comer sua iMaçã e o outro para outro, ficar olhando pela janela - eles criaram um sistema operacional que operaria o sistema. Especula-se que eles tenham copiado a brincadeira da Xerox, sim, aquela que virou sinônimo de fotocópia, mas vamos ver se ponho um link aqui para vocês se deliciarem com essas pequenezas e continuar o pensamento.

Eles permitiram que eu escreva esta bobagem toda no Bloco de notas (eu te amo), que você leia essa bobagem aí do outro lado, e que possa, a qualquer momento, conduzir um rato eletrônico para outra bobagem qualquer que esteja ao redor dessa janela que não dá para fora, mas para dentro, isso é lindo, deram visualidade para operações virtuais que reinventaram o antiqüíssimo trabalho com papel, guardado em arquivos de metal com centenas de quilos, que nos poupa energia, tempo, dinheiro, tudo com esforço mínimo, delicioso, é pornográfico, bate-papo, câmera, risos, é o computador, beije-o, coma-o, msn, que tesão, jogos, mp3, dvd, homens, mulheres, ah, adão e eva no second life, orgasmo!

Este é o lado bom, talvez branco, a superfície, talvez água, o Yang, o cristalino, o bem-aventurado, a bonança, os bem intencionados, gente que fez dinheiro fazendo coisas boas para a humanidade, muitos podem supor. Supunhetemos, então, que eles sejam a exceção, mas na verdade são a metade dos capitalistas. E vamos para o lado negro, o Yin, as trevas, o underground, o fogo do inferno, o quinto da puta que pariu, os malignos, o azar.

Alguém aí assistiu O Senhor das Armas? Filminho legal, tal, Nicolas Cage, sacadas de câmera, bala na agulha, cano da pistola. Denúncia: oh, existem contrabandistas de armas! Eles são frios e calculistas! E são ricos! Ora, e por que não poderiam estar na lista Forbes dos homens mais ricos e poderosos do mundo? Homens, sim, pois mulheres são usadas nisso tudo com muito menos participação nos lucros, o machismo atinge também o trabalho "informal"... E mais, o que impediria estes homens de figurar em tais listas como benévolos publicitários, CEOs e CFOs de grandes empresas das indústrias da informática, construção, telecomunicação, educação, dos móveis, do mármore, dos refrigerantes, explosivos de extração de minério, do petróleo, das jóias, do fast-food, calçados, música, cinema, cigarro, vidro..?!

Billy e Stevie ganharam o sistema fazendo um sistema. Estes personagens ocultos ganharam o sistema sistematizando o crime e botando medo nos boas praças da superfície. Um mundo subterrâneo que sustenta todo o resto visível, fornecendo Kalashnikovs para guerras civis em países de terceiro mundo e de fronteira em terceiros orientes-médios, maconha para o favelado e cocaína para o playboy, redes de jogos com bicheiros e donos de bingo, produtos contrabandeados no Centro de São Paulo e nas praças de Moscou, pirataria de artistas famosos dos Istaduzunidus e jogos eletrônicos Made in Japan. A máfia promove muito mais estabilidade para o mercado mundial do que aquela bolsa da China que falei no penúltimo e longínquo post. A violência é muito mais parâmetro de saúde econômica que o "Risco Brasil" e termos estúpidos afins. O risco de sangue no chão indica muito mais a vitória de uns sobre outros no âmbito da concorrência corporativa do que o traço vermelho na apresentação em Power Point (outra grande invenção dos nerds) dos presidentes de multinacionais indicando baixa nos lucros.

Tudo está no método e no fim. Enquanto temos bonzinhos trabalhando para criar os móveis que permeiam a escola, que educa pessoas que trabalharão como faxineiros em um banco ou que serão cientistas a tentar salvar o mundo com pesquisas financiadas por mega empresários sobre a cura da Aids, temos mauzinhos operando na surdina para incitar o vício em heroína do músico famoso, que dividirá a agulha infectada com um outro pobre coitado que tem diabetes e compra medicamentos da Pfizer, remédios que outro misturará no Johnny Walker para dar um barato e fumar tranquilo um cigarro. Em tudo há o leve e o pesado, o lá e cá, o céu e a terra, o forte e o fraco, o bonito e o feio, o dentro e o fora, o Yin, o Yang, a água, o fogo, o bem-aventurado e o desgraçado, o crsitalino e o opaco, o "certo" e o "errado".

William Bonner: Novos ataques do PCC aterrorizam São Paulo e levam caos à cidade que nunca pára.

Fátima Bernardes: Novo iPhone revoluciona mundo das telecomunicações e coloca Apple na vanguarda da tecnologia.

William Bonner: Nova vítima de bala perdida no Rio de Janeiro é a sétima em uma semana.

Fátima Bernardes: Novidade no Japão: camisinha que fala é a nova onda entre os jovens na terra do sol nascente.

Homer Simpson: Ãhn?

E a gente fica encucado vendo os políticos falarem que vão dar um jeito na violência. A violência! Mas há muito mais gente interessada em sua continuidade do que pode imaginar nossa ingênua telespectadoridade. Ela movimenta uma indústria muito mais poderosa do que aquelas que têm seu sucesso comunicado pela sorridente Fátima Bernardes enquanto o motorista de ônibus come arroz com farinha. O crime, comunicado diariamente pelo viril William Bonner enquanto a dona-de-casa passa roupa, sustenta com conexões muito sutis, porém sólidas, entre os heróis e os vilões da sociedade capitalista, toda a "realidade" de progresso, evolução, riqueza e bem-estar que estamos acostumados a almejar em nossas vidinhas trabalhadoras e trabalhadeiras, com os olhinhos brilhando de emoção ao comprar um celular novo. Todo branco tem um preto e o equilíbrio desta nossa casa moderna, maravilhosa e iluminada, é um porão nojento, frio e escuro.

A mesma grana que nos mata cruelmente nos enche de gozo empanturrado todos os dias, criando ligações sinápticas entre o mundo e o submundo. O dinheiro sujo é limpo pelo limpo, que depois é sujado. Mas pode ser que esse equilíbrio esteja apresentando sintomas pendentes ou balançantes de destempero e exagero. A violência é produto e produção, assim como é produzida a vida tranquila que produz consumo. Da próxima vez que ler sobre o mais novo bom moço.com e o vir com penteado impecável na foto, pense que, por trás das lentes, ele pode estar apertando a mão do mais antigo escroto.br, piolhento e seboso, para que tudo fique nos conformes e a roda gire... pelo menos durante o tempo que durar seu impulso. No momento em que ela começar a parar e alguém girar para o outro lado, pode ser que nosso universo.org comece a degringolar, gerando o caos da próxima revolução, que vai virar a mesa e trazer novo balanço à gostosura da vida em sociedade. Mas eu adoro o Bloco de notas.

Ouvindo: A Tribe Called Quest - Electric Relaxation. Nesse vídeo abaixo vocês podem perceber que eu gosto sim de hip hop. Talvez este ótimo som vos lembre de repudiar 50 Cent e coisas do gênero quando ouvirem da próxima vez. O hip hop já existiu.

sexta-feira, 9 de março de 2007

Quantum Bush (blogbagem em uma visita só!)

Come to daddy!

No dia do eclipse lunar total, um evento que exerce fascínio incondicional sobre a grande maioria dos seres humanos e, quem sabe, outros seres, eu estava num lugar alto, com vista privilegiada do céu. A conversa com uma amiga tomou rumos de questionamento existencal básico, sobre nossa pequenez diante do universo, quem somos, de onde viemos, para onde vamos... Tudo inspirado pela visão extraordinária de um satélite natural, um astro, afinal de contas, que mostrou sua vulnerabilidade em relação a um fenômeno tão convencional quanto um bloqueio da luz, uma sombra. Parece bobagem pensar em algo assim, mas com quais outros corpos celestes poderíamos observar, a olho nu, tal acontecimento, senão com a Terra, o Sol e a Lua?

Pois bem, papo encaminhado aos mistérios da vida, ela comentou o filme "Quem Somos Nós", o que constatei mais tarde ser uma tradução bastante arbitrária. O nome em inglês é "What the Bleep Do We Know!?", a palavra "bleep" representando o bipe que ouvimos em programas de televisão quando alguém fala um palavrão. Portanto, "Que ***** Nós Sabemos!?" ou ainda "Que Diabos Sabemos Nós!?" poderiam ser alternativas mais interessantes. De qualquer maneira, o filme se apresenta como uma introdução à física quântica e, nas palavras dela, outras pessoas que o viram consideraram a película muito "didática". Assisti ao documentário e, apesar dele possuir opiniões especializadas em abundância, achei menos didático do que poderia ser. Na verdade, ele acaba sendo simplista e eliminando conexões importantes para explicar os fenômenos que busca explicar e com os quais maravilhar os telespectadores, sugerindo viagens no tempo, possibilidades infinitas de manipulação da matéria e por aí vai.

Interromperei este assunto com uma pequena dose de crueldade, para mais tarde uní-lo a outro. No mesmo dia, conversamos sobre a construção da história e de teorias que apóiam um grande período de domínio da mentalidade esquerdista, a partir dos anos de governo militar, que são contados pela esquerda, e portanto o consenso sobre as torturas, repressão generalizada, polícia do pensamento, exílio, etc. Ok, mas após 500 anos de história contada pela direita, que tal variar um pouquinho? Isso assumindo que esse direitismo começa na escola, onde somos ensinados a pensar na benfeitoria dos bandeirantes, na selvageria dos índios, nas boas intenções dos catequizadores em difundir o cristianimso (historicamente de direita, ou seja, a favor de políticas totalitárias e/ou capitalistas) entre os pobres animais. Atingir a imparcialidade é, na minha opinião, uma grande utopia, e se vamos ter que engolir interpretações de dois ou mais vieses intercaladamente, assim seja, até que consigamos pensar em uma solução.

E não é nem questão de ser lá ou cá, mas perceber uma realidade muito maior. Não era só no Brasil que havia governo militar. Os EUA apoiaram e colaboraram em muitos outros lugares para manter um bom nível de controle sobre a região e impedir que, em plena guerra fria, esses países de terceiro mundo pendessem perigosamente para o lado comunista do "conflito". Estudiosos, economistas e políticos, na maioria militares ou apoiadores do regime, excluíram de seus escritos a parte em que fomos apenas joguetes nessa briga por poder, a caminho do grande desenvolvimento que nos esperava. Se um período de prosperidade (questionável) tem esse custo e está tudo bem para nós, ora, que volte logo o tal regime!

Muito se fala no declínio evidente da influência soviética no mundo e da ruína da URSS, mas pouco se fala da gradual e simultânea extinção dos regimes militares de direita. Talvez porque não fosse mais necessário, graças à queda do lado inimigo, mas podemos supor que as duas frentes retraíram por motivos muito próximos: a vitória do neoliberalismo, que não via aliados no conservadorismo exacerbado de nenhum dos lados (cá para nós, o comunismo também tinha lá seu quê de conservador), mesmo podendo ser creditada essa vitória também à direta, como era conhecida na época. Este novo (mas não tanto) conceito econômico com óbvias consequências políticas acabou entrando forçadamente como uma terceira via, claramente capitalista, mas muito mais branda do que a ditadura, se é assim que queremos continuar chamando o governo militar (Oh!).

Eis que paramos para observar o Brasil, pedra imponente incrustada na América. Aqui se fala o português, ninguém quer saber do espanhol, sabe-se mais da história de grandes homens franceses e americanos. O que você aprendeu sobre a Venezuela ou a Bolívia na escola? Muito mais do que aprendem os americanos e europeus? Lá também tem Amazônia... Eles mascam folhas de coca para enfrentar a altitude... Que índios interessantes! Você, que usa camisa do Che... ou você, que o considera um assassino mordaz... não importa: ele foi um dos primeiros a falar de América Latina unida, e isso não quer dizer Mercosul ou acordos comerciais fortes para combater o dólar e o euro em igualdade no mercado internacional. Pelo menos não para mim! É um envolvimento cultural mais forte, criar laços mais estreitos, um interesse verdadeiro pelo povo vizinho. Mesmo que Huguinho Chávez e Evinho Morales não estejam pensando muito nisso, talvez estejam, enjoa-me ouvir opiniões duras contra esses insignificantes países, vindas de quem nunca se interessou em absoluto pelos coitadinhos.

É pelo mesmo motivo que a Lua nos interessa mais durante um eclipse! Ela está sempre lá, rodando, quietinha, com suas fases... até olhamos para ela com mais freqüência quando está cheia, mas ainda assim o fenômeno da sombra supera em número de espectadores. Se agora somos forçados a olhar para a Venezuela por causa do eclipse da nacionalização, com as fases da estatização, da recusa a acordos multinacionais e, quem sabe, em última instância, o confronto direto com os EUA ou qualquer outro país que não esteja satisfeito com isso, ora, pelo menos agora estamos olhando para aquele cantinho do continente! Agora o Bush vem falar para o Lula escolher logo seu lado. "Governo americano investirá MILHÕES na Ameriquinha..." Who's with me?! E o Brasil, cumprindo seu papel de testa-de-ferro, como bem disse meu avô, impõe sua economia avançadíssima sobre os temíveis países terro-nacio-socia-comunistas... austero, imponente, chefinho do quintal... que tristeza!

Saibamos que, logo após o 11 de Setembro de 2001, especulou-se uma suposta tríade maligna na Am. do Sul: Venezuela, Bolívia e Colômbia... e, surpreendentemente, a eleição certa de Lula, um sindicalista, um nordestino, um ignaro instruído oriundo do proletariado, incluiria o Brasil na brincadeira. Leiam um trecho desse artigo de 2003, na minha tradução livre, que analisa a política externa americana após os ataques. (leia na íntegra em inglês, se preferir, no site da FPIF, Foreign Policy in Focus, do Centro de Relações Internacionais):

Do Chile a Cuba, de Cuba ao México, países latino-americanos se uniram a Washington no encalço dos ataques de 11 de Setembro. A Organização de Estados Americanos [OAS, em inglês] emitiu uma declaração, dizendo que "individual e coletivamente, nós vamos negar a grupos terroristas a capacidade de operar neste Hemisfério. Esta família americana permanece unida". A despeito desta irrefutável demonstração de solidariedade, a administração Bush voltou largamente as costas para seus aliados latino-americanos. Mais perturbador é que está promovendo guerra contra seu próprio "eixo do mal" latino-americano - os "narcoterroristas" colombianos, o Fidel Castro de Cuba e o Hugo Chávez da Venezuela - com pouco ou nenhum esforço para levar em conta as preocupações dos líderes latino-americanos, realizar acordos regionais ou comprometer-se com a OAS.

Ainda outro país foi adicionado a este "eixo do mal", de acordo com o representante conservador Henry Hyde, com a eleição de Luiz Inácio ("Lula") da Silva no Brasil. Durante sua posse, Lula garantiu erradicar a fome no maior país da região, uma ameaça [a fome] muito maior do que o terrorismo internacional, incitando o presidente venezuelano Hugo Chávez a proclamar um "eixo do bem".

E o Fome Zero não vingou. Mesmo assim, para algumas instituições dominantes, é tempo de reavivar laços, dá para perceber? Bush e o Papa vêm ao Brasil... afinal, não se pode deixar a peteca cair! Católicos a todo vapor adorando um membro da Opus Dei (defesa e "crítica") dentro de um carro à prova de balas! Americanistas medrosos a todo gás (venezuelano) babando ovo para o presidente das guerras inventadas em um carro blindado! Não que os EUA estejam lá muito preocupados com a imagem que passaram ao enfiar o dedo na cara do Brasil quando sentiram-se ameaçados com o terrorismo, é nossa obrigação superar isso, não é? Afinal, o "papai" da América é assim mesmo, meio durão, dá umas broncas de vez em quando nos filhinhos, sob pena de tirar-lhes a mesada ou, hum, aumentar os juros sobre a dívida da mesada. George Bush veio é ver se está tudo correndo bem no celeiro, enquanto o pobre Lulinha fica chupando o dedo ou a cana-de-açúcar na esperança de que nosso metanol venha a resolver todos os problemas da economia brasileira.

Fora-Bushes em todo lugar não vão fazer muita diferença enquanto Lula diz "venha Bush"! Digam o que quiserem, mas romper com a economia americana demanda muita coragem... Se a Venezuela e a Bolívia definharão nas próximas décadas, só o tempo dirá. Resta-nos escolher se queremos apenas assistir e ficar na corda-bamba por tempo indefinido e de maneira compulsória, ou se vamos finalmente enfrentar a queda pela qual esse país ainda não passou, não sofreu, um país que ainda não existiu... Risco-Brasil, alta e queda de juros, do dólar, do real... Enquanto o Brasil for dependente, cada vez colônia de uma metrópole diferente, não vai chegar nem ao extremo bom e talvez nem ao extremo ruim.

O presidente parece estar fazendo tudo certinho ao receber o texano com um tapete vermelho, inclusive atrapalhando o já bem atrapalhado trânsito de São Paulo. O Lula de quem a Regina Duarte tinha medo, 4 anos e pouco atrás, acabou não fazendo nada que ameaçasse o tédio da classe média, o bolso da classe alta e a miséria da classe baixa. Tampouco é o Lula que cumpre corretamente os mandamentos do Consenso de Washington, já que ainda é criticado duramente por não promover o desenvolvimento econômico que se espera de um país desse tamanho. Mas, por que lado então criticar esse presidente, fantoche ou não, se esse paradoxo não tem solução? A única maneira de criticar é por pensamentos políticos diferentes. Se quero um país de primeiro mundo, alinhado aos interesses do resto do primeiro mundo, seja lá o que isso signifique, quero um presidente de... direita? Se quero um Brasil livre de dívida externa, cultura de massa, sem escalada por dinheiro nem violência para coletar os resíduos da riqueza excedente e concentrada (a nossa tal crise da violência, que, pasmem, não brota da terra), quero um presidente de... esquerda?

Quem dera fosse simples. Como também não tenho resposta para isso, voltarei às questões existenciais, mais misteriosas ainda, mas divertidas, de certa maneira. A física quântica é, em termos extremamente simples, a física das possibilidades. Porém, ela foi envolvida em uma manta New Age nos anos 70 e 80 do século passado, o que confundiu bastante as coisas. Passou-se a falar de "pensamento positivo" e que a matéria, nossos corpos e o estado das coisas poderia ser alterado com o poder da mente - basta condicionar-se para fazer escolhas diferentes, ou todas as escolhas ao mesmo tempo, enfim, quem sabe arranjo alguém gabaritado para falar disso aqui no blog em breve. O fato é que, para muitos, finalmente uma ciência trazia fé! Sim, pois é sabido que pensamos em religião para assuntos de fé, nossa imaginação e nossos desejos, e em ciência para assuntos estabelecidos, o real.

Assim, depois de assistir ao filme, fiz algumas pesquisas a respeito da física quântica e achei, de fato, mais conversa New Age do que qualquer outra coisa. Mas o engraçado é que me deu, sim, alguma esperança. Isso me deixou desconfiado e me fez ir atrás dos céticos que refutam o uso atual desta ciência com muita veemência. Mas isso também não me satisfez, fiquei com um pouco de raiva dos ultra-sérios. Percebi que quanto mais me aproximo de uma crença qualquer, mais quero me afastar dela, e quanto mais me afasto, mais quero me aproximar. Estamos sempre procurando algo em que acreditar. Se não estamos, afundamo-nos na apatia do dia-a-dia, ou na alegria de não ter preocupação maior do que trabalhar para comer, reproduzir, divertir-se e morrer. Mas a pulguinha atrás de nossa orelha é muito insistente e, como eu, você já deve ter se perguntando "o que somos?", "para onde vamos?" e afins, além de parar às vezes pra pensar que são muito poucos os que se envolvem com essas questões realmente importantes da vida, seriamente ou mesmo profissionalmente. Quem está promovendo nossa evolução constante, ou como quer que se chame o processo que nos leva a realizar implementos diferentes, de tempos em tempos?

Se a evolução é o que nos manteve andando sobre a Terra nesses trocentos milênios, que permitiu nossa adaptação a novas condições sem que deixássemos de reproduzir, então existimos para evoluir e evoluímos para existir. Este processo não é palpável, ou visível enquanto acontece, talvez não na questão biológica, mas na tecnológica é, e muito. Você se sente envolvido neste processo de evolução tecnológica, de progresso, de alguma maneira além de trabalhar que nem um camelo para gerar dinheiro, para que "alguém" cuide disso para você? A comunidade científica é enorme, sim, mas não será acertado dizer que as decisões históricas mais importantes foram tomadas por "eleitos" e "iniciados" nas artes do poder, da ciência e da produção em geral? Não sei de você, mas, acredito que a chamada democracia, que deve existir em algum lugar remoto, não aqui no Haiti, implicaria participação em TODOS os processos decisórios por parte do povo, isto é, se você quiser fazer faculdade de física nuclear e contribuir para uma nova Guerra Mundial, você pode!

Para me sair bem dessa confusão toda, tento dizer o seguinte: se você quer realmente fazer a diferença, trate de se esforçar para ter uma participação real no pensamento da produção, na geração de lucro, na organização social, na revolução tecnológica, na pesquisa biológica, sei lá. Só não fique punhetando em blogs, jornais ou discussões de bar. Poderia terminar apenas com essa ironia raivosa, mas prefiro terminar com um poema de minha autoria. Calma, não o escrevi agora, depois ou antes desta bíblia de sandices, faz algum tempo. Tenho outros sobre o mesmo tema, mas com o tempo vou publicando. Talvez a arte seja uma punhetagem mais digna, pois brinca com a técnica ao mesmo tempo em que mexe com os sentimentos. Sintam alguma coisa ou não, mas tomem uma posição, pelo amor de deus!

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Piada Fácil (Vício Circuloso)

Deixemos de lado
o lado outro onde o óbvio ulula
Façamos política, apenas,
se for nula a pena por ter o mundo despotizado

Voltemos às trevas,
já que a luz do saber vislumbramos em bombas.
Louvemos ao corvo,
já que as brancas pombas matamos
sem reservas

Quebremos o vício
Pois por séculos certos
circulamos duvidosos.
Toquemos na chaga,
já diz o mago que sara:
falemos da ciademocra
sem dizer que a val escratiza

Criemos então a ideal,
o contrário do óbvio:
afirmemo-nos na incerteza,
aprendamos pelo paradoxo.
Percebamos que humor não é quando a desgraça é engraçada,
mas quando a piada é não fazê-la.

AllanZi – 21/10/2003