terça-feira, 18 de junho de 2013

Virou o tempo em SP

Manhã de segunda-feira cinza, fria e chuvosa. Nada de novo em São Paulo, até que outro santo, São Pedro, resolveu ajudar o povo paulistano limpando bem o céu da cidade à tarde, lá para as 17h, no dia 17 de junho de 2013. Caía a noite e a multidão que tomava o Largo da Batata, em Pinheiros, pôde ver estrelas e um enxame de helicópteros que, como abelhas ávidas, mas ordeiras, sobrevoavam o local, um a um, buscando registrar a história. A HISTÓRIA! Fontes "oficiais" falam em 65 mil pessoas se movimentando a partir dali, opostas ao aumento da tarifa de ônibus, de R$ 3,00 para R$ 3,20, mas o que vi, ouvi e senti me pareceu muito mais e POR muito mais.

Foi LINDO. Mas no dia seguinte, estou aprendendo algumas duras lições. Diferentemente da Primavera Árabe, o Inverno Brasileiro mostra que a gente ainda precisa lutar para lutar. É assim: agora, todo mundo quer entrar na dança e colocar na mesa certos clamores padronizados, partidários, conservadores e pessoais, que NADA têm a ver com o que brota, verdadeiramente, das ruas. Você, amigo que esteve ontem, quinta, terça e antes ocupando a cidade, já deve ter percebido uma miríade de pessoas na sua "timeline", gente que nunca moveu uma palha para mudar nada, te dizendo direta ou indiretamente (com imagens compostas no Paint) aquilo pelo que "parece mais apropriado" que você lute. Ora.

Assim, temos que lutar para continuar lutando pelo que lutamos. A definição, o foco, o ponteiro, tudo virá disso. Mas não é simples. Muitos, milhares, milhões ainda confiam nos meios tradicionais de comunicação para obter sua informação diária. Esse é um dos grandes perigos, já que os interesses midiático-corporativos também se somam às tais vozes divergentes para apontar como "se deve" protestar. Lutaremos para que a fonte mais confiável de informação seja o próximo, o companheiro, o amigo, ao vivo ou pelas redes eletrônicas, antes que elas sejam tomadas por patrulheiros chatos.

Lutaremos também para que não haja palanques eleitoreiros misturados nessa massa. Tenho visto mesmo políticos que EU ajudei a eleger dando uma de camaradas do povo, mas isso não me engana. Outros que também nunca conseguem se eleger estão correndo para dar às mãos na ciranda - aliás, uma só mão na ciranda, a outra empunhando bandeira. Cuidado com isso e, se for para votar em algum desses no ano que vem, conheça-o muito bem.

Outra luta importante - e vou parar nessa pois, afinal, estou aprendendo devagarinho e já estou começando a soar como se desse palavras de ordem (não é minha intenção) - é para evitar que saiamos disso tudo com a imagem de "rebeldes sem causa". Uma: não vamos "sair" disso, já que o processo apenas teve início. É mesmo um despertar, o abandono da inércia que uma infinidade de pessoas que vejo e ouço, ainda, entre uma garfada e outra no restaurante barato por quilo, sustentam em situação de conforto: "Deviam é ter protestado no mensalão... quando fomos escolhidos para a Copa... quando isso, se aquilo..." Chega! Encontraremos nosso Norte. Duas: causa temos sim! Não é suficiente estar inquieto e infeliz com a vida que se vive na cidade, em tantos sentidos?

De qualquer forma, só o que me parece ser legítimo, mesmo, genuíno, por mais "difuso" que os almofadinhas digam ser, é o que é dito nas ruas. Deixo aqui o meu apelo: rejeitem o que se tem falado no jornal, na TV, no Twitter e no Facebook e VÃO ÀS RUAS ouvir cada um dos clamores dessa "gente perdida". Lá, você vai encontrar a SUA voz e todas elas crescerão em uníssono, com cada vez menos violência, mais consciência e união. Não deem ouvidos ao colega reaça de trabalho que prefere "cuidar da sua própria vida" em vez de "fazer baderna". Estamos cuidando de nossas vidas, sim, tomando as rédeas dela, pela primeira vez.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

O cassetete invisível



Olhos abertos, sem querer que estejam. Dispara, no pulmão, a respiração curtinha; no coração, o aperto se aperta; na garanta, um nó cego. Tem início o dia do cidadão de bem, feliz por poder ir e vir durante horas no trânsito lento de luzinhas vermelhas, ter a chance de comprar bugigangas na sexta-feira negra, por desfrutar das virtudes culturais coloridas de uma metrópole cinza. Ele está feliz por ter um emprego de 8, 9, 10 horas diárias onde pode ser verdadeiramente falso e distribuir alegremente sorrisos amarelos, que, por entre os dentes, dizem baixinho, sem alarde: "socorro". 

O habitante da cidade está tranquilo: já tomou a pílula de hoje no café, enquanto passava a mão na cabeça do filho pequeno, dizendo "comporte-se, tenha juízo, seja bonzinho". É tudo o que ele sabe ensinar. É tudo o que aprendeu. E parte para o dia sem medo de ter medo, olhando para os lados, prevenido contra o outro e tudo o que pareça estranho, ainda que seja o próprio espelho. "Está tudo bem, mas é bom ficar esperto", pensa.

As cobranças são naturais para esse ser civilizado, ele tem que ficar de olho na meta. É o pão que dela depende. Ele tem um alvo a atingir, mas também um pintado na testa. Esse ele nunca vê. Não precisa, afinal, é só não se virar, nem se levantar, ficar abaixadinho, mesmo, aqui atrás da divisória do cubículo, que tudo fica em paz. Não está na mira, nem atira, não fica no meio do que não lhe pertence, enquanto se apropriam de tudo o que poderia ser seu e de todos.

Volta pra casa, sua propriedade, e passa um tempão com a família, o que já é uma tradição: 2 horas. Depois de um banho morno e um beijinho na esposa, dorme o sono dos justos, não sem antes dar um traguinho rápido, ainda que desesperado, em um álcool qualquer. É só pra não tomar duas pilulinhas em um dia. Está relaxado, mas seu pesado sono não tem sonhos. Pesadelos também não tem, mas ele sabe que, se não mantiver religiosamente essa rotina, ele pode vir. E ele vem: olhos abertos, sem querer que estejam.

Quem se revoltaria contra uma vida tão indevida? 

Quem ousaria se levantar pra por o dedo na ferida? 

Quem se importaria em mudar quando a inércia é a medida?

Você e eu.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Bad times


Bad times when we killed for food
when we killed each other out of greed
envy or...

Bad times when we did nothing but point
point, point our fingers at the scars
moles and...

Bad times when we summoned money
with its power to put things over
over...

Life

Good times are now
that we no longer need to battle
for the space to be

When are we now?