quinta-feira, 24 de julho de 2014

Apuros


cansei de estando
ou, ainda que sendo
não sendo, pois
sem ser
não rimo nem verbo

queria ser...
serpente!
deixar casca
e ir em frente
não siri
pondo na concha
por onde segui

ainda que transitivo
ou transitando
preciso ser diretivo
mais direto
menos rodeando

impeço o caminho
ao voltar pro ninho
construído no ar

mas quero sozinho
destruir a bolha
(tão fina)
que me faz correr
no lugar

com passos mais fortes
sentindo os apuros
suando os passados
sangrando os futuros

vou me presentar


--

Inspirou-me a esse texto essa beleza de música (dê play, sem medo):



"Cause where you see a wall, I see a door
Set up with no map, and turn off your torch
Cause where you see a wall, I see a door
You'll get through, you'll be home
You'll be home

Just sit still. Does it hurt?
Does it hurt?" 

~ A Wall - Bat for Lashes

segunda-feira, 21 de julho de 2014

o tal tao

Há uma simplicidade complexa regendo tudo e todos.

Uns tentam compreendê-la; outros, subvertê-la; outros, negá-la; outros, divulgá-la; outros, ignorá-la; outros, destruí-la; outros, explicá-la; outros, escondê-la; outros, crê-la; outros, desvendá-la; outros, esquecê-la; outros, homenageá-la; outros, registrá-la; outros, desfrutá-la; outros, desmascará-la; outros, aceitá-la.

Se o um e o outro realizam tais intenções, é irrelevante. O importante é que há. E mesmo quem diz não haver, há de admitir que é preciso presença para haver ausência. Então, há.

O problema é a maneira como uns tentam impor a outros, e outros a uns, sua forma de abordar "isso", cujo nome também é irrelevante. Tudo e todos têm o direito de trilhar seu próprio caminho, em companhia ou na solidão, para aproximar-se ou distanciar-se "disso" que é ou não é.

Entrar em conflitos e propagar a paz, falar e calar-se, construir e destruir, entrar e sair, levar a sério e tirar sarro, considerar sagrado e profano, divino e mundano, aprender e ensinar, iniciar e cessar, fazer e desfazer: é tudo uma questão de abordagem, mas tudo na direção da mesma coisa, "disso", da simplicidade complexa que rege tudo e todos, em última instância.

Perceber isso parece ser o principal trabalho a empreender na vida. E posso estar errado.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Uma nova espiritualidade




















Nós gostaríamos de nos apresentar
Nós somos uma nova geração de desbravadores espirituais
Nós não precisamos mais de respostas de segunda mão

Nós não culpamos mais os outros por nosso sofrimento
Nossa espiritualidade vai além da culpa e castigo cósmicos
E além do pensamento 'nós e eles'

Nós não nos agarramos mais a livros sagrados
Pois todos os livros são sagrados
Nós não matamos em nome da verdade
Pois a verdade está em todo lugar

Nós estamos dispostos a enfrentar sem medo a experiência do presente
Sem conclusões e sem preconceito
Nua, como no dia em que nascemos
Abertos ao que vier

Nós não esperamos mais pela vida
Ou por alguma revelação divina no futuro
Porque nós vemos vida em tudo o que há
Incluindo a espera pela vida
E vemos Deus em tudo o que outrora rejeitamos

Nós não sonhamos mais em fugir
Ou com algum "Céu" perfeito
Pois nos aconchegamos na incerteza
E a dúvida já é nossa velha amiga
E o não saber é amado com carinho
E a imperfeição é profundamente sagrada para nós

O corpo está incluído
A mente não é a inimiga
Sentimentos são sagrados
A sexualidade é celebrada
Nós amamos a bagunça que é ser humano!

E nós finalmente entendemos
Que sabedoria e compaixão
Absoluto e relativo
Dualidade e não dualidade
Transcendência e imanência
Pessoal e impessoal
Humano e divino
Nunca estiveram separados

- Jeff Foster

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Dois e três

 Eu vejo vocês
e eu sei
que é pra ser

Às vezes eu vejo
só vejo
sem me meter

Sei que vou ter
minha vez
às vezes

Ora com uma
ora com outro
mas vocês...

...vocês têm isso
que só vocês têm
e eu vejo

O abraço d'ocês
abraça o meu ver
e a vista embaça

Eu vejo vocês
e me pego
a vigiar

Pra que o lar
de vocês
sejamos nós três

Eu cuido
eu durmo
acordo vocês

Eu nasço
eu morro
eu vivo vocês

Cês dois
nós três
um