sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Ação: o melhor protesto

Dá para engolir um coquetel molotov?

Motiva-me escrever esse texto uma autoindignação. É isso mesmo! Faço aqui um autoprotesto autogerido, apartidário e apolítico contra... mim! Tenho adentrado discussões absolutamente vazias nesses espaços virtuais socialoides sobre a legitimidade dos protestos, sobre a defesa de valores antigos e quadrados, a banalização da violência, o ataque gratuito às diferenças, o preconceito desmedido e uma série de coisas que antigamente se discutia ao vivo, ou talvez ainda se faça por aí nas mesas de bares cheios de filhos da classe AB ou da nova classe C, que transformam tudo numa bela ressaca pela manhã, e nada mais.

Questiono-me: o que pretendo? Convencer alguém de algo? Fazer do mundo um lugar cheio de eus, que pensam e falam como eu? Que propósito tem essa vã batalha nas arenas digitais, essa disputa por quem tem mais razão acerca dos problemas cotidianos (e raramente a solução para eles)? Será que não percebo que a luta já não é mais para ser ouvido? Eu sou ouvido, à exaustão, e ouço também, na internet, as causas mais nobres e o mais ignóbil lixo, que por alguns é chamado de humor. Todos falam, todos ouvem, mas quem faz? Tem alguém fazendo alguma coisa? Será que espero que alguém me diga: "Ah, está bem, deixa eu fazer o mundo melhor pra você, então!"?

Pois bem, se ninguém faz, é melhor que eu faça. Agir é o protesto mais eficaz contra qualquer coisa que se considere errada, qualquer coisa que se queira mudar de fato, que incomoda, que paralisa, escraviza, maltrata, entristece, irrita. Há quem se contente em apenas mostrar que está indignado com alguma coisa, pensando que isso vai conquistar o respeito das pessoas, de seu grupinho ou tribo, ou arrancar aquele aceno de cabeça positivo de quem também só fala e não age. De que me importa o respeito? É com minha imagem que estou preocupado, ou com fazer o bem para mim e para todos, independentemente de quem me vê, aplaude, critica ou "curte" (ganhei mais um joinha, uhú!)?

O que nos petrifica é a dificuldade de mudar. Ora, mas o que você quer mudar? Toda mudança deve ser feita, por acaso, no seu vizinho, no seu amigo, no seu inimigo? Não há nada intrinsecamente humano, porém que mereça ser mudado, para a melhor, em você mesmo? Pois, afinal, os nossos nobilíssimos protestos não estão sendo feitos contra as árvores, a terra, os animais... são contra... pessoas, não? E contra que pessoas você é contra? Quem você quer que ouça seu brado? É melhor apurar os ouvidos, pois você está esperneando contra si mesmo, e já é mais do que hora de começar a escutar seu próprio clamor por mudança, dentro de si.

Se está insatisfeito com os desmandos de seu chefe, mude suas condições de trabalho, ou mude de emprego, ou faça algo que lhe agrade ou agrade outros nas horas livres em vez de assistir televisão ou ver as bobagens que seu círculo de pseudoamigos posta no "face". É fácil encontrar coragem para se reunir num feriado ou sábado de sol para protestar, e pode ser até legal, mesmo, qual o problema em se reunir e caminhar? Mas onde está a coragem para mudar algo no seu íntimo que não condiz com o que você anda pregando? O medo nos motiva apenas à estagnação, à defesa desse próprio medo, mas a vontade de mudar implica muita coragem, coragem boa e vigorosa, de se mexer!

O movimento do que você faz já é, essencialmente, a mudança, pois o status quo, apesar do que falam sobre progresso, é basicamente a manutenção da inércia, passiva e parada. O grande erro desses pobres jovens de hoje é ainda apreciar a enganosa beleza estática das ideologias, dessa coisa emperrada, empoeirada, e o culto à imobilidade disfarçado, embrenhado, camuflado no "dinamismo" das redes sociais. Acompanhe os ataques de direitesquerda no twitter ou facebook e comprove: nenhum desses críticos está movendo uma palha para mudar o que os desagrada. E o que os desagrada, ó céus, senão seus próprios defeitos? A violência, o temor, a injustiça, tudo o que apontamos fora, está dentro, também.

Consuma menos tralha e está mais do que feito seu protesto contra as odiosas estratégias de marketing e o caramba a quatro. Você deixa de ser o target, para de ser alvejado pelo chumbo grosso do mercado, que se sustenta no insustentável, na produção desenfreada e acéfala, que é, justamente, parte do motivo pelo que protestam os ocupadores lá de Nova Iorque, por exemplo. Deixe de frequentar lugares que desperdiçam recursos, abra mão do fast-food, vire vegetariano, ande de bicicleta, sei lá, dane-se, e "voilá!": taí sua sustentabilidade! É tudo uma questão de mover o traseiro, e os protestos começam a virar mudança, atitude, verdade.

Olha aqui, você não é perfeito, tampouco o são nossos "representantes" na política. Você não é totalmente justo, você comete erros, portanto não espere que ninguém seja por você! Se quem está lá no poder não te representa, mas ainda assim está no poder, é porque o poder que eles têm é justamente o de te enquadrar em um perfil, e te tratar como tal: a classe isso ou aquilo, o estudante, o paulistano, o aposentado, o desempregado... Se a carapuça lhe serve para qualquer desses grupos, suas reivindicações serão sempre previsíveis, e facilmente ignoradas. Quando você muda em você aquilo que quer mudar nos outros, o rótulo se descola da sua testa, e você se liberta.

Importe-se menos, ou nada, com o que estão falando a seu respeito e em seu redor, não se preocupe em ficar criticando o comportamento do cara que senta ao seu lado no ônibus, e sinta um pouco o que é estar vivo, descubra o que realmente importa. Ao mesmo tempo, identificando dentro de si o que há de ruim no ser humano, será mais fácil reconhecer nos seus "algozes" aquilo pelo que você protesta e se enfurece, aquelas coisas horrorosas que o levam a tuitar loucamente o seu descontentamento por aí. Perceba todos os sentimentos ruins que poderiam levá-lo a fazer coisas ruins, e entenda, finalmente, que tudo o que acontece se deve a esses sentimentos.

Agindo, não só você mostra sua indignação como faz dela força transformadora, e com seu exemplo inspira a ação de outros. Revolucione-se e impressione-se com o estrondo que isso causa! Só podemos gritar "às armas" se as tais forem o olhar; e se os alvos forem todos esses nossos monstros interiores. Isso é uma rebeldia pela qual só você pode se autocongratular, perceber, e aí sim, propagar. De outra forma, será só mais uma revoluçãozinha ordeira, dessas que saem no jornal. Mas quando você tem a humildade de agir de dentro para fora, o mundo muda com você, tenha certeza.