quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

"Olha pra frente!"

É o que falo quando nosso Pedro, de 4 anos, está correndo e tentando olhar para os lados ou para trás. Porque há precedentes de quedas quando ele corre assim, sem foco.

Correr sem foco. E não é que às vezes um conselho simples que você dá ao seu filho volta com tudo e lhe dá um grande tapa na cara?

E, calma: longe de mim lançar mão de discursinho corporativo sobre concentração em metas e resultados. Nada disso.

Muito mais do que gostaríamos, fazemos isso metaforicamente, na vida. A ordem é apenas seguir em frente, essa ordem muda que nos comanda desde cedo. Então, a gente vai e apenas vai. Isso parece legal, mas não é. E pode ser a origem de muito sofrimento, decepção, descontentamento, depressão. A gente "só vai", mas com mil expectativas não assumidas. Quando batemos na parede da realidade, tudo cai por terra.

E o problema não é tanto de não saber o que nos espera. Não sabemos, mesmo. Não tudo, afinal, pois tem uma coisinha que, sim, podemos ter certeza de que vamos encontrar.

À frente está o presente. 

O que se a|present|a diante de nós. 

Não? E o que mais haveria de haver, na verdade?

Quando tentamos avançar sem observar o que esse 'agora' realmente é, caímos. E, veja, a ideia é apenas tentar. Se vamos saber no que o presente consiste, é outra pergunta sem resposta. O esforço sem-esforço de tentar notá-lo já é suficiente, pois nos mantém minimamente no momento atual.

O futuro não passa de uma imagem na cabeça. O passado, uma lembrança. Melhor entranhar esse saber já sabido e agir como se o passado não tivesse acontecido ao invés de ficar recordando o que é ido, bom ou mau.

Ao invés de correr na direção de algo imaginado, podemos correr sem imaginar nada, cortar o vento do presente, com velocidade total ou com cautela, vai do gosto. Olhar para a frente e viver o presente é a única segurança que podemos ter ao navegarmos por esse pretenso caos da vida/mundo que se desenrola nisso que insistimos em chamar de tempo. 

Nada disso é fácil. E tentar seguir meu próprio conselho é algo que está em andamento, um trabalho em progresso. Mas é simples: um dia de cada vez, uma parte do dia de cada vez, uma hora por vez, minuto a minuto, se puder. A vida não para de se apresentar. E a gente não pode se furtar de algo tão urgente e novo a cada instante.