terça-feira, 22 de outubro de 2013

Um dia na selva internética

Acordei bem cedo. Aliás, mal dormi. A selva da internet chama minha atenção o tempo todo, com sua flora colorida, fauna exótica e ruídos estranhos. A começar pelo cri-cri de um grilo, ao lado da minha rede, dentro da oca: as primeiras notificações do dia, antes ainda que eu me levantasse. E o grilo me segue aonde vou, grilando o que acontece na mata.

O caminho até a caçada diária beira um riacho apinhado de cardumes de notícias, rumo a um oceano de informações. No céu, revoadas de pequenos tuítes migrando sabe-se lá para onde – suas tendências são imprevisíveis. 


 Os trending topics


Chegando ao local que escolhi para caçar e obter algum sustento, fui pego de surpresa por uma chuva torrencial de e-mails. Não foi tanta surpresa assim, já que esse toró de correio eletrônico desaba mais ou menos nesse mesmo período, todos os dias. Procurei me abrigar, mas o aguaceiro era implacável. Tive que esperar passar e fiquei encharcado de pedidos e problemas.

Depois de me secar consegui, finalmente, atingir uma parcela do meu objetivo. Não abati nenhuma presa, mas ao menos colhi um cesto de frutos. Com a tarefa cumprida, relaxei e me distraí novamente, dessa vez com um grupo de macacos que macaqueavam sem parar pendurados na gigante árvore YouTube. Seus truques eram hilários e eu fiquei ali, acho, mais de uma hora assistindo.

O novo Porta dos Fundos tá imperdível, ri muito!


Terminado o espetáculo, resolvi partir em busca de algo mais substancial para levar à minha família. Foi quando me deparei com a monumental parede de pedra Facebook, onde todas as tribos da região gravam tudo o que lhes acontece. Tudo mesmo. Do que comeram de manhã até um mosquito que os perturbou. Li tudo, hipnotizado, e gravei com uma estaca a pequena história do meu dia até ali. 


 Tradução para o português: “hj meu dia foi fda e talz kkkkkkk!”


A próxima trilha ia por terrenos irregulares e lamacentos, mas que, depois de algumas webs de aranha pegajosas, davam em uma bela clareira. Não menos belas eram as amazonas seminuas me convidando para ver mais, uma tentação quase incontrolável de desviar do meu caminho. A essa altura, já tinha desistido da caçada e comido todas as frutas do cesto, mas me esforcei para não ceder àqueles encantos e segui.

Já conformado em voltar de mãos abanando à oca, resolvi mandar um recado à selva inteira. Subi em uma grande pedra e postei em alto e bom som o que pensava, sem gritar, deixando que as palavras ecoassem. Disse que me sentia mal e sozinho naquela floresta bizarra. Que gostaria de conviver mais com irmãos de outras tribos, que parassem de se esconder, e que podíamos mudar isso, juntos.

Qual não foi meu espanto quando ouvi o primeiro comment envenenado passar zunindo pelo meu ouvido direito. E outro, agora do lado esquerdo. Corri o mais rápido que pude, mas um dardo de dislike acertou meu braço. Não em cheio, apenas de raspão. Os arcos e zarabatanas das tribos rivais eram brutais, e seus donos farejavam meu sangue a uma tremenda distância. 

Um comentário... Corre!


Quando me safei da ira dos guerreiros comentadores, fiz um curativo simples com folhas de likes, que aliviou a dor da ferida. Olhei em redor e as coisas haviam se aquietado um pouco. Era uma boa hora para me recolher. Aquela selva havia me deixado exausto e terrivelmente sedento por um gole que fosse de realidade pura.