terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Poema libertário

Liberdade
mera invenção de poetas

Se fomos livres, um dia
foi na poesia de Deus
num vago espaço infinito
de um céu sem corpo
pois este aqui é prisão
sim, quem diria?

Não há livre limite
e o limite é a nossa missão

Escrevo um poema libertário
e finjo que não
libertando, ao menos
minha doce imaginação

Liberdade

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Astronautas de Deus

Às vezes me sinto apenas parte
de um gigantesco mecanismo
no mais impecável caos

Astronauta de Deus
enviado para vasculhar o mundo
e nada mais

Esse uniforme hábil foi-me dado
não para destruir
nem impor ordem ao que não tem

Mas para tocar, cheirar, ver e ouvir
Degustar o que só pode ser sentido

E o sentido de tudo será sempre dúvida
no coração de quem ainda se importa
em saber

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Viva-nos!

Nossa paz está sempre por um fio
que nos liga ao concreto, ao real
ao injustificável sustento da ganância
(ou à ganância "sustentável", chega!)

A rotina é dura, mas é nossa criação
Há de se quebrar o ciclo no lugar mais impensável
justamente onde o elo é mais forte

Romper-se o motivo
Estourar-se o conforto
Renegar-se essa droga de dor aceitável

E viver-se!

Venha, meu amor
vamos pra dentro, não embora
pois estamos sempre a ir
e ir

Vamos vir e recolher
tudo o que de fato é nosso
pois só nos ensinaram a brigar pelo alheio
e isso a gente não quer!

sábado, 21 de agosto de 2010

Tudo

Nosso tempo é curto
pois nos temos como referência

Nosso espaço é finito
porque o somos

Se tivéssemos a grandeza de tudo
seríamos tudo o que poderíamos ser

Seríamos o tempo perpassando o mundo

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Sonhos cinzentos

Temos sonhos cinzentos
que com um certo acabamento
terão a cor da vontade da mulher

Cinza no cerne
vermelhos de amor
e uma paz frio-azulada

Dores do parto do lar
doce lá

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Sopro de vida

Ultimamente (em geral isso quer dizer dias, semanas, mas no meu caso já vão-se alguns anos) tenho exercitado um hábito parcialmente útil: envio-me mensagens a partir da conta de correio eletrônico da empresa em que trabalho para a caixa de entrada do e-mail que tenho como "pessoal". O conteúdo varia, mas a esmagadora maioria constiste em lembretes sobre textos, imagens, músicas encontrados na internet ou pensamentos advindos de própria mente que atentam para coisas prazerosas, simples e boas para minha vida, pequenas dicas para que eu me lembre do lado bom de tudo, que faz bem respirar, que o amor é lindo!

Pois bem, a parcialidade do benefício é que não basta mandar as mensagens... Preciso recebê-las! E para a minha surpresa, a frequência com que o faço não é lá grandes coisas. Isso diz muito sobre o que quero discorrer aqui, é uma alegoria, uma metáfora, etc, de algo que acontece todos os dias, horas, minutos, segundos da nossa existência: o conflito entre o que pensamos e fazemos, entre o mundo externo e o interno, o coletivo e o individual e, o maior dos problemas, nossa surdez voluntária para a voz da consciência.

Acabo de ler alguns blogs e twits e afins de gente que gosta de compartilhar seus pensamentos e conhecimentos sobre mudança de hábitos, conscientização para o presente/agora, pequenas pílulas-zen de informação que podem ajudar outros a tomar impulso para o novo, para o melhor, o mais saudável, amoroso e tudo o mais de plus + que há para adicionar à jornada. Isso me lembrou que há muito o que quero compartilhar, mas mantenho guardado em preferência a coisas mais "importantes" ao mundo capitalista/urbano, como trabalhar para ganhar o pão ao cubo.

Mas essa cortina que se desenrola sobre o olhar em tantas ocasiões, que nos faz inclusive desenvolver certo apego pelo que nos faz sofrer, é parte de um movimento de inércia adquirido que teimamos em cultivar. "Dá trabalho" pensar positivo e, mais ainda, AGIR positivo! Nossa teimosia em sentar e reclamar, apontar o dedo para outros e culpar a injustiça divina ou maligna, ou responsabilizar o cometedor do pecado original por tudo o que nos aflige é magnificamente cômoda e encontra respaldo na segurança da certeza: sempre vai haver no que se apoiar para que perpetuemos o império do pensamento derrotista, pessimista, porém satisfeito. Sempre haverá o impossível.

É curioso que, apesar de tudo isso, pense-se que o mal pode dar origem ao bem. Parece que ao expurgarmos toda a espuma raivosa que jorra das nossas tristes rotinas no twitter, na orelha de amigos e/ou inimigos, ou aos sete ventos, vamos nos livrar do que nos angustia e teremos caminho livre para obter tudo o que desejamos, projetando todo o mal em algo externo e saindo ilesos para viver todo o bem que não nos permitiram viver até agora, e vingarmo-nos das ofensas diretas feitas aos nossos pequenos anseios diários. Muito ao contrário, com isso criamos uma massa densa, escura e pegajosa de maledicência, um lodo de medo e ódio, algo que só faz aumentar nossa permanência dentro da inércia já citada.

O que custa sorrir, cumprimentar, abraçar? O que custa perdoar, compreender, respeitar? Custa justamente a saída desta zona confortável de aversão ao próximo, pondo em xeque as inúmeras justificativas que encontramos para transferir a tudo ao nosso redor um mal que está dentro de nós mesmos.

Hoje, não prometo, mas vou tentar recuperar todos os escritos perdidos no carderinho, que deixei para depois postar, e postá-los. Vou abraçar e beijar minha namorada, amassá-la bem amassadinha, sufocá-la de tanto amor que, apesar de ser infinito, é liberado apenas em doses homeopáticas ao longo da semana, aguardando pelo fim dela, devido ao cansaço, à rotina. Vou ler os textos, ouvir as músicas, ver os vídeos que mandei a mim mesmo durante todos esses anos, mas que teimei em não receber por pensar ser um tipo de spam mental, que na verdade era nada mais que minha consciência, sábia, divina, serena, imortal, que sempre saberá falar diretamente ao meu coração. Abro-o, agora.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Um poço de mim

Se estivesse vazio
de onde viriam as lágrimas?

É que tenho ido pouco ao meu poço
deixo a cargo do excesso
a vazão disso tudo que sinto

Se buscasse com o balde da arte
um bocado daquele mistério
toda vez que nascesse

Beberia da essência um pouquinho
um gole que fosse, não importa
voltaria de mim a saber muito mais