sexta-feira, 16 de julho de 2010

Sopro de vida

Ultimamente (em geral isso quer dizer dias, semanas, mas no meu caso já vão-se alguns anos) tenho exercitado um hábito parcialmente útil: envio-me mensagens a partir da conta de correio eletrônico da empresa em que trabalho para a caixa de entrada do e-mail que tenho como "pessoal". O conteúdo varia, mas a esmagadora maioria constiste em lembretes sobre textos, imagens, músicas encontrados na internet ou pensamentos advindos de própria mente que atentam para coisas prazerosas, simples e boas para minha vida, pequenas dicas para que eu me lembre do lado bom de tudo, que faz bem respirar, que o amor é lindo!

Pois bem, a parcialidade do benefício é que não basta mandar as mensagens... Preciso recebê-las! E para a minha surpresa, a frequência com que o faço não é lá grandes coisas. Isso diz muito sobre o que quero discorrer aqui, é uma alegoria, uma metáfora, etc, de algo que acontece todos os dias, horas, minutos, segundos da nossa existência: o conflito entre o que pensamos e fazemos, entre o mundo externo e o interno, o coletivo e o individual e, o maior dos problemas, nossa surdez voluntária para a voz da consciência.

Acabo de ler alguns blogs e twits e afins de gente que gosta de compartilhar seus pensamentos e conhecimentos sobre mudança de hábitos, conscientização para o presente/agora, pequenas pílulas-zen de informação que podem ajudar outros a tomar impulso para o novo, para o melhor, o mais saudável, amoroso e tudo o mais de plus + que há para adicionar à jornada. Isso me lembrou que há muito o que quero compartilhar, mas mantenho guardado em preferência a coisas mais "importantes" ao mundo capitalista/urbano, como trabalhar para ganhar o pão ao cubo.

Mas essa cortina que se desenrola sobre o olhar em tantas ocasiões, que nos faz inclusive desenvolver certo apego pelo que nos faz sofrer, é parte de um movimento de inércia adquirido que teimamos em cultivar. "Dá trabalho" pensar positivo e, mais ainda, AGIR positivo! Nossa teimosia em sentar e reclamar, apontar o dedo para outros e culpar a injustiça divina ou maligna, ou responsabilizar o cometedor do pecado original por tudo o que nos aflige é magnificamente cômoda e encontra respaldo na segurança da certeza: sempre vai haver no que se apoiar para que perpetuemos o império do pensamento derrotista, pessimista, porém satisfeito. Sempre haverá o impossível.

É curioso que, apesar de tudo isso, pense-se que o mal pode dar origem ao bem. Parece que ao expurgarmos toda a espuma raivosa que jorra das nossas tristes rotinas no twitter, na orelha de amigos e/ou inimigos, ou aos sete ventos, vamos nos livrar do que nos angustia e teremos caminho livre para obter tudo o que desejamos, projetando todo o mal em algo externo e saindo ilesos para viver todo o bem que não nos permitiram viver até agora, e vingarmo-nos das ofensas diretas feitas aos nossos pequenos anseios diários. Muito ao contrário, com isso criamos uma massa densa, escura e pegajosa de maledicência, um lodo de medo e ódio, algo que só faz aumentar nossa permanência dentro da inércia já citada.

O que custa sorrir, cumprimentar, abraçar? O que custa perdoar, compreender, respeitar? Custa justamente a saída desta zona confortável de aversão ao próximo, pondo em xeque as inúmeras justificativas que encontramos para transferir a tudo ao nosso redor um mal que está dentro de nós mesmos.

Hoje, não prometo, mas vou tentar recuperar todos os escritos perdidos no carderinho, que deixei para depois postar, e postá-los. Vou abraçar e beijar minha namorada, amassá-la bem amassadinha, sufocá-la de tanto amor que, apesar de ser infinito, é liberado apenas em doses homeopáticas ao longo da semana, aguardando pelo fim dela, devido ao cansaço, à rotina. Vou ler os textos, ouvir as músicas, ver os vídeos que mandei a mim mesmo durante todos esses anos, mas que teimei em não receber por pensar ser um tipo de spam mental, que na verdade era nada mais que minha consciência, sábia, divina, serena, imortal, que sempre saberá falar diretamente ao meu coração. Abro-o, agora.

2 comentários:

Marco A. Dib disse...

Obrigado, amigo, por incentivar-me a pensar e agir positivo durante o tempo que compartilhamos no cubículo das paredes brancas e luz artificial. :o)

Anônimo disse...

UAU!
Obrigada por compartilhar...

abraços,
Nâna