Certa noite, em meados do delicioso período de quatro anos da faculdade (sim, eles se vão, por mais que pareçam eternos) de jornalismo, cheguei tarde em casa, justo na hora de assistir ao programa de uma série da TV Cultura chamada "Grandes Cursos Cultura", que, coincidência ou não, era apoiado pela universidade em que eu estudava. O projeto envolvia professores renomados, brasileiros e estrangeiros, que discorriam em frente à platéia e às câmeras sobre diversos assuntos contemporâneos, relevantes, na maioria dos casos.
Nesses bons tempos, em que a tal instituição particular de grande porte ainda esboçava algum esforço no sentido cultural e não meramente marketeiro, eu me sentia uma esponja para o conhecimento: buscava, com a perícia de um detetive, unir todas as pontas de citações feitas pelos meus professores, encontrava textos raros na internet, bisbliotecava filósofos franceses e alemães, fotocopiava os artigos mais insignificantes de especialistas em semiótica e cultura brasileira, poetas, modernistas e moderninhos, concretistas e empreiteiros da palavra.
Essa grande torrente de idéias se estendia também para outros campos da arte, o cinema, a pintura, a música... Tudo o que parecesse "diferente" era comigo mesmo! Como trabalhava pouco, respirar filosofia, dormir ciência e sonhar arte era a mais bela forma de transformar dias cacofônicos em noites cervejadas de harmonia. As discussões eram festas dionisíacas, as viagens de ônibus, estudos de sociologia e as idas ao bar da faculdade chegavam a ser verdadeiras jornadas atropológicas. Como era bom viver para observar!
Pois não é que o programa dessa emissora pública, que se diz comprometida com a sociedade e com isso atrai nerds, "alternativos" e esquerdistas de botequim, aguçou ainda mais a mente deste ávido ex-estudante? O palestrante era Jorge da Cunha Lima, ex-presidente da TV em questão, jornalista, poeta e sei lá mais o quê, e o tema da palestra: A Pauta Esquecida. Composta dos subtemas Primeira Página / O Fim do Emprego / Fim das Cidades, a exposição falava basicamente de novos paradigmas aos quais temos de nos adaptar, pois na verdade o bicho já está pegando.
Interessantes que sejam os outros "atos" da aula, o "Primeira Página" chamou especialmente minha atenção. Em dado momento, o professor citou o caso curioso de um cara que recebia o jornal todos os dias e guardava os exemplares por seis meses, para depois lê-los de uma só vez. Para ele, não fazia muita diferença. Tá bom, sei que enrolar esse texto até aqui para falar de "um cara" não estava no meu cálculo, mas não há nada no mundo que me faça lembrar o nome do sujeito, só comprando o DVD pela pechincha de 60 reais na internet. Deixarei isso muito discretamente de lado, quem sabe vem à mente.
(continua... acima... não gosto desse lance blogueiro às avessas)
Um comentário:
Bom começo...
e quanto ao "lance blogueiro as avessas", uma sugestão: comece pelo fim, e termine pelo começo. Não esqueça de pedir ao leitores para que façam como o "um cara", esperando para lerem tudo de uma vez depois (só espero que voce nao nos faça esperar 6 meses).
abraços sr. zi
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