sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Pequeno mensageiro de novos tempos

Nesse ano que entra, vem aí o pequeno Pedro, meu e de Thaís, que não é o produto, mas a continuidade, a perseverança do nosso amor. É um pingo de energia, vindo da nossa, que cresce, e vai carregar a história humana que escrevemos, mas com leveza, sem que isso seja um fardo, e vamos fazer de tudo para que não seja. Ele é mensageiro disso tudo, e, aliás, não somos todos?

Se há alguma real importância nessa memória toda que acumulamos é a oportunidade de portar, transmitir, comunicar, avisar, espalhar uma mensagem de amor, como se disséssemos: "Vejam, sou mulher, sou homem! Tenho o maravilhoso privilégio de experimentar esse mundo, essa vida, com todas as suas bem-aventuranças e malogros! Deram-me à luz para que eu a reflita a todos, aos céus, ao espaço infinito e até a outros mundos, se eles existirem... Eu SOU e por isso sou grato!"

Filhos não devem ser poços de esperança e muito menos de frustrações, mas devem, sim, ser tratados como um presente - não um egoísta, que damos a nós mesmos, mas ao planeta -, um pedacinho melhorado de nós. Isso basta. Não importa o destino que ele tomará, pois será belo o caminho de perpetuar a alegria com que o recebemos. Criá-lo não é para nós, é para um presente mais justo e um futuro que só a ele pertence, não a nós.

Não há, portanto, o que projetar. Ser é também deixar ser, e gerar uma criança é facilitar sua chegada. Depois que ele chegar, não pretendemos sufocá-lo de responsabilidades, apenas ensinar a ele que cuidar do mundo é uma maneira de liberar o caminho para outros mensageiros de luz, como ele, e como todos os que amam.

Em 2012, está chegando o Pedro, que significa, assim como parece, pedra, rocha. Essa firmeza ele vai usar como quiser: para brigar, para decidir, para construir, para destruir... Mas Pedro também foi "pescador de homens", após incentivo de Jesus, pois de pescador de peixes viria a se tornar bispo - o fundamento da igreja, a pedra que viria a embasar a reunião dos homens.

Mas para ele, nada de planos, nada de passado, nada do peso de significados históricos. Sua chegada será um incrível recomeço de nossa própria vida, e ele vai nos ensinar a tratar essa bênção com muito mais carinho, daqui por diante, sem nem precisar se esforçar. Ele só precisa ser. Ele já é, e muito bem-vindo. Pedro, já te amamos, e essa fonte de amor, meu filho, nunca seca!

Um 2012 de muita PAZ a todos!

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Ação: o melhor protesto

Dá para engolir um coquetel molotov?

Motiva-me escrever esse texto uma autoindignação. É isso mesmo! Faço aqui um autoprotesto autogerido, apartidário e apolítico contra... mim! Tenho adentrado discussões absolutamente vazias nesses espaços virtuais socialoides sobre a legitimidade dos protestos, sobre a defesa de valores antigos e quadrados, a banalização da violência, o ataque gratuito às diferenças, o preconceito desmedido e uma série de coisas que antigamente se discutia ao vivo, ou talvez ainda se faça por aí nas mesas de bares cheios de filhos da classe AB ou da nova classe C, que transformam tudo numa bela ressaca pela manhã, e nada mais.

Questiono-me: o que pretendo? Convencer alguém de algo? Fazer do mundo um lugar cheio de eus, que pensam e falam como eu? Que propósito tem essa vã batalha nas arenas digitais, essa disputa por quem tem mais razão acerca dos problemas cotidianos (e raramente a solução para eles)? Será que não percebo que a luta já não é mais para ser ouvido? Eu sou ouvido, à exaustão, e ouço também, na internet, as causas mais nobres e o mais ignóbil lixo, que por alguns é chamado de humor. Todos falam, todos ouvem, mas quem faz? Tem alguém fazendo alguma coisa? Será que espero que alguém me diga: "Ah, está bem, deixa eu fazer o mundo melhor pra você, então!"?

Pois bem, se ninguém faz, é melhor que eu faça. Agir é o protesto mais eficaz contra qualquer coisa que se considere errada, qualquer coisa que se queira mudar de fato, que incomoda, que paralisa, escraviza, maltrata, entristece, irrita. Há quem se contente em apenas mostrar que está indignado com alguma coisa, pensando que isso vai conquistar o respeito das pessoas, de seu grupinho ou tribo, ou arrancar aquele aceno de cabeça positivo de quem também só fala e não age. De que me importa o respeito? É com minha imagem que estou preocupado, ou com fazer o bem para mim e para todos, independentemente de quem me vê, aplaude, critica ou "curte" (ganhei mais um joinha, uhú!)?

O que nos petrifica é a dificuldade de mudar. Ora, mas o que você quer mudar? Toda mudança deve ser feita, por acaso, no seu vizinho, no seu amigo, no seu inimigo? Não há nada intrinsecamente humano, porém que mereça ser mudado, para a melhor, em você mesmo? Pois, afinal, os nossos nobilíssimos protestos não estão sendo feitos contra as árvores, a terra, os animais... são contra... pessoas, não? E contra que pessoas você é contra? Quem você quer que ouça seu brado? É melhor apurar os ouvidos, pois você está esperneando contra si mesmo, e já é mais do que hora de começar a escutar seu próprio clamor por mudança, dentro de si.

Se está insatisfeito com os desmandos de seu chefe, mude suas condições de trabalho, ou mude de emprego, ou faça algo que lhe agrade ou agrade outros nas horas livres em vez de assistir televisão ou ver as bobagens que seu círculo de pseudoamigos posta no "face". É fácil encontrar coragem para se reunir num feriado ou sábado de sol para protestar, e pode ser até legal, mesmo, qual o problema em se reunir e caminhar? Mas onde está a coragem para mudar algo no seu íntimo que não condiz com o que você anda pregando? O medo nos motiva apenas à estagnação, à defesa desse próprio medo, mas a vontade de mudar implica muita coragem, coragem boa e vigorosa, de se mexer!

O movimento do que você faz já é, essencialmente, a mudança, pois o status quo, apesar do que falam sobre progresso, é basicamente a manutenção da inércia, passiva e parada. O grande erro desses pobres jovens de hoje é ainda apreciar a enganosa beleza estática das ideologias, dessa coisa emperrada, empoeirada, e o culto à imobilidade disfarçado, embrenhado, camuflado no "dinamismo" das redes sociais. Acompanhe os ataques de direitesquerda no twitter ou facebook e comprove: nenhum desses críticos está movendo uma palha para mudar o que os desagrada. E o que os desagrada, ó céus, senão seus próprios defeitos? A violência, o temor, a injustiça, tudo o que apontamos fora, está dentro, também.

Consuma menos tralha e está mais do que feito seu protesto contra as odiosas estratégias de marketing e o caramba a quatro. Você deixa de ser o target, para de ser alvejado pelo chumbo grosso do mercado, que se sustenta no insustentável, na produção desenfreada e acéfala, que é, justamente, parte do motivo pelo que protestam os ocupadores lá de Nova Iorque, por exemplo. Deixe de frequentar lugares que desperdiçam recursos, abra mão do fast-food, vire vegetariano, ande de bicicleta, sei lá, dane-se, e "voilá!": taí sua sustentabilidade! É tudo uma questão de mover o traseiro, e os protestos começam a virar mudança, atitude, verdade.

Olha aqui, você não é perfeito, tampouco o são nossos "representantes" na política. Você não é totalmente justo, você comete erros, portanto não espere que ninguém seja por você! Se quem está lá no poder não te representa, mas ainda assim está no poder, é porque o poder que eles têm é justamente o de te enquadrar em um perfil, e te tratar como tal: a classe isso ou aquilo, o estudante, o paulistano, o aposentado, o desempregado... Se a carapuça lhe serve para qualquer desses grupos, suas reivindicações serão sempre previsíveis, e facilmente ignoradas. Quando você muda em você aquilo que quer mudar nos outros, o rótulo se descola da sua testa, e você se liberta.

Importe-se menos, ou nada, com o que estão falando a seu respeito e em seu redor, não se preocupe em ficar criticando o comportamento do cara que senta ao seu lado no ônibus, e sinta um pouco o que é estar vivo, descubra o que realmente importa. Ao mesmo tempo, identificando dentro de si o que há de ruim no ser humano, será mais fácil reconhecer nos seus "algozes" aquilo pelo que você protesta e se enfurece, aquelas coisas horrorosas que o levam a tuitar loucamente o seu descontentamento por aí. Perceba todos os sentimentos ruins que poderiam levá-lo a fazer coisas ruins, e entenda, finalmente, que tudo o que acontece se deve a esses sentimentos.

Agindo, não só você mostra sua indignação como faz dela força transformadora, e com seu exemplo inspira a ação de outros. Revolucione-se e impressione-se com o estrondo que isso causa! Só podemos gritar "às armas" se as tais forem o olhar; e se os alvos forem todos esses nossos monstros interiores. Isso é uma rebeldia pela qual só você pode se autocongratular, perceber, e aí sim, propagar. De outra forma, será só mais uma revoluçãozinha ordeira, dessas que saem no jornal. Mas quando você tem a humildade de agir de dentro para fora, o mundo muda com você, tenha certeza.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

O retorno de mim

Sou homem, ou pelo menos desejo ser
Não se pode ser o que não se almeja
Um assassino o é porque assim o quis
Um conde, um palhaço
todos anseios deles
mas tudo justificado
ou seria, se ao menos admitissem

Eu admito, pela primeira vez
que quero ser homem
mas já quis não querer

Confessando-o
de qualquer forma
me aproximo de Deus

É uma forma mesquinha
mas não hipócrita

Se quisesse ser Deus
Deus me faria homem
para que desejasse ser-me
desde o começo

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Suportando escolhas

Fiquei sem postar nada um tempo e foi por bons motivos que escolhi (não) fazê-lo. Digo isso porque o tema dessa postagem de recomeço é justamente esse: escolhas. Isso vai abrir um precedente aqui, pois será um post na linha da autoajuda, isso mesmo, mas do tipo legal. Tenho lido com assiduidade alguns blogs, especialmente o zenhabits e o theminimalists, e isso tem mudado a minha vida. Diferentemente dessa literatura que (só) se vê nas vitrines de grandes redes livreiras e anúncios internéticos afins, é um tipo de texto sobre o qual, depois de lido, não se pode falar "tá tudo errado", ou "eu nunca vou fazer isso".

Não vou mandar ninguém seguir 10 passos para ficar rico ou ser um chefe fantástico, ou conquistar o seu grande amor (dica do meu grande amor, que acabou de cantar isso no meu ouvido), etc... São coisas que a gente sente estarem certas, pois fazem um sentido natural, ancestral, corporal e espiritual. E aquilo que a gente sente, como vamos descobrindo ao longo da vida, tem muito mais valor do que aquilo que a gente pensa. A intuição, inclusive, tem muito a ver com o que quero falar, e é melhor que eu comece logo.

Temos que apoiar nossas próprias escolhas. Nada vai mudar se ficarmos criticando o que nós mesmos escolhemos para nossas vidas, não importa se são decisões minúsculas ou profundas, se inócuas ou se revolucionaram alguma coisa, ou atingiram outras pessoas. Você vai se sentir muito melhor se apenas aceitar que fez essa ou aquela opção, e pronto. Além de ser muito fina e quebradiça essa linha entre o certo e o errado, que não vamos discutir aqui, o desfecho da sua escolha será sempre positivo: algo mudou a partir dela e isso fez com que sua vida avançasse.

Uma associação curiosa que podemos fazer é com a palavra usada para dizer "apoio" ou "sustentação" em inglês: support. E sim, nós temos que suportar, aturar, mesmo, tudo o que decorreu de nossas decisões. Mas assim como isso pode remeter à ideia de dever ou responsabilidade, esse negócio de suporte pode também vir carregado de coisas boas, como um desafio interessante que você colocou para si mesmo e que te motiva a seguir em frente. Pense numa coisa que você queria ter feito diferente. Pensou? Esqueça; você já fez desse jeito. E agora está aí uma solução esperando que você a escolha para agir e melhorar tudo o que quiser.

Você pode querer não ter escolhido morar no bairro onde mora, trabalhar no lugar em que trabalha, namorar ou casar com quem você está junto agora. Mas é preciso entender que algo lhe motivou a fazer todas essas escolhas; foi você quem as fez, então, por que não dar suporte a elas? Você pode escolher fazer escolhas diferentes no futuro, mas estas, você já fez.

Hoje, assim como em tantos outros dias, descobrimos mais uma maluquice de nosso cachorro, eu e minha esposa: ele gosta de tomar banho no chuveiro. O beagle mais lindo do mundo, indo tomar banho sozinho... uma coisa incrível. E a gente quase se arrependeu da escolha de ter mais um cachorro além da nossa outra linda beagle. Mas foi a melhor escolha do mundo!

Por último, mas não menos importante: a gente também deve "bancar" as escolhas que faz em conjunto ou aceita de outra parte. Seus pais, seu cônjuge, seus colegas de trabalho... Não adianta depois pensar que foi "ideia dele"! Sou muito feliz com as escolhas que fiz, mesmo que não sejam todas muitíssimo acertadas ou planejadas à exaustão. Nossa cabeça pode ficar confusa, porque lida com o que pensamos. Nosso coração sempre vai saber o que fazer, pois sabe o que sentimos.

P.S.: O cara da imagem é Atlas, aquele homem da mitologia grega que fica carregando (suportando) o mundo a vida toda... É mais ou menos o que a gente faz, não?

segunda-feira, 6 de junho de 2011

O Inca, a paz e a cidade



Não sou incapaz de nada
e isso me assusta

Sabe aquelas pessoas
que dizem "serem incapazes de..."
pois é, eu não

Não desejo ser portador
de tamanha mentira/hipocrisia
e com desejar, digo que sou capaz
mas não quero fazer tudo
o que minha capacidade permite

Tampouco me orgulho
de tudo o que fui capaz de fazer
e não me arrependo
nem do bom, nem do ruim

Ao menos sei do que fui capaz
e ainda sou
pois do que sou, sei que é tudo
do que serei, ah
pra isso tenho vontade à vontade
ou falta dela
e é disso que depende
esse negócio de capacidade

E o que eu quero é paz
não ser incapaz
pois não sou, de nada
mas me assusta
a incapacidade dos outros
de entender que não o são

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Brinque o Mundo (after work shower insight)

Talvez as crianças não assimilem bem a ideia de reza, da oração imposta por seus pais tementes a Deus, pois ainda creem (ou sabem) que o mundo já lhes deu tudo o que precisam. É assim, brincando o mundo, que agradecem por todas as bênçãos recebidas à vista, de uma só vez, já nesse curto período de existência terrena, segundo nossos apressados calendários. A esperança, então, já está implícita no simples saber: amanhã tem mais. Mais para explorar, conhecer, desfrutar, motivos pelos quais e para os quais o planeta foi feito!

Crescer é, portanto, esquecer, ignorar, desconhecer que o mundo já é, já está, é nosso e de todos. O respeito por ele (e pelos seres que o habitam) acaba quando aquele ingênuo querer infantil torna-se o ávido cobiçar adulto, que em vez de nos afastar de um obstáculo que o mundo coloca diante de nós, como quem diz: "daqui não precisas passar", nos motiva a destruir, eliminar, erradicar a barreira, tida como um inimigo dessa infinita sanha. Ser adulto é deixar de brincar o mundo e passar a brigar com ele.

O resto é sabido: começa-se a destruir, construir, extrair, minerar, discriminar, limitar, excluir, acumular, roubar, agredir, matar, poluir, estuprar, fingir, quebrar, ter, ter, ter e ter, mais e mais, até que uma criança, afundada na amargura do mais profundo esquecimento, que luta para surgir diante de nós, chama nossa atenção em meio ao desespero provocado por nossa própria ganância, nos desperta para o que foi perdido. Vem a dor, a frustração, o pesar, a angústia, a doença... Não sabemos mais brincar, então fazemos o que nosso pequenino e antigo eu pede, em súplica: reza, ora.

Rezamos, oramos.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

!ConsumomusnoC!

Não costumo postar textos de outrem, mas este está merecendo. É do manifesto bolo'bolo, que já divulguei aqui há um tempo. O texto é dos anos 80, mas serve como uma luva para os 2000 e tantos. Essa sensação está muito forte ultimamente, ao nível do desespero. Não está? E o que fazer? Trabalhamos única e exclusivamente para sustentar um mecanismo de discriminação que coloca valores sobre a vida dos seres e recursos naturais. Pense com sua cabeça, sabote o consumo, venda suas coisas, grite, diga em público o que nunca diria, vá atrás de seus sonhos que largou para fazer dinheiro, use essas porcarias de mídias sociais para passar uma mensagem que preste, que mude a percepção de alguém... Faça qualquer coisa, mas faça!

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Negócio A: decepção na sociedade de consumo

Em que consiste o Negócio A? Filés, bons estéreos, surf, Chivas Regal, Tai-Chi, Europa, Nouvelle Cuisinne, cocaína, esqui, discos exclusivos, Alfa Romeos. Será esta a melhor oferta da Máquina?

Mas e aquelas manhãs, indo para o trabalho? Aquela súbita sensação de angústia, desgosto, desespero? A gente tenta não encarar aquele estranho vazio, mas em momentos desocupados entre o trabalho e o consumo, enquanto a gente espera, dá para entender que o tempo simplesmente não é nosso. A Máquina tem medo desses momentos. Nós também. Por isso somos mantidos o tempo todo sob tensão, ocupados, olhando lá adiante para alguma coisa. A esperança em si mesma nos conserva na linha. De manhã pensamos na tarde, durante a semana sonhamos com o fim de semana, suportamos a vida de cada dia pensando nas férias que vamos tirar dela. Nesse sentido estamos imunizados contra a realidade, entorpecidos quanto à perda das nossas energias.


Não é que o Negócio A tenha se tornado traiçoeiro (ou melhor, eficazmente traiçoeiro) porque a variedade ou quantidade de bens de consumo esteja faltando. A produção em massa nivelou a qualidade desses bens, e a fascinação pelas novidades desapareceu definitivamente. A carne ficou meio sem gosto, os vegetais crescem aguados, o leite foi transformado num simples líquido branco industrializado. A TV é um tédio mortal, dirigir não dá mais prazer, a vizinhança ou é povoada, ruidosa e insegura, ou deserta e insegura. Ao mesmo tempo, as coisas realmente boas, como a natureza, tradições, relações sociais, identidades culturais, ambientes urbanos intactos, são destruídas. Apesar do fluxo imenso de consumo, a qualidade de vida despenca. Nossa vida foi padronizada, racionalizada, despersonalizada. Eles descobrem e nos roubam cada segundo livre, cada metro quadrado vazio. E oferecem a alguns de nós férias rápidas em lugares exóticos a milhares de quilômetros de distância, mas no dia-a-dia nosso espaço de manobra vai ficando menor, cada vez menor.


Também para os Trabalhadores A, trabalho continua sendo trabalho: perda de energia, stress, tensão nervosa, úlceras, ataques do coração, prazos, competição histérica, alcoolismo, hierarquia controladora e opressiva. Não há bens de consumo que possam preencher os buracos gerados pelo trabalho. Passividade, isolamento, inércia, vazio: isso não se cura com aparelhos eletrônicos no apartamento, viagens frenéticas, sessões de relaxamento e meditação, cursos de criatividade, trepadas rápidas, poder das pirâmides ou drogas. O Negócio A é veneno; sua vingança vem como depressão, câncer, alergias, vícios, problemas mentais e suicídio. Debaixo da maquiagem perfeita, atrás da fachada de sociedade afluente, só existem novas formas de miséria humana.


Muitos desses "privilegiados" Trabalhadores A fogem para o campo, se refugiam em seitas, tentam iludir a Máquina com magia, hipnose, heroína, religiões orientais ou outras ilusões de poder secreto. Tentam desesperadamente repor alguma estrutura, algum sentido em suas vidas. Mas cedo ou tarde a Máquina agarra seus fugitivos e transforma exatamente as formas de rebelião em um novo impulso para seu próprio desenvolvimento. "Sentido" vira logo senso comercial.

Naturalmente, o Negócio A não significa apenas miséria. Os Trabalhadores A têm sem dúvida alguns privilégios inegáveis. Seu grupo tem acesso a todos os bens, todas as informações, todos os planos e possibilidades criativas da Máquina. Os Trabalhadores A têm a chance de usar esse poder para eles mesmos, e até contra os objetivos da Máquina. Mas se eles agem apenas como Trabalhadores A, sua rebelião é sempre parcial e defensiva. A Máquina aprende rápido. Resistência setorial sempre significa derrota.