sexta-feira, 2 de março de 2007

Bolsa insábia (uma pseudo-crônica) - parte 2

link para parte 1

O importante é que Jorge da Cunha Lima atingiu um ponto-chave, mesmo ele lá com sua tentativa visivelmente esmerada de mostrar quão podre é o mundinho da comunicação e do capitalismo, em torno do qual ele mesmo orbita: ao mencionar a pasteurização das primeiras páginas dos grandes jornais brasileiros (a exposição das capas foi realmente embasbacante, é tudo igual!), ele citou outros tantos acontecimentos contemporâneos à publicação das tais capas, muito mais urgentes, alarmantes, mas que sequer recebiam notas de três linhas no jornal. E não é nem por aí. Aonde quero chegar é para que serve, de fato, a notícia, em nosso dia-a-dia? Como jornalistóide que sou, arrisco afirmar: muito pouco.

Atualmente, sem muito esforço, faço mais ou menos o que o "cara" supracitado fazia. Diferentemente dos tempos em que devorava as páginas internacionais e de cultura, hoje mal petisco as principais manchetes, que tanto apavoram meu apavorado avô. Enchentes, assassinatos, escândalos públicos, testes nucleares, terrorismo... Para o diabo! Um resumo, digamos, quinzenal, que obtenho na internet, tem bastado. Quando não é mensal (o tal do mensalão não funciona com a mesma periodicidade?). Que horror, não? Tudo bem, não fui ao extremo do "cara", mas até que estou bem desligado, vai... Pois então vamos ver o que esse notório ou noticioso suicídio causou à minha pobre alma alienada, pela amostragem de dois dias:

Quarta, 28 de fevereiro de 2007

Fui chamado para trabalhar como revisor free-lancer em uma editora. Tomei café e, sem querer, dei aquela passadinha pelas manchetes daquela coisa larga, chata e delgada de S. Paulo. "Queda na bolsa da China blablabla o mundo". Puxa. Peguei o ônibus, fui ao lugar X. Editora, cubículos, gente estranha. Mesa vazia, um dicionário, uma caneta vermelha e um monte de textos de uma revista. Opa, revista = periódico! Mas calma lá, é "comunicação dirigida", só "matérias frias", para usar os primeiros e últimos detestáveis jargões jornalísticos desta blogagem. Sem computador! E a bolsa da China, como será que anda? Ali, na hora, eu não teria como saber. Revisei. Afinal, preciso comer!

Falando nisso, hora do almoço. Pelo menos parece ser, todo mundo saiu sem me dirigir um pio, então imaginei que o "frila" também pudesse se alimentar. Fui a uma lanchonete/prato feito dos cheirosos arredores do Largo da Batata. Vitamina mista boa, X-burguer ruim. Será que é reflexo da bolsa da China? Engoli. Fumei um cigarro pensando no pacote xing-ling. Voltei. Revisei.

Fim do expediente, ônibus digno da população da China! Será que esses sino-brasileiros estão sabendo da bolsa? Acho que era por isso que estavam todos suando. Suei, cheguei. Não fui saber do saco chinês, pois estava com o saco já bem cheio, a ponto de cair. Tomei banho, comi, dormi.

Quinta, 28 de fevereiro de 2007

Idem (com exceção do X-burger. Pedi o X-salada. Ruim. Que burrice! O feijão com Velho Barreiro dos pedreiros parecia melhor. Será que eles sabem da bolsa? Deve ser por isso que se distraíam falando do Corinthians, e olha que eu sou corintiano).

(continua)

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