Eu adoro o Bloco de notas. É verdade! Se tem uma coisa que o Bill Gates fez bem feito nesse mundo foi o Bloco de notas. Um programinha safado de simples, mas que não consigo deixar de manter ali, no cantinho da tela, sempre, em um atalho rápido para dar vazão igualmente veloz a qualquer pensamento que passear pela mente durante o grande tempo que passo por dia na frente desta coisa que insistem em chamar de "micro" computador. E com pouquíssimas opções de estilo, esses acessórios que só nos fazem perder mais tempo do que já perdemos brigando com o Word.
Mas o Bill Gates fez muito mais do que o Bloco de notas. Devemos supor, é claro, que para entrar no seleto grupo das pessoas mais ricas (materialmente falando) do mundo, é preciso realizar algo mais... hum... grandioso? Pois ele criou um império. Aqui nesta atrasada (deve fazer um mês que não escrevo nada) e insólita blogagem, tentarei estabelecer uma conexão ainda mais insólita e criada totalmente a partir de meus pífios conhecimentos entre algumas das coisas que nos parecem mais reais: negócios, riqueza e violência.
Pois bem, Bill e Steve, dois universitários nerds, nos esquisitos anos 70, ignorando essas bobagens de Vietnã e Guerra Fria, começaram a brincar sério na garagem de um dos dois em maravilhas de brincadeira que viriam a revolucionar vários desses mundos que dizem ser os nossos: o dos negócios, o da tecnologia, o das relações humanas, do entretenimento, da comunicação... uma porrada de mundos! Cortando a parte em que Steve (Jobs) foi para um lado comer sua iMaçã e o outro para outro, ficar olhando pela janela - eles criaram um sistema operacional que operaria o sistema. Especula-se que eles tenham copiado a brincadeira da Xerox, sim, aquela que virou sinônimo de fotocópia, mas vamos ver se ponho um link aqui para vocês se deliciarem com essas pequenezas e continuar o pensamento.
Eles permitiram que eu escreva esta bobagem toda no Bloco de notas (eu te amo), que você leia essa bobagem aí do outro lado, e que possa, a qualquer momento, conduzir um rato eletrônico para outra bobagem qualquer que esteja ao redor dessa janela que não dá para fora, mas para dentro, isso é lindo, deram visualidade para operações virtuais que reinventaram o antiqüíssimo trabalho com papel, guardado em arquivos de metal com centenas de quilos, que nos poupa energia, tempo, dinheiro, tudo com esforço mínimo, delicioso, é pornográfico, bate-papo, câmera, risos, é o computador, beije-o, coma-o, msn, que tesão, jogos, mp3, dvd, homens, mulheres, ah, adão e eva no second life, orgasmo!
Este é o lado bom, talvez branco, a superfície, talvez água, o Yang, o cristalino, o bem-aventurado, a bonança, os bem intencionados, gente que fez dinheiro fazendo coisas boas para a humanidade, muitos podem supor. Supunhetemos, então, que eles sejam a exceção, mas na verdade são a metade dos capitalistas. E vamos para o lado negro, o Yin, as trevas, o underground, o fogo do inferno, o quinto da puta que pariu, os malignos, o azar.
Alguém aí assistiu O Senhor das Armas? Filminho legal, tal, Nicolas Cage, sacadas de câmera, bala na agulha, cano da pistola. Denúncia: oh, existem contrabandistas de armas! Eles são frios e calculistas! E são ricos! Ora, e por que não poderiam estar na lista Forbes dos homens mais ricos e poderosos do mundo? Homens, sim, pois mulheres são usadas nisso tudo com muito menos participação nos lucros, o machismo atinge também o trabalho "informal"... E mais, o que impediria estes homens de figurar em tais listas como benévolos publicitários, CEOs e CFOs de grandes empresas das indústrias da informática, construção, telecomunicação, educação, dos móveis, do mármore, dos refrigerantes, explosivos de extração de minério, do petróleo, das jóias, do fast-food, calçados, música, cinema, cigarro, vidro..?!
Billy e Stevie ganharam o sistema fazendo um sistema. Estes personagens ocultos ganharam o sistema sistematizando o crime e botando medo nos boas praças da superfície. Um mundo subterrâneo que sustenta todo o resto visível, fornecendo Kalashnikovs para guerras civis em países de terceiro mundo e de fronteira em terceiros orientes-médios, maconha para o favelado e cocaína para o playboy, redes de jogos com bicheiros e donos de bingo, produtos contrabandeados no Centro de São Paulo e nas praças de Moscou, pirataria de artistas famosos dos Istaduzunidus e jogos eletrônicos Made in Japan. A máfia promove muito mais estabilidade para o mercado mundial do que aquela bolsa da China que falei no penúltimo e longínquo post. A violência é muito mais parâmetro de saúde econômica que o "Risco Brasil" e termos estúpidos afins. O risco de sangue no chão indica muito mais a vitória de uns sobre outros no âmbito da concorrência corporativa do que o traço vermelho na apresentação em Power Point (outra grande invenção dos nerds) dos presidentes de multinacionais indicando baixa nos lucros.
Tudo está no método e no fim. Enquanto temos bonzinhos trabalhando para criar os móveis que permeiam a escola, que educa pessoas que trabalharão como faxineiros em um banco ou que serão cientistas a tentar salvar o mundo com pesquisas financiadas por mega empresários sobre a cura da Aids, temos mauzinhos operando na surdina para incitar o vício em heroína do músico famoso, que dividirá a agulha infectada com um outro pobre coitado que tem diabetes e compra medicamentos da Pfizer, remédios que outro misturará no Johnny Walker para dar um barato e fumar tranquilo um cigarro. Em tudo há o leve e o pesado, o lá e cá, o céu e a terra, o forte e o fraco, o bonito e o feio, o dentro e o fora, o Yin, o Yang, a água, o fogo, o bem-aventurado e o desgraçado, o crsitalino e o opaco, o "certo" e o "errado".
William Bonner: Novos ataques do PCC aterrorizam São Paulo e levam caos à cidade que nunca pára.
Fátima Bernardes: Novo iPhone revoluciona mundo das telecomunicações e coloca Apple na vanguarda da tecnologia.
William Bonner: Nova vítima de bala perdida no Rio de Janeiro é a sétima em uma semana.
Fátima Bernardes: Novidade no Japão: camisinha que fala é a nova onda entre os jovens na terra do sol nascente.
Homer Simpson: Ãhn?
E a gente fica encucado vendo os políticos falarem que vão dar um jeito na violência. A violência! Mas há muito mais gente interessada em sua continuidade do que pode imaginar nossa ingênua telespectadoridade. Ela movimenta uma indústria muito mais poderosa do que aquelas que têm seu sucesso comunicado pela sorridente Fátima Bernardes enquanto o motorista de ônibus come arroz com farinha. O crime, comunicado diariamente pelo viril William Bonner enquanto a dona-de-casa passa roupa, sustenta com conexões muito sutis, porém sólidas, entre os heróis e os vilões da sociedade capitalista, toda a "realidade" de progresso, evolução, riqueza e bem-estar que estamos acostumados a almejar em nossas vidinhas trabalhadoras e trabalhadeiras, com os olhinhos brilhando de emoção ao comprar um celular novo. Todo branco tem um preto e o equilíbrio desta nossa casa moderna, maravilhosa e iluminada, é um porão nojento, frio e escuro.
A mesma grana que nos mata cruelmente nos enche de gozo empanturrado todos os dias, criando ligações sinápticas entre o mundo e o submundo. O dinheiro sujo é limpo pelo limpo, que depois é sujado. Mas pode ser que esse equilíbrio esteja apresentando sintomas pendentes ou balançantes de destempero e exagero. A violência é produto e produção, assim como é produzida a vida tranquila que produz consumo. Da próxima vez que ler sobre o mais novo bom moço.com e o vir com penteado impecável na foto, pense que, por trás das lentes, ele pode estar apertando a mão do mais antigo escroto.br, piolhento e seboso, para que tudo fique nos conformes e a roda gire... pelo menos durante o tempo que durar seu impulso. No momento em que ela começar a parar e alguém girar para o outro lado, pode ser que nosso universo.org comece a degringolar, gerando o caos da próxima revolução, que vai virar a mesa e trazer novo balanço à gostosura da vida em sociedade. Mas eu adoro o Bloco de notas.
Ouvindo: A Tribe Called Quest - Electric Relaxation. Nesse vídeo abaixo vocês podem perceber que eu gosto sim de hip hop. Talvez este ótimo som vos lembre de repudiar 50 Cent e coisas do gênero quando ouvirem da próxima vez. O hip hop já existiu.
Um comentário:
Pode crê!
Eis o equilibrio da vida criada por nós, os tão desequilibrados seres humanos.
Toda a criação, seja ela quem, oquê, ou qual for, só é boa ou má dependendo do seu uso, do seu entendimento, do jeito que nós queremos enxergar, da perspectiva que nós nos sujeitamos a ver.
Nós também somos uma criação... uma constante criação. Mais qual criação? Feitos por quem? Usados por quem? Lidos e interpretados por quem e de qual forma?
Afinal... nós somos a dualidade de um sistema operacional ou a singela benevolência prática do Bloco de notas do Allan Zi? Somos a notícia que acalma corações ou a notícia que alerta mentes alertas? Somos a sensação agradável que cativa ou a sensação agradável que aprisiona?
Enfim... podemos ser tudo e podemos ser nada... mais seja lá o que for... sejamos verdadeiros!!!
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