A palavra se enche, se esvazia e se reenche de significado com grande velocidade e banalidade, até o momento em que é petrificada pelo pensamento estático, preguiçoso, embotado, cansado de nunca ser.
Na mesma medida, por exemplo, a cidade cresce e seu nome perde importância: você não pensa em Rio de Janeiro, mas em tudo o que sabe sobre o lugar que deu sentido à frase.
O mesmo acontece com o amor, infestado de nossos traumas e alegrias, portador dessa soberba horrível que temos ao achar conhecê-lo.
E assim é com o mundo, que violentamos a todo momento por taxá-lo negativamente sem sabê-lo, julgando-o meramente a partir de nossa curtíssima experiência nele.
Chega desse movimento gasto e revoltado que revoluciona a revolução, que reage à reação, que guerreia contra a guerra, que parou de perguntar porquês e passou a afirmá-los com raivosa convicção.
Chega de autocrítica hipócrita, que busca ferir o outro pela autoflagelação, quando "ai de mim" é "ai de vós", sendo sempre santa a lamúria e blasfema a redenção.
Quero anular essa distância abissal de observação dos fatos e perder por completo a habilidade de diferenciá-los de mim, de você, de nós e de tudo.
Quero redescobrir as coisas, não sem antes ver derreter delas esse manto ceroso de preconceitos e encontrar as palavras em momento de pré-concepção.
E que assim permaneçam, nunca ditas, numa sofreguidão alerta, nessa ânsia de palavra consciente dela mesma, estado único em que ela pode ser-se.
Esse é o poema que eu não escrevi, e nada superará sua beleza.
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Não sou ladrão de fotos, o crédito é deste rapaz, cuja página de fotos pode ser acessada clicando-se neste link ou sobre a imagem.
Enquanto eu não tomo vergonha na cara, baixe: AllanZi - Perdão (Rapidshare)
2 comentários:
Liberdade!
... mas oquê será isso?
Por quais caminhos cheguei até aqui? Queria o mesmo percurso, no sentido inverso. Quem sabe?
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