Não há templo estufa ou bálsamo que conserve a fugacidade da paixão Há algo por baixo, porém que vem à tona se temos força e alma pra buscar Um amor enraizado mais terra firme que céu incerto De sabor picante raiz forte para os paladares mais distintos mais sábios e experimentados naquilo que gra-ti-fi-ca O gosto da eternidade não sedimenta pois se move em sentimento puro do núcleo ao magma vital É dessa quentura que bebo quanto sinto o calor de ter e ser você e eu É esse gêiser ancestral que resiste e nos propele a novas alturas quando pensamos ter chegado ao fundo É esse amor terroso que aprendi ser origem do vermelho da rosa na superfície Destaco essa flor quantas vezes precisar rasgo-me em seus espinhos se assim for, não importa pra te dar repetidas vezes ao infinito Porque agora sei do que se alimenta e prefiro dar de comer ao que somos que perfumar o que podíamos e nunca teríamos sido Amo-te radicalmente
Passar por você quando veste sua carranca é de cortar o coração Sei que a carrego também todos as temos e que a minha presença às vezes é cruel Mas por que carrancamos? O outro nunca vai resolver o problema que é do um E nosso problema essencial é não reconhecer o um no outro (Só abordamos o mundo diferentemente. Por que não podemos respeitar as abordagens e só?) Quando entendermos que não é preciso enviar sinal algum Saberemos que a mensagem já está entranhada em nós Somos um e só há outros para que vejamos no espelho ao mesmo tempo o problema e a solução de tudo
É o que falo quando nosso Pedro, de 4 anos, está correndo e tentando olhar para os lados ou para trás. Porque há precedentes de quedas quando ele corre assim, sem foco. Correr sem foco. E não é que às vezes um conselho simples que você dá ao seu filho volta com tudo e lhe dá um grande tapa na cara? E, calma: longe de mim lançar mão de discursinho corporativo sobre concentração em metas e resultados. Nada disso. Muito mais do que gostaríamos, fazemos isso metaforicamente, na vida. A ordem é apenas seguir em frente, essa ordem muda que nos comanda desde cedo. Então, a gente vai e apenas vai. Isso parece legal, mas não é. E pode ser a origem de muito sofrimento, decepção, descontentamento, depressão. A gente "só vai", mas com mil expectativas não assumidas. Quando batemos na parede da realidade, tudo cai por terra. E o problema não é tanto de não saber o que nos espera. Não sabemos, mesmo. Não tudo, afinal, pois tem uma coisinha que, sim, podemos ter certeza de que vamos encontrar. À frente está o presente. O que se a|present|a diante de nós. Não? E o que mais haveria de haver, na verdade? Quando tentamos avançar sem observar o que esse 'agora' realmente é, caímos. E, veja, a ideia é apenas tentar. Se vamos saber no que o presente consiste, é outra pergunta sem resposta. O esforço sem-esforço de tentar notá-lo já é suficiente, pois nos mantém minimamente no momento atual. O futuro não passa de uma imagem na cabeça. O passado, uma lembrança. Melhor entranhar esse saber já sabido e agir como se o passado não tivesse acontecido ao invés de ficar recordando o que é ido, bom ou mau. Ao invés de correr na direção de algo imaginado, podemos correr sem imaginar nada, cortar o vento do presente, com velocidade total ou com cautela, vai do gosto. Olhar para a frente e viver o presente é a única segurança que podemos ter ao navegarmos por esse pretenso caos da vida/mundo que se desenrola nisso que insistimos em chamar de tempo. Nada disso é fácil. E tentar seguir meu próprio conselho é algo que está em andamento, um trabalho em progresso. Mas é simples: um dia de cada vez, uma parte do dia de cada vez, uma hora por vez, minuto a minuto, se puder. A vida não para de se apresentar. E a gente não pode se furtar de algo tão urgente e novo a cada instante.