Fico ainda a sentir o teu mar em meu corpo que estivera à deriva em tormenta ou marola desenrola-se em mim o suave vaivém da eterna carícia entre a espuma e a areia do afago infinito e elementar de nós dois
No minimundo de uma cultura sempre novíssima, cujos habitantes julgam não cultivá-la, há estranhíssimas auras em torno dos feitos das pessoas que carregam os nomes das pessoas que os carregam seus feitos. E eu aspiro mundar-me, mas submundo-me ainda, não sabendo ser sorte a minha periférica frustração.
Hoje todo cada um (serumano, pessôua) é uma marca, com seu (meu) logotipo estampado nos megamultimeios internéticos afora, com sua (minha) música tocando em autocadores virtuais etéreos, e a minha (sua!) frasE-E de EFEIT.O, exibida repetidatidarepemente à exaustão da exaustão ocular/cerebral alheia/própria.
Queremos ir, estamos chegando, mascarados como nunca, em mil camadas fotoxópicas, numa festa sílica chip de gente, no zumzumzum de tumtumtum organelétrico, sem saber se ainda tem algum no corpo. Mas não há escapatória quando se é um diplomácrita... Inventa uma desculpa e sai, e mente. Entre e minta-se em casa, fique.
Aparando-se as arestas de uma outra bobajada múndica, a de nossos pais e mestres, revolvemos revolutos nada novo, vã guarda-pó e colixonadora. E a última desilusão será a que me desarmará para sempre, e desarmar-te-á também, arte, numa rendição completa de nossa condição egotríptica de pensar o mundo pensado, não-mundo.
Vivo para dar forma ao ar que me circunda e deformá-lo com um movimento irrefletido de mim deixando, às vezes, sem função a luz que me vê mas no esforço constante de olhá-la
E você procura um certo momento memorável numa angústia futurista fiel ao que virá
Qual desses sou eu?
Escrevo com toda certeza essa dúvida para que pertença ao passado e saiba disso pra sempre
Ao passo que fui na frente dizer ao ar do presente e à luz desse espaço que me vejam ser formado e sumir de reflexo antes que tarde seja
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AllanZi - Never Dream (Lounge)(Test) - clique com o botão direito e escolha 'Salvar link como...', ou 'Salvar destino como...' para baixar. Agora armazenados para toda a eternidade em um lugar virtual desconhecido, os links não mais perder-se-ão. Será assim a partir de hoje! E em breve testarei o player embutido desta maravilha tecnológica, acoplável ao blog. Aguarde, pessoa que não leu o que está escrito, o futuro se aproxima!
P.S.: Crédito da imagem: Rosana Ferreira (clique sobre para ir a seu perfil no Flicker).
Quando criança, subir em árvores, aranhar-me entre os umbrais e trepar em brinquedos metálicos eram maneiras de superar a pequeneza infantil, almejar alturas espirituais pelo meio físico, aspirar lembrar-me, lá em cima, da verdade ainda fresca numa memória tão vasta. Mas essa pequeneza cresceu, com o tempo e a experiência, e hoje não há arranha-céu, viagem aérea ou espacial que a vença - sou homem, como todos, que deseja ser mais do que é e se torna inferior ao que sente.
A palavra se enche, se esvazia e se reenche de significado com grande velocidade e banalidade, até o momento em que é petrificada pelo pensamento estático, preguiçoso, embotado, cansado de nunca ser.
Na mesma medida, por exemplo, a cidade cresce e seu nome perde importância: você não pensa em Rio de Janeiro, mas em tudo o que sabe sobre o lugar que deu sentido à frase.
O mesmo acontece com o amor, infestado de nossos traumas e alegrias, portador dessa soberba horrível que temos ao achar conhecê-lo.
E assim é com o mundo, que violentamos a todo momento por taxá-lo negativamente sem sabê-lo, julgando-o meramente a partir de nossa curtíssima experiência nele.
Chega desse movimento gasto e revoltado que revoluciona a revolução, que reage à reação, que guerreia contra a guerra, que parou de perguntar porquês e passou a afirmá-los com raivosa convicção.
Chega de autocrítica hipócrita, que busca ferir o outro pela autoflagelação, quando "ai de mim" é "ai de vós", sendo sempre santa a lamúria e blasfema a redenção.
Quero anular essa distância abissal de observação dos fatos e perder por completo a habilidade de diferenciá-los de mim, de você, de nós e de tudo.
Quero redescobrir as coisas, não sem antes ver derreter delas esse manto ceroso de preconceitos e encontrar as palavras em momento de pré-concepção.
E que assim permaneçam, nunca ditas, numa sofreguidão alerta, nessa ânsia de palavra consciente dela mesma, estado único em que ela pode ser-se.
Esse é o poema que eu não escrevi, e nada superará sua beleza.
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Não sou ladrão de fotos, o crédito é deste rapaz, cuja página de fotos pode ser acessada clicando-se neste link ou sobre a imagem.
Empresa de esforço empreendido só se aprende a prender
E por que ninguém pergunta porque ninguém pergunta por quê?
A miríade insentida de sentidos sincera e sensata inexata, descartada
E nessa vida inovada o imperativo é automático sem saída e censura
Mas lhe parece óbvio que me parece claro que nos parece certo que desaparecerá
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A partir do próximo post tomarei vergonha na cara e não mais farei links para o rapidshare. Vou criar uma conta no internet archive, e haverá outra maneira de acessar meus mp3. Por enquanto, esse é baixável -> AllanZi - Corinthians.mp3 (Rapidshare)
Tenho negligenciado este blog deveras e hoje o farei novamente, porém, com uma postagem. Possuo um daqueles cadernos, sim, um caderno, de papel, com linhas impressas e uma espiral metálica, em que anoto certas digestões intelectuais/espirituais nos momentos mais criticamente tediosos e irritantes de determinados dias, quando existe a necessidade de autocontrole para que não se transforme em autoflagelo. Visto que a incidência destas circunstâncias é grande, como provavelmente o é para todos os "trabalhadores honestos" deste mundo, há bastante material... A qualidade é duvidosa, mas fingirei que a justificativa da publicação é estudar a mente criativa nessas situações. Portanto, finjamos ser esta uma investigação conjunta, em partes, e a primeira:
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Prefiro a viagem à chegada e ainda que o momento de chegar houvesse eu o atravessaria mas não há pois viajo
São todos tão seguros e tão sábios em sua ignorância assegurados pela sapiência da ignorância alheia
Sou meu próprio deus maligno e a causa de tudo sou eu ainda que professe a fé de outrem serei eu a professá-la cale-se, por favor
O medo é o fruto do passado em relação ao futuro assim como tudo no presente não há medo e o presente é liberdade assim como nada
As pessoas estão sempre em contagem regressiva sem nunca regressar da contagem e se perdem sem perder-se pois faltará sempre um falta um, não dois
E ver o reflexo de um relfexo que se oculta na opacidade de um meio o ar, o éter, o vácuo, talvez mas sempre um espaço observado e observador
Na extensão da ação um frio, um vazio pois intencionada, simplesmente sem interior, só razão ou nem isso e os extremos se esticam na reta e na queda parábola que vira círculo que vira cárcere que exclui o bom externa o mau
Na percepção do movimento está a soma e a subtração a simultaneidade do sim do saber e do ser onde o será não foi quando foi não será e o medo não está nem seria
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Clipe novo do Radiohead. Bem "prafrentex", como costuma ser com esses rapazes. "Filmado" sem câmeras, apenas com scanners a laser... O primero videoclipe "escaneado"?
O cão não é humano mas é urbano e late para o entregador de jornais
Não se trata mais de sapiência natural ou fisiológica Quando muito obediência à lei de pedra dessa selva louca de pedra e cão que latu não logos mas nunca perde um ladrar
O entregador, por sua vez cumpre função passiva de ser entregue ao destino de ser latido por ele de ser ouvido pro uivo de ser uivado pro mundo aos primeiros raios de sol
Empilho dia em dia até obter bom estoque para pagar as moedas que me custam o dia-a-dia e a vida de quem morre mas discutem se ela vale esse tanto esse tanto?
Mato todos, mato todos ele diz Uma arma na mão e a outra no bolso outra mão mais um crime e acredita não saber disso o porquê
Por que mãos sempre separadas uma aqui outra ali não unidas numa prece derradeira?
Se lamentam, sei lá, amém Tão se lá mentem, não sei Lentamente vão-se além violentam-se de amor mas se alentam: "c'est la vie"
Não é só mais um título "espertinho". O apego que temos pelo ego está lentamente nos levando à ruína e tornando ilegítimos quaisquer esforços sinceros de luta pró-minorias e/ou coletividades. Enquanto dermos mais importância a esse títere que inventamos, boneco de ventríloquo que animamos e ao qual damos voz, faremos justamente a vontade de uma força descomunal que nos encaminha aos empurrões para um progresso vazio, uma cultura com o ego no centro do quadro, objeto de culto, motor da alienação plena. Grupos são compostos por indivíduos, e é sobre a individualidade orgulhosa que tripudiam centenas de tipos de fazedores de dinheiro. O feminismo, para citar só um exemplo, que pode ter nascido de um genuíno impulso libertário de mulheres cheias de indignação e coragem, ao ser comprado, processado e vendido mais caro (é o que o capitalismo faz), tornou-se a imposição de um estilo de vida estupidamente masculino ao "universo feminino", resumindo a realização do desejo de liberdade e igualdade ao uso de blêiseres chiques em cargos executivos por parte de mulheres com voz imperativa, não necessariamente ativa, que imitam o que de pior há no comportamento machista dos homens de negócios. Uns poderiam argumentar que a mulher faz negócios à sua maneira, mas só o fato de fazê-los é em si uma repetição imposta, visto que, uma vez livre do servilismo, a mesma mulher tem potencial para dar uma infinidade de contruibuições ao mundo e à humanidade. O feminismo virou, portanto, um fetiche propagado e vendido como idéia, alimento egoísta. É o que o capitalismo faz.
Mas a idéia não se aplica apenas às chamadas minorias, sendo estas meros artifícios para agrupar os que antes ficavam propositalmente de fora do sistema, atuando em sua periferia para suprir algumas de suas necessidades básicas, mas sem usufruir de seus produtos ilusórios - agora eles foram propositalmente incluídos para aumentar o consumo. Não. Cotidianamente todos estamos envolvidos num grande jogo de brincar de ser aquilo que já se brinca de ser. Em outras palavras, os patrões em geral já brincam de chefiar, ditando as regras iniciais do jogo, visto que eles apenas representam, como um ator faz com seu personagem, e geram o modelo a ser reproduzido. Os subordinados, por sua vez, brincam de brincar de tentar serem chefes, desenvolvendo suas peças no tabuleiro de acordo com as regras iniciais, até que também as possam ditar a outros. E tudo passa por verdade. Mas nesse mundo de faz-de-conta, as regras iniciais revelam-se outra cópia, e na busca pelos criadores das regras originais, a pessoa comum perde-se num emaranhado incrivelmente extenso, mas finito. Porém, quanto mais se luta, mais se deixa enrolar na teia de uma aranha invisível, ou melhor, oculta, pois o invisível é algo de que procuraremos tratar mais tarde. São, na verdade, milhões de teias diversas cruzando umas com as outras, coisas vendidas como globalização, aldeia global, etc., que não passam de aranhas intercambiando os frutos das capturas de suas teias. Menos que ocultas, as aranhas são de fato enormes; nós, os insetos, é que estamos perto demais para vê-las em sua totalidade.
Sob essa mesma metáfora poder-se-ía incluir mais um aspecto, o mais importante, o único positivo, e que deveria ser o único, ponto final: a invisibilidade da consciência. Cheguei a considerar o uso da palavra "deus"; pensei na palavra "todo"; cogitei a palavra "um" - amém, amém, amém. O que não vemos, ou procuramos não ver, é o algo, ou nada, o onde, ou lugar nenhum, que origina e encerra tudo. É o que está por trás de todas as mentiras, pois as verdades assumidas nesse grande jogo supracitado não passam de mentiras, enquanto nenhuma é a verdade. Isso pode causar controvérsia entre alguns não-leitores, mas é curioso como em tantos anos de ódio pelas religiões, em geral, acabo agora repetindo essa máxima, motivo máximo de minha raiva que não existe mais. Aprendemos certos e errados que estão ambos errados, pois foram criados além da criação. Um mundo de certezas baseadas em nada, ou antes fossem, pois são assentadas em reflexos, imagens vagas, experiências incertas. Universo de signos, símbolos, caracteres, formas que se auto-imitam há tempos, mas querem dizer sempre as mesmas coisas. Acontece que se, por um lado, a idéia de unicidade ou verdade única é utilizada como instrumento de opressão e controle indevidamente pela maioria de auto-proclamados líderes espirituais, e isso obviamente deve ser repudiado, por outro, num uso livre, espontâneo e positivo, é apenas a constatação pacífica, feliz e plena de uma realidade natural interior, que tentamos inutilmente negar. Vivemos, debatemo-nos e estrebuchamo-nos na busca de soluções para um jogo que inventamos e não tem solução. Nadamos contra uma corrente branda que nos convida, há milênios, a navegar tranqüilos. Tudo em favor de um ego que, longe de nos representar ou espelhar, escraviza-nos, e nos faz guerrear em vão com um "eu" invisível e verdadeiro, que precisa ser percebido, simplesmente. Se entendermos que certo e errado são só pedaços do caminho que todos precisamos trilhar, veríamos que fazer o certo não é obedecer e impor ordens, mas deixar que sua natureza mais essencial siga seu curso, ao invés de criar empecilhos artificiais, atrasos que só ferem o nosso próprio desenvolvimento como seres.
Portanto, nada do que foi criticado na parte inicial do texto tem importância. Não é algo bom, mas não afeta em absolutamente nenhum grau àqueles que crêem com todas as suas forças no fato de sermos parte de algo muito maior, fora do alcance desses joguetes. Não é motivo para este blogueiro inexistente parar de denunciar seus testemunhos oculares: afinal, se sinto-me "semi-desperto", sinto-me, também, na obrigação de transmitir todas essas impressões a quem está por despertar brevemente. Mas não me impede também de mostrar que há outro lado, e que, sendo assim, não há o que temer. Esse processo de abertura da percepção é demorado e requer paciência, mas é sem dúvida muito mais gratificante do que nossa corrida diária rumo ao mesmo lugar. Não quero ser radical, não gosto de ser radical. É claro que nossa ciência evoluiu, ou pelo menos agigantou-se, excedeu seus próprios limites e passou a abarcar detalhes antes ignorados, não explicados, não traduzidos à tal da linguagem... Mas será isso 'tudo'? Estaremos simplesmente 'escrevendo' o mundo, e para quê? Será que com isso não estamos somente limitando um espaço que pode ser muito mais vasto? E se tudo isso soa estranho vindo de alguém considerado cético por outros, basta saber que não cheguei a essas perguntas e conclusões por um raciocínio cartesiano, lógico, exato, tampouco graças a uma "revelação", dessas que costumam falar os envangelizadores televisivos. É uma percepção perfeitamente acessível a todos, e para que isso aconteça é necessário se permitir, por alguns segundos da vida, deixar de lado as preocupações, paranóias e sofrimentos voluntários. Alguns segundos. Num mundo em que um motorista mal perde dois segundos para que você, pedestre, possa atravessar a rua, isso parece difícil. Mas não é. E ao fazermos isso, podemos entender, finalmente, que não sabemos quem somos. Se você pensa ser reações químicas, sinapses e descargas elétricas dentro de um cérebro, não há problema. Só não vá entrar em curto pensando como sua mente consegue fazer isso, e você sabe que sabe que faz. Somos nada, e não há o que temer.
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Trecho de Music for a Large Ensemble, de Steve Reich (só audio, e é só o que precisa):
Começando com máximas, mas não frases prontas, para foder com a cabeça e encher o saco do leitor inexistente aqui materializado diante do texto, logo de cara: a verdade é só um momento do falso, nossa realidade é inventada para nos domesticar, você não controla sua própria vida, você não é mais que um público-alvo ou consumidor, etc... Já falei bastante disso aqui nesse blog e minha intenção é apenas criar um primeiro parágrafo que dê sustentação ao segundo, por paradoxal que pareça, mas é preciso ter um ponto de partida. Neste caso, é um ataque verbal ao capitalismo e o jeito como ele entorpece nossos sentidos substituindo o que poderíamos chamar de realidade por uma fictícia, mas que levamos absolutamente ao pé da letra.
Essa própria crítica, o pensamento que expresso aqui em palavras, faz parte de uma realidade terceira, algo isolado dentro de nossas mentes, e pode causar meramente uma reação contemplativa a um mundo físico e virtual imutável. Assim é se acreditamos não poder mudá-lo, e assim é. O buraco negro que tudo banaliza, atenua e transforma em aceitável, e que tem a finalidade de fazer-nos crer serem válidos os atos humanos mais terríveis em prol do lucro, é para onde esse texto irá dentro de sua mente ao final da leitura, ou pouco depois dela, e é para essas mesmas trevas cerebrais que vai nossa capacidade de resistência, de surpresa, de fúria, de compaixão, de ação e não-ação. A mesma passividade com que enxergamos algo ruim é a que usamos para algo bom dentro de nosso julgamento, dada a completa falta de responsabilidade que pensamos ter em relação ao curso dos eventos, um distanciamento total de causa e efeito, e assim permitimos que nosso cotidiano seja construído da maneira que melhor aprouver seus engenheiros.
Esses engenheiros, que fazem a manutenção desse modo de "vida", são ninguém menos que os homens que detêm mais riqueza material acumulada, essa riqueza retirada da Terra para virar dinheiro, que, muito esperta, mas não inteligentemente, nos escraviza em torno da ilusão de seu ganho como recompensa pelo trabalho, como fim de nossos meios, modo de sobrevivência ou mesmo possibilidade de realização de sonhos, felicidade. Na condição de seus ajudantes, nós, a classe média incrivelmente dependente das migalhas desses acumuladores, que são como larvas purulentamente brancas a engordar, tratamos então de cuidar dos detalhes mais precisos e técnicos dessa manutenção, ocupando-nos com burocracias que se tornaram tediosas demais aos ricos, e cumprimos com rigor religioso, pensando estarmos enobrecendo nossas almas com trabalho. Ajudamos o mundo a se desenvolver, mas não fazemos a menor idéia do que esse desenvolvimento é ou representa.
A ilusão de desenvolvimento pode ser notada na percepção do homem comum em relação ao avanço tecnológico na arquitetura, por exemplo, em que um prédio "mais moderno", isto é, feito de modo tecnicamente diferente da maioria dos edifícios, com forma e aparência renovadas, já basta como justificação para um sem número de barbaridades presenciadas todos os dias nas metrópoles. A "evolução" é necessária, custe o que custar, mesmo que a própria seja uma representação, um fenômeno visual, talvez estético, mas sem dúvida uma miragem. Outra tarefa, menos burocrática do que estratégica, é a de divulgar os benefícios desse desenvolvimento e, principalmente, a necessidade de seguirmos ordens e padrões de comportamento, e entram em cena os propagadores de imagens e miragens, a mídia. Não bastasse o mundo que moldamos fisicamente ser em si um palco para espetáculos de ilusionismo, temos ainda meios de fazer um espetáculo que transmite esses espetáculos diariamente, para não nos esquecermos, nem no mundo virtual, imagético e imaginário, da realidade inventada. Ou seja, a imagem da imagem da imagem, até que percamos totalmente de vista o que éramos, como éramos e onde éramos.
No tocante ao avanço infra-estrutural e prático promovido pela humanidade, a ilusão é diferente unicamente na questão do tempo. Só vai durar enquanto as conseqüências dessa comodidade tecnocrata estiverem escondidas e/ou maquiadas, sendo já esse disfarce muito difícil, imaginemos em alguns anos. Isto quer dizer apenas que se, por um lado, hoje temos medicamentos para quase todo tipo de enfermidade (inclusive para estresse!), aparelhos que aquecem alimentos ao toque de um botão, tocadores eletrônicos de música e água encanada para levar de nós as impurezas, para citar algumas das maravilhas de nosso estágio evolutivo altíssimo, de outro lado está o exato oposto excremento dessa produção a preencher espaços elementares: água, ar e terra, e essa inominável massa de sujeira que nem o fogo pode mais combater. Assim como pensamos ter-nos livrado do lixo ao colocarmos um saco plástico cheio dele no meio-fio da rua, achamos que o subproduto oriundo do ridículo excesso de produtos que criamos apenas para manter uma economia fantasiosa funcionando, vai desaparecer. O mundo é o lixo, inclusive humano, de subclasses, subempregos e sub-raças, que permeiam os lugares mais afastados dos pólos de riqueza e limpeza.
Mas o surpreendente é que esse cenário aterrador e a vida diária pacífica e inerte PODEM coexistir. Não é preciso ir muito longe: o morador de São Paulo, ainda que se incomode ligeiramente com o cheiro, já se acostumou com a poluição dos rios que margeiam suas principais vias automotivas. Ou seria o contrário? Enfim, aquele lugar comprido onde gostamos de ficar parados por horas com nossos dínamos metálicos, confortáveis e possantes. O importante aqui é dizer que a convivência tranqüila entre mais o absurdo dos absurdos e o feliz contentamento do "cidadão" metropolitano reforça a idéia de alienação que foi o lampejo inicial para a criação desse texto, e contradiz o começo do parágrafo imediatamente anterior a este: a ilusão não é mais dissolvida por fatos que provam sua existência. E contradiz também o final: o lixo ESTÁ no mesmo lugar onde se produz e consome a riqueza, e a distinção ficou apenas num plano imaginário, um bloqueio mental sem precedentes na história da psicologia e quiçá da psicanálise (?), mas não estamos tratando de uma patologia e sim de um sistema ordenado e racional de se sustentar, pensar e se relacionar, não?
Se o tempo já não dá conta e as pontas se uniram, como o Ourobóros, cujo sentido ouso aqui perverter, o que pretendo eu aqui fazer? Encontrar uma solução? Fazer perguntas tolas que se auto-anulam? Sim. Talvez meu apelo atinja em cheio alguém anestesiado pela corrida circular supersônica que premia os que mais correm e menos sabem por que estão correndo, que parou um segundo para amarrar o cadarço do sapato... Pode ser cômodo de minha parte assumir que meu papel é falar. É fácil... Pois falar é fazer, semanticamente falando, não nos termos publicitários, em que fazer é comprar um celular e falar com ele, não com outras pessoas. Pois preferi simplificar minhas escolhas e com isso meus desejos, e com isso meu consumo, e com isso meu desgaste, e com isso meu futuro, e com isso minha vida. Não estou falando de mim, mas de qualquer um que ainda tenha a capacidade e a sensibilidade para tentar uma mudança. Escolhi falar tudo isso a você, e é só o que quero, e é por isso que caminho, não corro. Por que você corre? Porque quer mais? O tanto que você quer deve ser então medida para o quanto você aceita... E tomara que aceite-se responsável pelo quanto você quer.
A vontade que eu tenho é de mudar o mundo dentro da cabeça das pessoas, sejam elas quantas forem, não por uma vaidade minha, mas por um mero senso de justiça: todos devem ter ao menos a chance de pensar diferente uma vez na vida; e a arte serve, entre muitas coisas, para fazer cair o véu do mundo-máquina em que vivemos e mostrar suas engrenagens, ou ao menos emaranhar seu próprio véu com este, dando outra cor ou nuance àquilo que se vê através. Assim como é possível pichar o anúncio de um produto qualquer exposto na cidade, também se pode bagunçar mensagens grudadas em cérebros já tão bombardeados por propagandas, que compõem uma realidade pronta, objetiva, com a utilidade única de manter as coisas como estão: nós nascemos, trabalhamos, compramos, reproduzimo-nos e morremos. É para mostrar que há diversas dimensões a serem exploradas dentro deste período chamado vida que a arte serve, uma contribuição perceptiva de um ser a outro, algo que se passa adiante como um achado inestimável. "Olha só o que eu descobri, o que você acha?", talvez seja o início do simples, até simplório diálogo que a arte, ou melhor, o artista, quer travar. Muitos tentam, mas discutir a arte em patamares de extrema complexidade científica só faz afastá-la de quem poderia realmente ter acesso a ela, gostar, beneficiar-se dela. Não é que todos os estudos "sérios" a respeito sejam pura masturbação acadêmica, embora muitos o sejam, assim como este aqui é um onanimso não-acadêmico burguês-digital, mas o agente da arte, a pessoa que a descobre ou cria pode ser qualquer um, e aí é que está... Não é preciso ser doutor, rico, pobre, sonhador, hippie, yuppie... Todos podem destacar da realidade um aspecto novo, ou mesmo repetido, mas apresentado de maneira íntima, pessoal, escancarada, tímida, grotesca, bela, apavorante, apaixonante, triste, dolorosa, superficial, clara, escura, violenta, sangrenta, pacífica, desastrosa, fenomenal... É tudo o que pode alterar o olhar e conectá-lo ao sentimento, algo que é de fato uma revolução em tempo de completa banalidade e indiferença, quando ou não se sente nada em relação a nada, ou sente-se exatamente o que se está programado para sentir. Eu gosto de gostar da arte com reserva e assim o faço ao fazê-la, quando acho que a faço, e quero achar. Arte é toda obra que nos propomos a executar, mas faço um único porém: não é tudo o que obramos.
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P.S.: O post abaixo está se sentindo tão solitário...
Aceita a sorte a presenteia e força a bênção corpo adentro
Expele um milagre
Não queira ser minha amei-te operária abelha rainha
A dor não é minha terá sua cara abelha rainha
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Aos meus caros desleitores, informo que farei o possível para encontrar novo site hospedeiro de arquivos para continuar a compartilhá-los convosco, visto que o Rapidshare mostrou-se rápido também em apagar o que eu ponho lá, conforme o tempo passa. Na pior das hipóteses, renovarei certos arquivos transmitidos por este blog que hoje encontram-se "caducos". Enquanto isso, para acesso imediato, aqui vai uma música de Smoke City, agradável e tranqüila surpresa aos ouvidos: Numbers - Interlude No. 1. Em seguida, algo das minhas próprias e humildes experimentações eletrônicas: Ask Frequently.
Não tenho nem tive muitos amigos "revolucionários", aqueles que estão afim de mudar o mundo e essa balela toda. Dos poucos que tive, hoje são todos bastante críticos de seus próprios discursos anteriores, pois agora acreditam ser necessário aceitar o capitalismo como o único sistema econômico possível e que o mesmo permite a democracia como organização política e social. Bom para eles, não é mesmo? Agora que já aprenderam técnicas eficientes de puxar o saco de seus empregadores, com afinco e até algum prazer em averiguar a elasticidade das respectivas bolsas escrotais, é melhor deixar os pensamentos alternativos para amigos perdedores como eu, esses que não se fixam em lugar nenhum, nunca sabem o que querem da vida, dados às artes e outras bobagens afins. Pois quem sabe até alguns desses meus amigos, vencedores no cume da escalada social, já tenham seus próprios negócios e aprenderam a ter gente pendurada em suas partes baixas, e admito que deve ser mais prazeroso - esses não querem nem contato com amigos da minha estirpe, pois vai que a gente pede emprego, e ninguém quer gente chegada num "livre pensamento" trabalhando para si, não é? Só traz problemas.
Não estou destilando ressentimento não, na verdade eu não consigo nem nomear a maioria desses amigos, são só algumas sombras distantes... Dá uma ligeira tristeza por estar sozinho, apenas, ter sido aos poucos "abandonado", de certa forma. E não é essa solidão globalizada que está na moda por aí não, individualidade ouvindo iPod ou falando com um celular que te responde, você nem precisar ligar para ninguém... é um sentimento de SOLIDÃO por ainda não estar tão entorpecido a ponto de não enxergar mais a maneira como as pessoas se tratam por causa do dinheiro. Aqueles mesmos caras cujas histórias lemos em livros ou vemos na televisão, que guardaram centavinho por centavinho, começaram de baixo, de office-boys, e hoje são multi-milionários, vão ver como tratam seus funcionários... saiu da linha, rua. Aliás, eles têm outras empresas terceirizadas só para fazer isso, não é preciso mais cansar o músculo do próprio dedo para apontá-lo à porta. É a lei da selva moderna, ora, eu já devia estar acostumado... Mas o problema é que não estou, e toda vez que vejo alguém se humilhar em troca de migalhas, penso que o nojo que a maioria das pessoas tem pelos mendigos é em si um auto-asco, pois lembra o quanto nos curvamos diariamente, de mão estendida, servilmente, esperando o tilintar de um par de dobrões.
Os meus ex-amigos devem estar orgulhosos de serem agora homens/mulheres feitos(as), deixaram para trás essas preocupações histéricas e infantis, o lance é se garantir e acabou. Mas penso que a gradual aceitação do statu quo não é exatamente o processo natural de transformação de adolescente em adulto, mas a vitória gradual, no entanto certa, dos defensores ocultos desse mesmo estado imutável das coisas. Esse defensor é oculto não porque trata-se de um membro d'alguma sociedade secreta (nada impede que o seja) ou influenciador político, como integrante de máfias ou grupos corporativos obscuros, não necessariamente... Esse defensor é o seu próximo, é você mesmo, é seu familiar, seu amigo, o ator da televisão, o cobrador de ônibus, por isso ele se funde à massa e passa a ser um agente interno, quase sempre foi. Tudo isso a um ponto que poderíamos chamar essa defesa ferrenha e eficaz do capitalismo de epidemia, uma brilhantemente desenhada, mas desenvolvida aos poucos, conforme os eventos mundiais foram tomando lugar na história, os conflitos viraram história, as atrocidades também, e nossas mentes absorveram uma onda de banalização que talvez tenha sido promovida pela ilusão de riqueza que se teve e se tem hoje. Dessa maneira, tudo se justifica pela aquisição de bens materiais, pela geração de lucro, o que é em sua raiz a exploração e apoderação sem limites dos recursos naturais do planeta.
Em nossa realidade, o dinheiro é apenas o símbolo de algo que devemos conquistar, mas na verdade já temos absolutamente tudo o que o dinheiro jamais gerado em toda a história da humanidade poderia comprar. Porém, a idéia é justamente manter essa ilusão viva, enquanto a lógica da competição, ou concorrência, permeia todas as esferas das relações humanas e mesmo do homem com seu meio, pois seria muito ingênuo imaginar que a disputa incentivada pelo livre mercado para controlar a economia mundial reservar-se-ía à esfera dos negócios... Ela se difunde entre os seres humanos de tal forma que o comportamento violentamente competitivo no local de trabalho, na rua, na escola, nos estabelecimentos em geral, no lar, torna-se normal aos nossos olhos, quando a verdade é que estamos institucionalizando o que há de pior na espécie. Podemos, em vez disso, trabalhar outros aspectos que nos são igualmente inerentes, como a cooperação, a comunicação, o trabalho conjunto, tudo o que pode viabilizar a criação da(s) verdadeira(s) comunidade(s), palavra hoje desmoralizada pelo "fracasso" do comunismo como Estado (sendo que este nunca existiu de fato), mas uma palavra que na verdade significa a união pelo que nos é comum, comunhão, concordância, concerto... harmonia.
É igualmente fácil aceitar apenas a idéia de que nossos instintos violentos falam mais alto e mesmo que conseguíssemos construir uma sociedade igualitária ela seria rapidamente suprimida pela sanha de poder "natural" que temos. Ora, pensando assim, o conjunto de instintos que devemos controlar diariamente para manter a sociedade capitalista funcionando seria inviável, impossível, ridículo, impensável, e não obstante o fazemos: obedecemos a regras, não são todos que o fazem, mas certamente uma grande parte, e principalmente as regras que comprovadamente evitam problemas graves da vida em sociedade, do rápido progresso tecnlógico, da organização do trabalho, da distribuição de renda, dos transportes, etc. Convivemos com tudo isso criando soluções inteligentes, e então por que razão não poderíamos desenvolver aos poucos um novo conjunto de regras que nos permitiriam viver nessa aparentemente utópica sociedade igualitária, evitando que nossos instintos perfeitamente controláveis impedissem seu desmantelamento, impedissem o surgimento de autoridades psicopatas, de ganância opulenta, de preconceito, de violência, escravidão, e todos os males que aprendemos a acreditar fazerem parte da "normalidade"? Infelizmente, meus amigos agora chefes continuam colocando mais combustível nessa máquina, e se faltar "material humano", eles não hesitariam em mandar alguém me jogar lá. Você também. E toda essa arquitetura destrutiva serve para colocar poder na mão de um punhado de gente.
Portanto, meu apelo aos leitores inexistentes é que tenham discernimento sobre o "mundo de informação" que absorvem. Isso parece maravilhoso, mas a informação acessível a você só o é porque precisam que você deseje comprar, não só produtos, mas estilos de vida, os mesmos estilos de vida que levam ultimamente todos a pensar que subjugar o próximo para ganhar dinheiro é correto, que o valor de um ser humano é definido por suas posses. Desliguem a tevê ao menos durante o comercial! Se puderem fazê-lo durante a novela, melhor ainda, se perceberem que não precisam da tv, perfeito. Não é que a transmissão de imagens via ondas, cabo, fibra ótica seja ruim, mas o conteúdo disso só tem servido para manter funcionando essa "ordem" sangrenta que acabo de descrever, que podemos ver diante de nós todo santo dia! Abram os olhos: isso serve para a grande maioria dos veículos de comunicação... Por favor, aprendam a pensar por conta própria, eu detestaria escrever sobre vocês em alguns anos, criticando-os da mesma forma que agora tenho que fazer com ex-amigos, para esquecer que os tive, pois eles já se esqueceram há tempo.
Ando abatido e deprimido com tudo isso, mas creio ser apenas um processo necessário de desilusão, de convalescência da epidemia de sandices bombardeadas em meu cérebro por 25 anos, processo de desintoxicação, desapego de um vício, reabilitação. Eu não diria que é um despertar pois tenho quase certeza que isso já aconteceu, mas no curso da vida, em uma analogia com a duração de um dia, agora é o momento de sair daquele estado sonolento em que ainda se está esfregando os olhos para ter certeza de que aquilo que vemos é a realidade. É nesse momento que devemos tentar lembrar o que sonhamos.
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Provavelmente ainda revisitarei o tema pois tenho uma porrada de coisas para falar a respeito, filmes e leituras a indicar, algo mais sério e "científico", mas admito estar com certa preguiça agora, apenas joguei aí um desabafo confuso. Aguardem talvez uma parte 2, caros desleitores. Abaixo, vídeo estático, só para ouvir, do sensacional Fela Kuti, cuja referência wiki não vou colocar aqui pois a que encontrei em português é muito ruim. Basta saber que este nigeriano cantava de maneira muito visceral tudo o que quero dizer aqui, mesmo que esse inglês enrolado seja difícil de entender. É um gênio libertador africano, e para compreender basta apreciar a força de sua música, nada mais. "I not be gentleman at all. I be africa man, original".
Nasceu dormindo, num domingo, e quase foi dado por morto, não fosse um pulso fraco, mas pulso, que lhe acometia. Às tantas foi acordado e aquela tal luz a que foi dado parecia a morte, dor pulsante, chorou de raiva, dormiu de susto. Em dado momento da existência infantil, por vezes injusta, ainda que dela, sob nostálgica luz, digam-se doces advérbios e adjetivos temporais, descobriu ser do sol distante aquele brilho, não invenção de seu pai, e de choque pulsaram-lhe as têmporas. Quando se ia, se dormia. Ah, se nos fosse dado mais tempo, morreríamos jovens, ora, não é o desejo geral? Ser jovem por um século e disso padecer, mas padecia o nosso jovem do medo de envelhecer. E assim o fazia, medrando tarde, madrugando cedo da curta e bem quista morte, trabalhava duro a vida, essa vida, talvez dádiva, talvez maldição, acontece que o mundo não lhe deixava escolher, e o impulso padrão era sofrer pela opção positiva, e aprendia a passar o dia a esquecer o dia-a-dia, para ver no fim do próximo, ou do mês, o ouro em seu bolso luzir. Que alegria, será que podia com isso comprar seu sonho dourado, seu prêmio aguardado, seu sono atrasado desde a concepção? Foi saber que não, sossego não tinha, enquanto não obtivesse o objeto mais novo, e subisse na empresa, empreitada, ganhasse respeito, mas subiam-lhe aos montes, nas costas, cabeça, às suas custas, macacos que fazem, faziam, executivos? Vai lá saber. Mas isso era bom, carpe diem, a propaganda dizia, a se apropriar da vigília, forçada, é verdade, do já não tão jovem, pela tática da repetição: um pulso, impulso, dois, latência, retorno, que lucro, que nada, que lástima. No fim desse túnel parecia nem haver centelha, mas no meio ardeu uma chama, quando venceu-o a paixão, e a ânsia de alimentá-la. Haja lenha, mas tempos felizes sem sono, por fim, quem diria, passava. Se empenhava em pulsar prazer e prover, a trazer todo dia pra casa o amor e seus frutos, quando então contraíram saúde e doença, ele e a Lúcia — até que a morte os separasse. Não precisou tanto, bastou convivência e o fogo se foi, por mais que nas brasas se cresse, mas nesse entremeio uns rostinhos brilharam, famintos gritaram, e ensinaram ao desjovem afeto, cuidado, tamanho que sono não havia, que vida, que vidas! Já quando essas graças partiram, à sorte ou azar, motores de igual propulsão, almejou retornar a dormir, relutante e sincero. Dúvida dada, passou a ver mundo enfadado, reclinado, de olhos semicerrados em frente à telinha mortal, destruidora de vistas, lares, globos oculares, irradiando luz e projetando sombras, silhuetas d'alma, sombrias e sós: paredão. E então que esse homem, recebendo o folclórico tapa traseiro tardio, ausente, de início, gritou em silêncio o rebento da idéia final. Havia dormido, o tempo passado, e o sono querido era a paz acordada, vivida a valer, que agora colhia, mesmo sem ser, um luto contente, e no entanto antecipado. Quis treva suave, que o sol falecesse em seu sono, e no dele, pulsando seu fim devagar no horizonte, dormindo, domingo.
Sou rico pro pobre sou pobre pro rico sou médio e sinto uma culpa capital
Eu tenho uma inversa inveja recíproca destes que fogem ao mundo experimental
E partem pra guerra sem saber que acabou e foi o pior que venceu conquistam o pó que restou
Mas lutam! Que beleza louvar a penúria! E ao lado do outro... contemplar o vazio
Tão rico em nada maior seu valor tão pobre em tudo menor é seu preço
E um velho ditado que dá e recebe sem nunca pedir ou oferecer perde o encanto e sucumbe a tudo que é imposto de graça
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Eu e meu caro amigo Meu Nome é Carlos produzimos recentemente uma singela música de 70 minutos, 100% eletrônica, conjuntamente, chamada 001, mas com contribuições ligeiramente mais modestas da minha parte, já que esse mundo ainda é novidade para mim. Acabo de conhecer também esse tal Internet Archive, mas nesse caso é só clicar no retângulo cinza onde está escrito "CLICK TO START", o que explica muita coisa. Interessem-se!